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Amor e sacrifício

Pe. Paulo M. Ramalho

Todos nós já ouvimos dizer que não há amor verdadeiro se não soubermos sacrificar-nos pela pessoa amada. Nesse sentido, gosto muito deste texto que segue abaixo:  

Se observarmos atentamente todas as diferentes conjugações do verbo amar (...) — olhar, compreender, perdoar, corrigir, esperar, carregar, servir, sorrir, dar e dar-se —, veremos que sempre está presente, como ingrediente fundamental, o espírito de sacrifício. Palavras, sentimentos, protestos de amor, entusiasmos, ternuras, sem a decisão de nos sacrificarmos efetivamente pela pessoa amada, são efervescências de adolescente, atitudes sentimentaloides, puro lirismo.

Lembramo-nos com imenso agradecimento do sacrifício que por nós fizeram as pessoas que nos amaram verdadeiramente: os pais, os irmãos, os amigos... Recordamos com emoção esses sacrifícios diários, quando porventura o nosso pai ou a nossa mãe escondiam o seu cansaço e as suas aflições para que não ficássemos tristes, ou escolhiam para si o pior bocado para que a nós coubesse o melhor.


Nessa mesma linha de recordações, lembro-me agora daquela história contada por Urteaga. Fala-nos de dois ciganinhos — dois meninos de favela — maltrapilhos, um deles de cinco anos e o outro de dez. Vemo-los famintos, pedindo comida de porta em porta. Por fim, depois de várias tentativas, conseguem algum alimento. O mais velho sai de uma casa trazendo nas mãos, com ar processional, um pote de leite.


“Aqui começa o diálogo.

— Senta-te. Primeiro bebo eu e depois bebes tu.
Dizia aquilo com ar de imperador. O menorzinho olhava para ele, com os seus dentes brancos, a boca semiaberra, mexendo a ponta da língua.
Eu, como um tolo, contemplava a cena.
Se vísseis o mais velho olhando de viés para o pequenino!
Leva o pote à boca e, fazendo gesto de beber, aperta fortemente os lábios para que por eles não penetre uma só gota de leite. Depois, estendendo o vasilhame, diz ao irmão:
— Agora, é a tua vez. Só um pouco.
E o irmãozinho menor sorve fortemente.
— Agora eu.
Leva o pote já meio vazio à boca, e não bebe.
— Agora tu.
— Agora eu.
— Agora tu.
— Agora eu.

E, depois de três, quatro, cinco, seis goles, o menorzinho de cabelo encaracolado, barrigudinho, com a camisa de fora, esgota o leite. Esses "agora tu", "agora eu" encheram-me os olhos de água.


Sobre um fundo de risos ciganos, comecei a subir a encosta cheia de ciganinhos. Ao meio da encosta, voltei a cabeça. Tive vontade de descer e guardar o vasilhame. Aquilo era um tesouro. Mas nem sequer pude tentá-lo. Entre burricos carregados de bilhas, corriam dez garotos atrás do vasilhame de lata, dando pontapés. A lata saltava entre os pés negros, descalços, sujos, de cor cinzento-pó de estrada. Também o generoso brincava entre eles, com a naturalidade de quem não fez nada de extraordinário, ou — melhor — com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas extraordinárias.

É assim... que temos de nos amar".

Como nos comovemos quando verificamos que alguém — como esse garotinho da favela — realmente se sacrifica por nós! Experimentamos um arrepio de emoção quando constatamos que alguém está disposto a dar até a sua própria vida por nós — só por nós —, sem interesse próprio, só por amor, por puro amor.

Perguntemo-nos: em que medida amo o meu semelhante e a Deus? Respondamos: na medida em que estou disposto a sacrificar-me por eles.

A partir desse critério, deveríamos examinar pormenorizadamente a nossa consciência: — Na vida de família, escolho os trabalhos mais custosos, o lugar menos confortável, a comida menos apetitosa? Sei sacrificar o meu tempo e o meu descanso para ir em ajuda dos outros? Abro mão dos meus critérios pessoais — às vezes dos meus preconceitos — para acolher as ideias dos que me rodeiam? Sei desprender-me, em benefício dos outros, do supérfluo a que estou apegado, do dinheiro que tanto valorizo, da segurança econômica que temo perder? Sei desprender-me também dos meus pontos de vista acidentais para evitar discussões inúteis, que servem apenas para reafirmar o meu amor-próprio? Enfim, estou disposto — a despeito do sofrimento pessoal — a perder para que os outros ganhem, a descer para que os outros subam, a sacrificar-me para que os outros se alegrem? (Rafael Llano Cifuentes, “Amor e Egoísmo”, Ed. Quadrante, São Paulo).

Pensemos nesta semana se estamos sabendo sacrificar-nos pelas pessoas que amamos.

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Pe. Paulo M. Ramalho é Sacerdote ordenado em 1993. Engenheiro Civil formado pela Escola Politécnica da USP; doutor em Filosofia pela Pontificia Università della Santa Croce; Capelão do IICS (Instituto Internacional de Ciências Sociais).

Site: http://www.fecomvirtudes.com.br

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Publicado no Portal da Família em 20/05/2014

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