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Um papel que adoro desempenhar

Tom Crabtree

Escorregas, balanços e carrosséis são muito mais divertidos quando se é avô

Meu avô usava bigode, terno de tweed e um relógio de bolso com corrente de ouro. Morava numa casa enorme, onde a cada hora se escutava uma tremenda barulheira quando o cuco, o relógio de pêndulo e os demais relógios cantavam, tocavam ou ribombavam a hora.

Eu não tinha permissão para me dirigir a ele a não ser que ele se dirigisse a mim. Meu avô era importante demais para falar com crianças.

A cada visita à sua casa, ao sairmos, ele colocava a mão sobre minha cabeça e dizia: "Bom menino." Em seguida me dava uma moeda de um quarto de libra - uma grande soma de dinheiro na época. Eu o vejo hoje como ele se via então: austero e seguro da vida eterna.

Como avô, sou bem diferente. Certa noite, estava sentado ao lado de Leah, 3 anos, na sacada, olhando o céu. Ela apontou para uma estrela.

- As estrelas estão muito longe ? - perguntei.
- Muito. Mais do que a França - disse ela, que havia recentemente visitado sua tia Amanda na França.

Então a conversa começou a se complicar.
- Olhe, vovô. A lua está maior do que estava ontem - comentou. - Por que a lua cresce e diminui ?

Apanhei três laranjas e tentei explicar como a Lua e a Terra se movem em torno do Sol. Ao mesmo tempo, pensei: se ela faz esse tipo de pergunta aos 3 anos, o que perguntará aos 6 ? Nessa idade ela poderá apresentar questões capazes de derrubar até Sócrates.

Na manhã seguinte minha mulher e eu fomos buscar Leah no ardim-de-infância. No caminho de casa, passamos por um policial.
- Na escolinha temos um capacete de polícia de brinquedo - disse Leah. - Esse é um policial de verdade. Ele tem um capacete normal.

Isso nos foi explicado com muita calma, para o caso de não termos entendido. Comecei a pensar que, enquanto demonstrava a rotação da terra com laranjas, deveria ter mencionado Galileu.

Quando meu filho e minha nora me contaram que eu seria avô, fui invadido por sentimentos conflitantes. Embora compartilhasse da alegria deles, entristecia-me o fato de por fim ser obrigado a reconhecer que chegara à terceira idade, o princípio da noite de minha vida.

A noite pode ser a melhor parte do dia, mas quantos de nós realmente acreditam nisso ? É verdadeira aquela história de se manter jovem no coração, jovem no espírito. A vida deve ser vivida em todas as idades. Assim não há tristeza, apenas alegria.

Assumi meu papel de avô com grande entusiasmo. Balanço em meu joelho a irmão de Leah - Grace, 6 meses -, canto-lhe canções e falo com ela. Empurro pelo supermercado o carrinho de minha outra neta, Daisy, 1 ano e 8 meses, com seu chapeuzinho cor-de-rosa.

Converso com ela, recito versos infantis, digo o nome dos produtos expostos nas prateleiras. "Biscoitos, sopa, pão, manteiga", vou dizendo enquanto uma senhora se curva para admirar Daisy.

Ontem vi num carro um adesivo que dizia: "A felicidade é ser avô." É mesmo possível. Você pode se divertir com as crianças (e depois devolvê-las no fim do dia). Ser anárquico (descer no escorrega com elas) e ligeiramente subversivo (comprando-lhes biscoitos).

Com os netos aprendemos uma importante lição. As crianças vivem o presente. Elas não têm tempo para o passado. Para um adulto, é insensato ser infantil, mas é sábio maravilhar-se com o mundo através dos olhos de uma criança.

Extraído de Seleções Reader's Digest- Agosto 1999

 





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