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André Gonçalves Fernandes
Coluna "Lanterna na Proa"

Francisco, estética e ética

André Gonçalves Fernandes

Em seu primeiro discurso para os representantes dos meios de comunicação social, o Papa Francisco afirmou que “podeis estar certos de que a Igreja, por sua vez, presta grande atenção ao vosso precioso trabalho; é que vós tendes a capacidade de identificar e exprimir as expectativas e as exigências do nosso tempo, de oferecer os elementos necessários para uma leitura da realidade. O vosso trabalho requer estudo, uma sensibilidade própria e experiência, como tantas outras profissões, mas implica um cuidado especial pela verdade, a bondade e a beleza; e isto torna-nos particularmente vizinhos, já que a Igreja existe para comunicar precisamente isto: a Verdade, a Bondade e a Beleza «em pessoa». Deveria resultar claramente que todos somos chamados, não a comunicar-nos a nós mesmos, mas esta tríade existencial formada pela verdade, a bondade e a beleza”.

Palavras que bem definem o trabalho do mass media e ainda lhe atribuem uma dimensão existencial bem mais rica do que aquela que reduz o papel dos meios de comunicação ao fim estritamente informativo. De fato, todos os meios de comunicação, como os demais entes (ente é tudo aquilo que existe), têm uma série de atributos em comum, chamados de transcendentais (porque transcendem suas características peculiares): a beleza, a bondade e a verdade. Justamente o foco do cuidado ressaltado pelo discurso papal. Hoje, falaremos da beleza.

Não vou aqui entrar em tediosas definições filosóficas ou mesmo em complicadas divergências teóricas que a estética encerra. A maioria dos filósofos debruçou-se sobre o assunto. Gosto bastante do pitaco platônico: “A beleza é o esplendor da verdade”. Mas também poetas, escritores, dramaturgos e até papas trouxeram suas visões a respeito do tema. João Paulo II, numa famosa encíclica, declarou que “o esplendor da verdade brilha em todas as obras do Criador, particulamente no homem criado à imagem e à semelhança de Deus (Gn 1, 26)”.

Os vinte e cinco séculos que separam uma afirmação de outra servem para confirmar o êxtase do pensamento humano quando resolve refletir sobre a experiência tão forte que é o encontro com a beleza. De qualquer grau e distinção, já que sua formosura transparece de maneiras diferentes: desde uma realidade exterior, como um olhar para uma noite de céu estrelado ou mesmo uma realidade mais interior, como uma pessoa que nos atrai por suas virtudes.

Nesses encontros, a realidade assume um caráter interpelativo, como que indagando nossa consciência a respeito do sentido de nosso agir existencial: que tipo de pessoa quero ser? Nesse momento, a beleza aparece intimamente vinculada à ética, mas nem todos conseguem enxergá-la atualmente.

Hoje, vende-se uma ideia de estética que não traz as pessoas para fora de si mesmas. Essa ideia desvirtuada de beleza confina as pessoas em sua torre de marfim individualista, ao apelar para o desejo, a vontade de poder, de posse e de prazer: em suma, não abre as pessoas para a realidade do outro e as submete exclusivamente à busca irrefreada de uma satisfação passageira e que se esgota em si mesma. Há um banquete dessa iguaria nos catálogos das grandes agências publicitárias. Mas, para quem se contentar com um mero aperitivo, sugiro assistir aos intervalos publicitários da televisão.

As linhas são insuficientes para ponderarmos também sobre a objeção que um certo pessimismo filosófico faz contra a beleza, quando confrontada com a capacidade de violência e de maldade do homem. Por ora, é suficiente levar o leitor à reflexão entre ética e estética. “Pode ser que tenhamos que escolher entre ética e estética, mas, independentemente do que escolhermos, uma encontrará sempre a outra no fim do caminho”, já dizia o cineasta Jean-Luc Godard.

E, por falar em cinema, a sétima arte pode ser um poderoso meio de abertura para o conhecimento da estética, porque trabalha com a sensibilidade e a afetividade humanas. Afinal, se não sabemos apreciar o belo, não conseguimos fazer o bem e tampouco compreendemos o verdadeiro. Nem o bispo de Roma. Nem os profissionais da mídia. Com respeito à divergência, é o que penso.

Papa Francisco na capa da revista Time

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ANDRE GONÇALVES FERNANDES, Post-Ph.D. Juiz de Direito e Professor-Pesquisador. Graduado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP). Mestre, Doutor e Pós-Doutorando em Filosofia e História da Educação pela UNICAMP. Juiz de direito, titular de entrância final em matéria cível e familiar, com ingresso na carreira aos 23 anos de idade. Pesquisador do grupo PAIDEIA-UNICAMP (linha: ética, política e educação). Professor-coordenador de metodologia jurídica do CEU Escola de Direito. Coordenador Acadêmico do Instituto de Formação e Educação (IFE). Juiz instrutor/formador da Escola Paulista da Magistratura (EPM). Colunista do Correio Popular de Campinas. Consultor da Comissão Especial de Ensino Jurídico da OAB. Coordenador Estadual (São Paulo - Interior) da Associação de Direito de Família e das Sucessões (ADFAS). Membro do Comitê Científico do CCFT Working Group, da União dos Juristas Católicos de São Paulo (UJUCASP), da Comissão de Bioética da Arquidiocese de Campinas e da Academia Iberoamericana de Derecho de la Familia y de las Personas. Detentor de prêmios em concursos de monografias jurídicas e de crônicas literárias. Conferencista e autor de livros publicados no Brasil e no Exterior e de artigos científicos em revistas especializadas. Membro Honorário da Academia de Letras da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Titular da cadeira nº30 da Academia Campinense de Letras.

E-mail: agfernandes@tjsp.jus.br

Publicado no Portal da Família em 18/03/2013

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