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A mídia, o jovem, a aids e liberdade de expressão

Responsabilidade e liberdade na mídia

No Brasil a televisão e a publicidade são companheiras inseparáveis. A televisão aberta tem a preferência nacional e atinge, aproximadamente, 90% dos lares brasileiros. Ela é vista ao mesmo tempo por gente rica e gente pobre. É bom que se diga que o abismo que separa a minoria de ricos da imensa maioria de pobres não pára de crescer, em razão da péssima distribuição de renda entre os brasileiros, agravada pelo desemprego.

A colossal audiência da televisão brasileira aumenta a sua responsabilidade e a do anunciante. A televisão, um serviço público, e o anunciante, por usar desse serviço, têm os mesmos compromissos e responsabilidades com o telespectador-cidadão e com a telespectadora-cidadã, que não podem ser tratados como meros consumidores. Daí vem o meu apreço pelo Conar - Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária -, que merece todo o apoio da sociedade civil.

É bom lembrar que compete à televisão, além de informar, denunciar e entreter, o dever de formação ética e cultural do povo. Sinto falta na televisão aberta de uma mensagem cheia de ternura, inteligente e criativa que orientasse e educasse o adolescente brasileiro, principalmente o pobre, sobre o perigo do sexo descartável que deforma o caráter humano e coloca a vida em risco. É preciso despertar a consciência do jovem para a sua dignidade de pessoa.

A propósito, em julho passado, uma rede de televisão veiculou um comercial, no qual se vê uma mulher, supostamente uma mãe em sua casa, indo até a geladeira, onde pega um refrigerante para tomar. Em seguida, ela espia para dentro dos quartos de seus dois filhos adolescentes que, entretidos, aparentemente, não percebem a sua presença. A filha está só, deitada, lendo um livro; a mãe fecha a porta de seu quarto. Logo depois, aparece a filha no quarto, com a porta fechada, beijando um jovem. O filme termina com a mãe na sala, sentada no sofá tomando refrigerante e vendo televisão. Essa é a lembrança que tenho do comercial.

Não sei dizer se a cena dos dois jovens na cama insinua apenas um namorico ou um novo comportamento de vida. O que sei é que o comercial deixa no ar um exemplo que dá margem a várias interpretações, isso não é bom, tendo em vista vários aspectos: a sexualidade precoce leva Aids aos jovens. Há uma epidemia mundial, segundo a ONU: dos 40 milhões de pessoas vivas infectadas pelo vírus HIV no mundo, pelo menos um terço tem entre 10 e 24 anos.

O assunto é tão grave que vale a pena ler de novo alguns trechos de uma longa e extraordinária matéria publicada na Folha de S.Paulo, de 3 de maio de 1998, de autoria de Gilberto Dimestein e de Priscila Lambert: "A obstetra Rosa Maria Ruocco já não se espanta mais em fazer partos de meninas de 11 ou 12 anos". "Até há pouco tempo, eu ainda ficava surpresa. Mas agora é rotina. Não estamos dando conta" afirmou ela, médica-chefe do ambulatório de obstetrícia pré-natal do Hospital das Clínicas"; "Iniciação sexual antecipada aumenta a gravidez entre jovens de 10 a 19 anos, provocando mais abortos e casos de Aids"; "Estamos em pânico, diz o infectologista David Uip, supervisor da Casa da Aids, ligada à Universidade de São Paulo"; "Os registros de Aids em adolescentes por contágio sexual no Brasil cresceram de 1990 a 1996 cerca de 200%"; "O aumento de doenças sexualmente transmissíveis obriga hospitais a criar departamentos para tratar especialmente adolescentes. Psiquiatras reunidos num congresso realizado na semana passada, em São Paulo, denunciaram o excesso de erotização da sociedade brasileira, estimulada pelos meios de comunicação".

As informações da Folha são impressionantes. Passados cinco anos da publicação da matéria, a epidemia se alastra. A Aids pode provocar 70 milhões de mortos nos próximos 20 anos. "É uma epidemia sem precedentes na história da humanidade", afirmou Peter Piot, diretor-executivo da Unaids, agência da ONU (fonte:Reuters 25/07/03).

Apesar da gravidade do assunto, nenhum acontecimento pode interferir na liberdade de expressão das televisões e das agências de publicidade. Diante dessa situação, o jornalista italiano Bartolomeo Sorge, se fosse ouvido, diria que a televisão deve funcionar livremente, mas dentro de um quadro de valores e de vínculos e limites indicados pela sociedade civil e por suas expressões políticas e democráticas. Bartolomeo Sorge diria mais: não há liberdade simplesmente porque há televisão livre; a televisão, de fato, é livre nas sociedades em que se busca e se assegura a liberdade. Concluo, reafirmando que não se pode confundir liberdade de expressão com liberdade de empresa.

Fonte: Interprensa - Ano VII - Edição 74 - Novembro de 2003

www.interprensa.com.br

 

site do Interprensa

 

 

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