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Coluna "A prosa heróica de cada dia"

Gravidez na adolescência

Sueli Caramello Uliano

A gravidez na adolescência é um assunto que preocupa muitos pais e é a realidade para muitos jovens. Em entrevista concedida em dezembro de 2004 ao jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, e aqui publicada na íntegra, a Profa. Sueli Caramello Uliano aborda essa questão com orientações tanto para famílias com filhos ainda pequenos como para as que estão passando por uma situação de uma gravidez precoce.

A Profa. Sueli é mãe de família, professora universitária, pedagoga, colunista e consultora do Portal da Família, autora do livro Por um novo feminismo, e trabalha com o tema família há muitos anos, atuando como conferencista em congressos e palestras.

Gazeta do Povo - Na sua opinião, por que há muitos casos de gravidez na adolescência?

Sueli Caramello Uliano - O despertar da sexualidade se dá na adolescência. É uma primeira fase, imatura e muito voltada para o apelo corporal. Segundo o psiquiatra Viktor Frankl, o jovem desperta para o sexo oposto sem ainda distinguir e escolher alguém, mas pelo simples apelo sexual que o outro sexo representa. Ora, o ambiente está impregnado de estímulos sexuais e o adolescente, que já está fisiológicamente sensível a esses estímulos, ainda por cima, é cobrado por seus pares no sentido de viver experiências nesse campo. Como conviver com isso e dizer não a algo tão atraente e de manifestações tão fortes como o relacionamento sexual? E para completar o quadro, há uma condescendência, às vezes silenciosa outras nem tanto, por parte dos adultos que não reprovam as ousadias nas propagandas e na mídia em geral. E há todo um comércio que vive do sexo e promove todo tipo de facilidades para encontros íntimos, isso quando eles não acontecem nas próprias casas... Como admirar-se de que as meninas engravidem?

Penso que os jovens são vítimas de desamparo afetivo. Repito: eles estão à mercê do despertar da sexualidade - que torna o seu corpo vulnerável a estímulos dessa natureza - , e estão mergulhados num ambiente impregnado de erotismo e sensualidade. E a família e o Estado se omitem de verdadeiramente orientá-los e até contribuem para a desorientação, favorecendo e facilitando uma situação de promiscuidade ou, no mínimo de iniciação sexual precoce. Será que não ocorre aos responsáveis que essa situação é responsável pelo vazio existencial que depois resulta em novas experiências de prazer que levam a transtornos e mesmo às drogas? Em todo caso, que a gravidez preocupe já um começo, uma reação.

Gazeta do Povo - Se vê também que, mesmo com a propaganda massiva na mídia sobre as formas de evitar filhos (anticoncepcionais, etc), o número de casos de gravidez na adolescência aumenta ao invés de diminuir. Por que isso acontece?

Sueli Caramello Uliano - Pois é. Não seria o caso de ao menos "começar a desconfiar" de que os tais métodos anticoncepcionais, em que tanto se insiste, não são assim tão eficientes como se quer fazer crer? A ineficiência se dá por dois motivos: um é a porcentagem de falha que todos esses métodos têm, inclusive o preservativo, seja na prevenção da gravidez, seja na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. A falha do preservativo, ou camisinha, para evitar a gravidez é de 2 a 13% (OMS 1985), porém contra AIDS, a falha é maior, 31% (Susan C.Welles na revista: Social Science and Medicine, 1993 Apud Cartilha Saber amar. Qual é a sua? disponível no Portal da Família)

Ora, divulgar esses métodos, distribuir preservativos, é incentivar relações. Se aumenta o número de relações, e aqui estamos falando inclusive de jovens inexperientes que tentam manipular o preservativo, o número de falhas aumenta proporcionalmente. Portanto aumenta o número de casos de gravidez e de contágio por doenças sexualmente transmissíveis.

E outro motivo, também relacionado com esse incentivo é que a sexualidade foi banalizada, passou a ser vista como uma diversão. Ora, não é de esperar que o jovem que inicia a vida sexual motivado fundamentalmente pelo prazer, vá contentar-se com "chupar a bala sem tirar o papel". Há um grande desconhecimento da psicologia e do caráter do ser humano por parte dos que consideram que o jovem não é capaz de abster-se de relações, mas, ao mesmo tempo e contraditoriamente, acham que ele será fiel ao preservativo. A mesma curiosidade que estimula para a experiência do prazer sexual é a que move para a busca de mais prazer, num processo crescente onde o preservativo, afinal, é um obstáculo. Portanto, há falha técnica e mecânica, além da pressão psicológica.

Gazeta do Povo - Quais são as desvantagens para a adolescente, a família, etc com a gravidez precoce? O que ela - e ele - acabam perdendo?

Sueli Caramello Uliano - Penso que todos perdem muito, inclusive o filho que vai nascer. Refiro-me aos casos, hoje muito comuns, de meninas e rapazes de 14 ou 15 anos que sequer podem constituir uma família para receber o se u filho. E a menina ainda sofre o agravante de não ter um corpo maduro, plenamente desenvolvido para sustentar uma gravidez. Perdem, ele e ela, a possibilidade de convivência com o grupo de adolescentes e o amadurecimento que decorre disso, perdem chances de formação e desenvolvimento profissional. Há casos em que a família, exatamente os avós, seja os maternos ou os paternos, arcam com o neto para possibilitar aos jovens que continuem estudando, em outros casos a família impõem que eles arquem com o filho e vão trabalhar. É justo, mas resultará, muito provavelmente, em despreparo profissional, já que os estudos serão relegados a segundo plano, abandonados ou redirecionados. Em qualquer caso não são situações plenamente favoráveis para o crescimento e amadurecimento familiar.

Além disso, os sonhos nupciais ficam bastante abalados. É de se esperar que os dois se casem, pois é o melhor para a criança. Mas ninguém ignora que as meninas, uma vez que engravidam, são, em geral, abandonadas pelos rapazes, com freqüência mais velhos.

É justo também mencionar que há casos de casais jovenzinhos, muitas vezes apaixonados, que têm reações que eu chamaria mesmo de heróicas. Li certa vez na Internet, num site de aconselhamento sexual para teens, a carta de um casalzinho, 15 anos, que se dizia disposto a ter o bebê e criá-lo com todo carinho. E o conselho que lhe davam no site era que procurassem falar o mais rápido possível com um adulto, pois eles não sabiam como era complicado ter um filho, numa clara preocupação de que houvesse ainda condições de se praticar um aborto mais simples, em gravidez inicial. Fiquei enojada. Esses jovens tinham coração generoso, mas a psicóloga que os aconselhou foi mesquinha, egoísta e cruel diante da vida indefesa que estava em jogo. Claro que não sou a favor de uma gravidez precoce, mas jamais se pode atentar contra a vida concebida.

Gazeta do Povo - O que os pais podem fazer, desde a mais tenra infância, para prevenir? Como convencer os filhos a adotar comportamentos que hoje não são aconselhados pela mídia?

Sueli Caramello Uliano - O comportamento moral deve ser tratado num nível de respeito delicado e deve-se ajudar os filhos a apontar para metas elevadas, de nobreza e verdadeira realização. A criança é cheia de ideais de bondade e eles devem ser alimentados, bem como deve corrigir-se a mentira, a birra, a vingança... É preciso incentivar a sinceridade sempre, buscando diálogos íntimos cheios de compreensão, de modo que os filhos terão nos pais os seus melhores amigos. E a sexualidade será tratada nesse mesmo clima, como um elemento a mais, cuja finalidade é expressar o amor ao sexo oposto, a uma pessoa especial que eles terão escolhido como papai e mamãe escolheram um ao outro um dia. E assim virão ao mundo os seus filhos, que serão tão queridos quanto eles se sentem queridos.

Cabe aqui uma referência ao pudor, já que o estímulo sexual tem a ver com o apelo sexual que a moda favorece com certo tipo de roupas. Se os pais são discretos e elegantes, os filhos aprenderão a sê-lo, ainda que dentro do estilo de seu tempo.

Passeios em turmas, encontros em casa para jogar, dançar, assistir a um filme bem escolhido (pode ser terror, suspense, mistério, que eles adoram). E principalmente eu aconselho o envolvimento em alguma tarefa solidária: fazer uma campanha para angariar donativos e entregá-los a famílias carentes; visitar crianças ou idosos em orfanatos ou asilos; olhar para os pobres com a preocupação de que todos temos a responsabilidade de aliviar o sofrimento deles e efetivamente agir nesse sentido. Não se pode querer filhos responsáveis no que diz respeito ao sexo, se eles não tiverem sentimento de responsabilidade em outras matérias.

Agora, o que os pais não devem fazer é dar pílulas ou preservativos, pois isso é dar o passaporte. E uma vez ultrapassado o umbral do consentimento dos pais, não há mais nada a fazer, a não ser esperar as conseqüências que podem ser muito amargas. Em última análise, essa atitude significa dizer: "Faça o que quiser, mas não me traga problemas." Será que essa é a única conseqüência de um relacionamento sexual precoce? E o futuro? Creio que os filhos nesses casos sentem-se como um problema que pode ser maior ou menor, caso eles sejam responsáveis, na visão dos pais, ou irresponsáveis. Eu me imagino se haverá algum jovem hoje que, ao receber do pai um preservativo, respondesse: "Não pai, eu não quero brincar com sexo". Será que existe isso? Seria bom! Desculpe a franqueza, mas o maior problema são os adultos de hoje, muitos deles frustrados psicologicamente e na sua afetividade com a revolução sexual, e que não conseguem dar um enfoque positivo à sexualidade. No fundo, não sabem dar o que não souberam construir: uma vida amorosa sólida, de verdadeira doação e entrega.


Gazeta do Povo - Qual seria o enfoque correto para enfocar esse assunto: sexo protegido ou sexo responsável?

Sueli Caramello Uliano - Como vimos, falar de sexo protegido pode ser uma falácia. E falar de sexo responsável sem que se tenha criado o filho para a responsabilidade em geral, outra. O sexo não é algo isolado, diz respeito a toda a pessoa. O chamado sexo protegido protege, muito mal aliás, os órgãos genitais. Mas sexualidade não é genitalidade. Tratar o sexo nesse nível é claramente reducionista e frustrante. Entre as duas opções, está claro que sexo responsável é a melhor escolha, mas é preciso estabelecer as metas dessa responsabilidade em patamares muito elevados, vinculando a sexualidade à família, à doação e entrega que supõe a entrega do corpo. Claro que tudo será mais fácil se eles virem isso na própria casa, mas mesmo quando há dificuldades no relacionamento entre os pais, não se deve abrir mão de indicar aos filhos o melhor caminho.

Gazeta do Povo - Supondo os casos em que as adolescentes já ficaram grávidas, como os pais devem agir? Quais seriam os erros?

Sueli Caramello Uliano - A gravidez em si mesma já é um grande abalo. A jovem está passando por um momento de maior sensibilidade e nesse sentido deve ser amparada. É muito difícil que não tenha havido por parte dos pais alguma falha, nem que tenha sido o simples fato de ter confiado demais, iludidos com o raciocínio de que com a minha filha não vai acontecer, eu conheço a minha filha.

É interessante e oportuno ocupar-se primeiro da própria filha, das suas necessidades e carências que favoreceram um comportamento inadequado com o namorado. E aí já se verá até que ponto os pais favoreceram essa gravidez precoce.

Em seguida é necessário pensar na família que vai receber essa criança. Certificar-se de quem é o pai e jamais precipitar um casamento que pode ser para a infelicidade geral. A criança pode nascer e ser cuidada pela mãe até que se viabilize o casamento, se é que os dois têm chance de comprometer-se para levar adiante a sua família. Ou seja, o casamento forçado pelas circunstâncias pode começar minado na raiz. Dar um tempo até que o relacionamento se firme vai ajudar a desfazer essa impressão de que foram obrigados a casar. Em todo caso, desde o início, o rapaz ou a sua família deverão estar conscientes das responsabilidades frente à criança, casando ou não casando. No fundo, é sempre bom que se casem, mesmo que se tenha de esperar um ano ou dois: é o melhor para a criança. Mas, insisto, se é para fazer a infelicidade de três e, por tabela, dos avós, melhor resolver diferente, ou seja, um dos dois assume a criança, o mais comum é que seja a mãe. Com certeza o rapaz se casará depois com outra, já a jovem, com um filho nos braços, terá mais dificuldades. As meninas precisam atentar para o fato de que o maior ônus é sempre delas.

Gazeta do Povo - Como ensinar os jovens a assumir as conseqüências dos seus atos (eles e elas)?

Sueli Caramello Uliano - Os pais precisam estar sempre muito presentes, uma presença com qualidade, ou seja, atenta e comprometida com a verdade. Isso significa que eles farão um grande esforço por acertar, por procurar o melhor caminho em cada situação, sem ter medo de ser chamados de exigentes, caretas, chatos. Os filhos gostam de ser exigidos (dentro das possibilidades de cada fase), porque isso indica que ocupam um lugar importante na vida dos pais. Na dúvida sobre como agir nas diversas fases da infância, os pais deveriam buscar o conselho de orientadores familiares, fazer cursos, ler livros. Ou seja, é preciso ser pai e mãe com mentalidade profissional, de quem se prepara para desempenhar otimamente uma tarefa.

 


 

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