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Floriano Serra

Coluna "Comportamento & Qualidade de vida no trabalho"

PARA QUE A ALMA NÃO SE DISTANCIE

Floriano Serra

Quando se perde a alma no trabalho, o próprio trabalho perde a razão de ser. Todos os vencedores que conheço são apaixonados pelo que fazem e depositam ali a sua alma. E nem por isso vivem em desabalada carreira.

Floriano Serra *


Outro dia, navegando num site de uma colega psicóloga, descobri o texto abaixo que me inspirou a escrever este artigo. Ela própria não tem muita certeza da autoria do texto, mas acha que ele é citado pelo Paulo Coelho, no seu “Maktub”. Se for, está feito o crédito. Se não, o crédito vai para o famoso “autor desconhecido”.

“Há um conto africano que conta que um explorador branco, ansioso para chegar logo ao seu destino, pagava um salário extra para que os seus índios andassem mais rápido. Durante vários dias, os carregadores apressaram o passo. Certa tarde, porém, todos sentaram-se no chão e depositaram seus fardos, recusando-se a continuar. Por mais dinheiro que lhes fosse oferecido, os índios não se moviam. Quando, finalmente, o explorador pediu uma razão para aquele comportamento, obteve a seguinte resposta: “ andamos muito depressa e já não sabemos mais o que estamos fazendo”. Agora precisamos esperar até que nossas almas nos alcancem.”

 

Na mesma hora em que li isso, lembrei de muita gente que conheço: amigos, colegas, familiares, clientes. Gente que vive apressada, mal tem tempo para respirar, para viver. Isso mesmo: gente que, de tanta pressa, nem tem tempo para viver...

Mas não quero aqui repetir o alerta do meu artigo “Qualidade de Vida, Gurus, Caracóis e D.Judith” publicado ano passado. Nele, eu faço referencia a um movimento que vem ocorrendo na Europa e em quase todo mundo, chamado Slow Food. Esse movimento prega que “as pessoas devem comer e beber devagar, saboreando os alimentos, "curtindo" seu preparo, no convívio com a família, com amigos, sem pressa e com qualidade.”. Esse movimento está servindo de base para outro mais amplo, que se propõe a questionar a "pressa" e a "loucura" gerada pela globalização, pelo apelo à "quantidade do ter" em contraposição à qualidade de vida ou à "qualidade do ser".

O fator “pressa” está presente no movimento acima e também no texto com que iniciei este artigo. No entanto, o texto inicial, do conto africano, contém um diferencial altamente competitivo – pelo menos para mim: é quando associa a pressa ao distanciamento da alma.

Coincidência ou não, a maioria dos profissionais “apressados” que conheço, parecem não ter alma, tal a insensibilidade e frieza que demonstram por estarem sempre apressados. Não ouvem ninguém e mal falam com alguém. Apenas agitam-se e correm de um lado para o outro, com ou sem direção definida. Estar em permanente e veloz movimento parece ser a essência da vida dessas pessoas. Sem sorrisos (exceto os artificiais), sem cumprimentos (exceto os ritualísticos), sem comentários do jogo de domingo, sem pausas para o cafezinho.

Como se a pressa não lhes desse tempo para sentir , para ser.

Como se sentir e ser fosse perda de tempo – e sabemos que perder tempo é imperdoável para os que têm pressa compulsiva.

Eis aqui uma coisa sobre a qual essas pessoas deveriam refletir: todas as emoções gratificantes da vida, aquelas que são vitais para a energização e o sentimento de vida do ser humano, necessitam de calma e de serenidade para serem curtidas.

Não se pode (ou não se deveria...) amar, acariciar, tocar, abraçar, cumprimentar, celebrar - com pressa. As boas emoções precisam de tempo para tornarem-se fortes e intensas – e mesmo assim, quando atingem esse nível e essa dimensão, mantêm a calma e a serenidade. Intensidade emocional não tem a ver com velocidade e sim com profundidade.

É preciso calma para ouvir o outro. Para praticar a empatia, para compreender. É preciso dar tempo aos corações e mentes para que ouçam, para que se expressem e se entendam. Não deve ser por acaso que a pressa costuma ser usada como mecanismo de defesa por muita gente que tem medo das emoções e dos sentimentos.

Na sua sabedoria, a Natureza impregnou nosso corpo e o nosso organismo com ritmos adequados e apropriados – e toda doença, qualquer que seja ela, tem o efeito nocivo de desequilibrar esses ritmos. O que nos faz pensar: o que é causa e o que é efeito?

Mas, enfim, não quero filosofar. Quero apenas convidar algumas pessoas e alguns profissionais a refletirem sobre seus ritmos de vida e trabalho – se acharem que devem ou que precisam: onde querem chegar com essa pressa obsessiva? Por quê? Para que? Quem ou o que lhes obriga a isso? O que esperam ganhar? Até onde vão?

Só como brincadeira, adaptei o texto inicial deste artigo ao contexto organizacional. Vejam como ficou e avaliem se faz sentido:

“Um famoso empresário, ansioso para aumentar seus lucros, pagava um salário extra para que os funcionários trabalhassem mais rápido. Durante vários dias, os funcionários apressaram o passo. Certa tarde, porém, todos sentaram-se no chão, desligaram seus computadores, guardaram suas canetas e máquinas de calcular, recusando-se a continuar trabalhando. Por mais dinheiro que lhes fosse oferecido, os funcionários não se moviam. Quando, finalmente, o empresário pediu uma razão para aquele comportamento, obteve a seguinte resposta: “ estivemos trabalhando muito depressa e já não sabemos mais o que estamos fazendo”. Agora precisamos esperar até que nossas almas nos alcancem.”

Quando se perde a alma no trabalho, o próprio trabalho perde a razão de ser. Todos os vencedores que conheço são apaixonados pelo que fazem e depositam ali a sua alma. E nem por isso vivem em desabalada carreira.

Se este artigo não fez sentido para você, amigo leitor, desculpe-me tê-lo feito perder alguns minutos do seu tempo – mas sei que você logo irá recuperá-los.

No entanto, se o fez refletir, se agregou algo de bom ao ritmo da sua vida, fico feliz, pois, neste caso, terei a certeza de que, por mais dinamismo, proatividade e rapidez que você seja capaz de impor ao seu trabalho, você estará muito atento, suficientemente atento, para que sua alma nunca se distancie.

Nada paga o risco de perdê-la.


 

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Floriano Serra é psicólogo, escritor e palestrante, autor de vários livros e artigos sobre o comportamento humano nas empresas. Foi diretor de Recursos Humanos em empresas nacionais e multinacionais, recebendo vários prêmios pela excelência em Gestão de Pessoas. É autor de uma dezena de livros, como "A Empresa Sorriso" e "A Terceira Inteligência", e mais de 200 artigos sobre o comportamento humano - pessoal e profissional, publicados em websites, jornais e revistas, inclusive no Exterior.
E-mail: florianoserra@terra.com.br

 

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