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Violência e liberdade de expressão

Eduardo Gama

As charges publicadas no jornal dinamarquês Jyllands-Posten retratando o profeta Maomé carregando uma bomba no turbante causaram inúmeros protestos dos mulçumanos.

Violência e mortes foram a tônica das manifestações. Notícias mais recentes informam que a cabeça do chargista dinamarquês vale um milhão de dólares. Em resposta, jornais da Noruega e França publicaram novas charges com o objetivo de defender a “liberdade de expressão ocidental”.

Os protestos dos mulçumanos começaram em janeiro deste ano, embora a primeira charge tenha sido publicada em setembro de 2005. Analistas viram nessa “demora” uma manobra política, pois países como o Irã teriam interesses em acirrar os ânimos de seus súditos contra o Ocidente. Até o momento parece que nada diminui a fúria dos radicais: consulados, Igrejas, lojas norte-americanas foram alvo de violência, embora o governo dinamarquês tenha se desculpado oficialmente pela publicação. No dia 20 de fevereiro, uma Igreja Católica foi incendiada no Paquistão. No dia 18, um protesto em Londres reuniu dez mil muçulmanos, apesar de nenhum jornal inglês ter publicado caricaturas.

O conflito poderia ter perdido força em 30 de janeiro, quando o diretor do Jyllands-Posten publicou um pedido de desculpas. Porém, no dia seguinte, as charges foram republicadas na Alemanha (jornal Die Welt ), França ( France Soir ), Itália ( La Stampa ), Espanha ( El Periódico ) e Holanda ( Volkskrant ).

Parece que o problema comporta duas questões. Por um lado, a manipulação das lideranças islâmicas para fins alheios à publicação das charges, como religião e política. Por outro, o conceito de liberdade de expressão ocidental.

É razoável que muçulmanos boicotem produtos dinamarqueses, solicitem um pedido de desculpa formal por parte do jornal que publicou as charges ou que ingressem em tribunais para frear a disseminação da caricatura. O desrespeito a qualquer religião deveria ser punido por lei, pois muitas constituições garantem a liberdade religiosa.

O problema foi a utilização política do incidente. É sabido que o Irã está em conflito com as grandes potências mundiais por causa do enriquecimento de urânio que poderia levar à fabricação de uma bomba atômica. É conveniente incitar o ódio ao Ocidente neste momento.

Além disso, a violência de alguns grupos islâmicos é um fato preocupante e que pode causar ainda mais desconfiança do Ocidente em relação ao Oriente.

O conflito também revelou a debilidade do pensamento europeu. Sob o nome de “liberdade de expressão” está se tentando garantir um direito que não existe: o de ofender uma religião e os sentimentos que os seus fiéis nutrem por seus símbolos.

Liberdade de expressão sem responsabilidade sobre os próprios atos não passa de uma caricatura de liberdade. Com essa noção de liberdade, o que impede alguém de ser racista ou xenófobo?

Ao provocar os muçulmanos com reiteradas publicações das charges, não se está exercendo a liberdade, mas sim o desrespeito a um valor relevante para a convivência entre os povos: a compreensão.



 


 
Eduardo Gama, redator do Portal da Família e editor do informativo Em Foco (emfoconoticias.blogspot.com), é jornalista, publicitário e mestrando em Letras pela USP.
 

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