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Amor e casamento

David Isaacs

“Sinto-me apaixonado por meu cônjuge?”

Esta interrogação se refere mais aos sentimentos. É possível incluir o cônjuge nos planos de futuro como conseqüência de um dever reconhecido como tal, mas sem se sentir apaixonado. Entretanto é possível se sentir apaixonado e não incluir o outro nos planos futuros pessoais?

Parece que não, mas evidentemente o se sentir apaixonado no presente não está relacionado necessariamente com o sentimento amoroso no futuro. Além disso, é possível que o sentimento presente chegue a ocupar a atenção das pessoas tanto que nem sequer se estabeleça um projeto de futuro.

O se sentir apaixonado é agradável e uma condição muito favorável para conseguir uma comunidade de amor. Mas é possível conseguir a comunicação, conseqüência e causa da comunidade, sem um grau excessivo de sentimento amoroso. É importante ter estes fatos em conta, já que a comunicação conjugal não se mede pelo grau de sentimento amoroso, ainda que os que se sentem apaixonados contam com umas atitudes positivas mútuas que facilitem a comunicação.

Vamos considerar algumas limitações com respeito ao sentimento amoroso. Na realidade, podemos ver como os “apaixonados” tendem a viver principalmente no usufruir do momento presente, com referência viva as lembranças imediatas agradáveis e muitas vezes com planos em forma de sonhos para o futuro. Isto é, a realidade tende a ser distorcida e os “apaixonados” terminam com uma visão de abertura da vida.

Não lhes interessa chegar a conhecer o outro tal como é, já que se quer ver o prazeroso, o mais agradável. Também pode provocar um desejo do possuir o outro como se fosse um bem material que não teve sua autonomia para viver umas relações alheias complementares.

Tudo isto poderia nos levar a deduzir que não é conveniente se sentir apaixonado. Ao contrário! Mas há que reconhecer os limites do sentimento amoroso como uma única explicação totalizante da união conjugal.

Haveria que pensar o quanto a união do casamento depende deste sentimento e em que grau é uma parte do todo mais completo que inclui a inteligência e a vontade. Este “todo” poderia traduzir-se em outra frase: “Estou apaixonado”. Também se pode ver em que grau a falta de sentimento amoroso é causa ou conseqüência de uma comunicação pobre no casamento.

É conveniente buscar os momentos e as circunstâncias que provocam sentimentos contínuos de paixões, mas como parte de um projeto mais completo de futuro. Assim estes sentimentos podem formar parte principal das lembranças e do presente, mas não devem nem podem unir para o futuro.

“Eu amo meu cônjuge tal e como ele é, isto é, com suas qualidades e com seus defeitos”

Comentamos que se forma uma comunidade enquanto se compartilha algo que se possui. Ao casar-se, entre outras coisas, se pactua compartilhar e formar comunidade com outra pessoa concreta, que se conhece em algum grau, mas desde o todo. No início da relação há, de alguma maneira, uma aceitação de risco para o desconhecido desde o pouco conhecido. Com o passar dos anos, é uma aceitação desde algo mais conhecido para algo mais previsível. Isto é, as lembranças são pouco importantes ao princípio e o projeto é amplo. Gradualmente, as lembranças aumentam e o projeto se limita dentro do conhecimento do real possível.

O que cada pessoa leva ao casamento é seu, mas foi influído pelo que havia em seu entorno. Referimo-nos aos estudos que pode haver realizado, as relações com seus pais, as suas relações de amizade, a maneira de viver estas relações de amizade, etc. A maneira de viver estas relações e estas situações ajuda a identificar os traços da pessoa já que nunca se pode conhecer uma pessoa como um cônjuge antes de ser precisamente cônjuge. O conhecimento destes fatores complementários pode dar maior segurança para que a comunidade de vida e de amor seja possível, mas não devem substituir compromisso com a pessoa pelo que é, irrepetivelmente, pelos aspectos de sua intimidade e pelas manifestações da mesma.

Quando se aceita que a relação está fundamentada no conceito de comunidade educativa e de comunidade de amor, é indiferente o fato de que se vai descobrindo no cônjuge uma série de traços desconhecidos, já que se trata de se ajudar mutuamente a melhorar como pessoa. Assim se chega à aceitação do outro como é, com suas qualidades e com seus defeitos. Não se aceita os defeitos passivamente, e sim positivamente, tentando ser catalisador eficaz para que sejam superados.

Pelo menos, dizemos, se pode notar que o critério próprio de cada cônjuge com respeito ao casamento é fundamental para a comunicação. Se o critério gira em torno a um conceito de “cônjuge ideal” ou em torno a aspectos complementares - o dinheiro que possui, a cultura adquirida, etc.-, é possível que a comunidade seja frágil.

Em troca, se a aceitação é plena e ampla, o que se possui ao começar a relação pode crescer e mutuamente gera uma comunidade de maior qualidade e uma comunicação rica em conteúdo.

Sob esta luz, as lembranças serão de êxitos compartilhados ou de fracassos assumidos em comum. E o projeto futuro se baseará nas lembranças, formando uma unidade razoável entre os desejos, os deveres e as possibilidades reais.



 


 
David Isaacs é Doutor em Pedagogia e Professor Titular de Organização Educativa. Na atualidade é Vice-diretor da Universidade de Navarra e Diretor do Instituto de Ciências da Educação (ICE) da mesma Universidade onde desenvolve uma intensa atividade docente e pesquisadora tanto no campo do matrimônio e a família como no da educação Colabora habitualmente na área de Educação e Comunicação do Instituto de Ciências para a Família (ICF), centro universitário especializado em pesquisa sobre o matrimônio e a família  

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