Portal da Família
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Velhice e Dignidade: um desafio para todos |
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Rosely Jorge |
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A Organização Mundial da Saúde estabelece o limite cronológico de 65 anos para o início da velhice nos países desenvolvidos e 60 anos nos países em desenvolvimento. Sabe-se que as culturas orientais respeitam as pessoas idosas, aprendem este valor, no seio de cada família e portanto, criaram formas de propiciar ao idoso a sua justa integração à sociedade, conferindo-lhe a dignidade que lhe é devida nesta etapa da vida. Já no Brasil, país não mais tão jovem, há um total despreparo para viver e encarar saudavelmente esta fase da vida. Embora a velhice seja uma etapa esperada, uma vez que faz parte de um processo maturacional a ser alcançado pelos humanos, a nossa experiência enquanto brasileiros, denuncia uma série de conflitos não resolvidos, sempre que o tema é a velhice. Tanto para quem a vive, quanto para os que estão no convívio de quem envelhece, esta questão para o povo brasileiro está longe de alcançar a dignidade humana. Em um sistema com inspiração capitalista, temos o fator econômico ditando as regras, onde o humano que deveria ser fim e sagrado em si mesmo, passa a ser meio de uma economia desumanizada, transformando a cada um de nós em produtos, portanto, descartáveis. Como resultado de todo um processo educacional omisso, que não trabalha na formação de uma consciência política, social, econômica e familiar para se viver com maior qualidade esta fase tão prevista na história dos humanos, colhemos o descaso e ausência de qualquer auxílio nesta etapa avançada da vida. Tanto o próprio idoso, quanto os que estão à sua volta, sentem-se sem recursos para o enfrentamento dos desafios vividos nesta fase. Constata-se isto na luta insana de alguns que fazem uso de toda a tecnologia disponível na área estética, para retardarem seu envelhecimento e omitirem a própria idade, como se as rugas e os cabelos brancos fossem sinônimos de queda e exclusão. Incentivados por uma mídia que aquece o sistema econômico, pregando e impregnando o pensamento de todos nós, sugerindo a cada dia que a velhice não tem lugar existencial no mundo, não é difícil iniciarmos um processo profundo de rejeição aos idosos, sem sequer notarmos os equívocos praticados e por isso mesmo, nem sentimos vergonha, como se nós, praticantes de tais atos, nunca fossemos envelhecer. Desde o mundo corporativo, com seus cruéis processos seletivos, que excluem o senior, à carência na área da saúde, previdência social e demais serviços que deveriam estar disponíveis e em pleno funcionamento aos nossos cidadãos idosos, constatamos a inabilidade em nosso país, tanto no universo privado quanto público, para acolher o idoso, e propiciar a ele, não só infra estrutura necessária, mas também a valoração e a dignidade pertinente a cada vida. A longevidade e a qualidade de vida Ë fato que houve uma mudança no quadro populacional; é notável um aumento da população idosa em todo o mundo. Em decorrência deste crescimento e sua demanda houve um avanço da ciência em relação à velhice contribuindo e muito para que a longevidade fosse alcançada. Na virada do século, a expectativa de vida se ampliou de 50 para 80/90 anos; isto significa que podemos viver 1/3 a mais. A duração máxima da vida atualmente é de cerca de 120 anos. A longevidade sem qualidade de vida, nos remete as cenas de horror que assistimos todos os dias nos jornais de nosso país. Estima-se que até o ano 2025 ocorrerá um aumento de 30% na população de idosos. Salvo ocorram profundas mudanças na política governamental tanto no que diz respeito à assistência médica quanto à previdência social, ocorrerá forçosamente um agravamento das condições atuais, já tão precárias, em função deste aumento previsto desta população idosa. As possíveis mudanças estruturais responderão pela melhoria da qualidade de vida da população, mas para que elas possam ocorrer é necessário que haja a transformação das mentes, capazes de construir novos conceitos para se viver uma boa velhice e que direcionem toda a ação política, econômica e sócio cultural. Sabe-se que a pessoa idosa terá sua velhice como conseqüência do que foi sua vida até ali. A personalidade é uma construção. Ninguém é o que é por acaso. É fruto da maneira como viveu cada uma das etapas da vida e daquilo que cultivou. A pergunta que devemos nos fazer é o que temos cultivado enquanto nação, mundo produtivo, escola, família, lazer e religião? A velhice deve ser compreendida não como uma involução, retrocesso, perda, queda, mas sim, como uma evolução natural da vida. A qualidade de vida na terceira idade pode ser definida como a manutenção da saúde, em seu maior nível possível, em todos aspectos da vida humana: físico, social, psíquico e espiritual (Organização Mundial de Saúde, 1991). Propiciar ao idoso diferentes espaços na sociedade requer a humanização de todos e adoção da prática dos bons costumes a partir da nossa história e da valoração da vida em todas as suas etapas, o bem mais precioso, que de graça recebemos e que ainda nos dias de hoje, não sabemos administrá-la competentemente, com base em valores humanos e solidários, apesar de termos sidos agraciados com um solo fértil e um país rico em recursos naturais. A nossa sociedade deve buscar administrar as suas contradições, pois quanto maior o número de contradições menor a qualidade de tudo o que empreendemos. Como uma grande catalisadora, pensar em formas criativas de abrir canais receptivos para que também o idoso contribua efetivamente com as gerações mais novas por meio de seu maior patrimônio: suas experiências e vivências adquiridas durante a sua caminhada existencial. Preservar a autonomia, independência e a dignidade do idoso, implica em sabermos usufruir da beleza que é a vida, em todas as fases de sua natural evolução, com seus desafios, encantamentos, limitações e possibilidades. Qualidade de vida pode ser alcançada a partir de todas as áreas acima relacionadas, mas, acima de tudo, implica na preservação do prazer em todos os seus aspectos. Viver, para muito além da fase em que nos encontramos nesta jornada, é um eterno processo para o compartilhar e o aprender. |
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Rosely Jorge é Psicóloga clínica e organizacional e orientadora vocacional, em São Paulo-SP. É autora de diversos artigos sobre o tema do desenvolvimento humano e presta atendimento psicológico a famílias, adultos, idosos e adolescentes. Também atua em consultoria à empresas, com ênfase no desenvolvimento organizacional. Sites: Publicado no Portal da Família em 19/03/2007 |
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