Ser autentico é uma qualidade que valoriza o ser humano, mas que algumas vezes é indevidamente utilizada como argumento para justificar certas atitudes que, por sua vez, não primam como virtuosas. O fato, por exemplo, de o baderneiro assumir o que faz, não justifica a sua ação, que permanece má e incongruente à sua condição de cidadão.

Ao contrair matrimônio, cada cônjuge assume o compromisso mais importante de suas vidas, o de levar adiante, e preservar às últimas conseqüências aquela relação. Sendo congruentes, ou seja, coerentes, à sua condição de casados estarão se capacitando a serem bem sucedidos neste compromisso.

Em família, a congruência pressupõe que os cônjuges, em cada um de seus atos, têm em conta a preservação dos valores fundamentais do matrimônio. A sinceridade é um dos alicerces da congruência, mas não é o único. Adicionalmente, cada um há de cultivar a prudência de abordar, nas conversas a dois, principalmente aqueles temas que adicionem valor à relação.

À congruência interessa os efeitos que o entrosamento mútuo, os acontecimentos e as respectivas ações produzirão a longo prazo, em prol do objetivo maior, qual seja, a relação a dois. Neste sentido o curto prazo deve ser sempre sacrificado. Trata-se de suportar o desconforto de uma situação incômoda, engolir sapos, deixar para depois, desistir de fazer determinados comentários, etc...

Quem tem pavio curto pode se considerar autêntico por manifestar abruptamente, e com eventual rispidez, a sua opinião. Mas na grande maioria das vezes estará sendo incongruente com sua condição de cônjuge por colocar em risco a relação a dois, ao não levar em conta a situação do outro.

Suponhamos, por exemplo, que estamos convictos de que nosso cônjuge teria agido melhor de outra forma, em uma determinada situação. Dependendo de nosso estado emocional naquele instante, ou das demais circunstâncias, pode ser melhor que nos façamos de desentendido por ora, para abordarmos aquele assunto em um momento mais oportuno.

Segurar a língua faz muito bem ao casal, o que significa que não se deva ser transparente. Claro que sim!! Mas antes de tudo... prudentemente controlado!!

A espontaneidade é um “liberar-se” de inibições que atua de acordo com o impulso do momento. Os atos espontâneos ganham valor por serem autênticos, mas perdem valor quando não são coerentes entre si e quando colocam em risco a perspectiva a longo prazo.

À congruência importa a intencionalidade e a coerência de cada uma de nossas ações. Quando as razões que as motivam têm uma visão a longo prazo... quando a perspectiva que se vislumbra sai do plano horizontal e ganha espessura... estratégia.

Difícil imaginar que os cônjuges devam ser estrategistas. Mas em uma família, o objetivo é claro, e o planejamento fundamental. Que nossas ações e palavras sejam então coerentes a este objetivo e a este planejamento.

Eis que a família é como uma viagem, cujo roteiro belíssimo adquirimos no dia do matrimônio. A coerência ou congruência a este roteiro nos fará chegar a destino certo.

Estamos nós ao volante!! Seja por amor, por ser de uma única peça, por inteligência ou vontade de ferro, permanecemos ao volante!!! Os pneus de nosso carro vão transpondo a passos firmes a aspereza e os defeitos do asfalto que percorremos... mas nem notamos... pois mantemos uma visão magnânima, atentos ao horizonte.

André Pessoa é pai de seis filhos, Mestrado em Orientação Familiar por Navarra, ministra cursos e palestras de Educação de Filhos desde 1995; Graduado pelo IME (Engenharia), Pós-Graduado pela PUC (Administração), FGV (Contabilidade Gerencial), ISE (Programa de Treinamento de Executivos) e Navarra (Orientação Familiar); Consultor da Accenture.
e-mail: andre.v.pessoa@gmail.com

Publicado no Portal da Família em 20/07/2007

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