Pesquisa Datafolha divulgada em 07/10/2007 constatou um expressivo aumento da rejeição ao aborto no Brasil. Para 87% dos entrevistados, fazer um aborto é algo moralmente errado. A maioria declara que daria apoio a um filho ou filha no caso de uma gravidez na adolescência, e rejeita a prática do aborto.
Ao considerar a hipótese de ter uma filha que ficasse grávida ainda adolescente, 82% a apoiariam para que tivesse o filho em qualquer situação. Dariam seu apoio para que ela levasse a gravidez adiante. Apenas 1% dos entrevistados aconselharia o aborto em qualquer situação. Não chegam a 1% os que a aconselhariam a fazer um aborto, caso o pai da criança não quisesse assumir o filho.
Se fosse um filho a engravidar uma menina, 71% o apoiariam para que ele tivesse o filho em qualquer situação. Os que aconselhariam um aborto em qualquer situação não somam 1%, e o mesmo acontece com os que seriam favoráveis à interrupção da gravidez por achar o rapaz muito novo para ser pai.
O resultado da pesquisa é uma ducha de água fria na estratégia pró-aborto do ministro Temporão e confirma uma tendência flagrada em pesquisas anteriores. As campanhas do governo estão de costas para o Brasil real.
Vale acrescentar que, se o projeto do Conselho Federal de Jornalismo estivesse vigorando, caro leitor, hoje certamente eu não estaria escrevendo este artigo. Mas, como a imprensa brasileira é pluralista e defensora da liberdade de expressão, posso, sem nenhum constrangimento, defender meu ponto de vista, que talvez não esteja, necessariamente, em sintonia com a linha editorial de alguns diários. Os jornais não amordaçam. Felizmente. Mas os governos, freqüentemente, gostam de ouvir Samba de Uma Nota Só. Por isso, devemos, todos, defender a liberdade de imprensa e de expressão com vigor e coragem moral.
A legalização do aborto, independentemente dos eufemismos de alguns e da ambigüidade do presidente da República, é prioridade do governo Lula. A opinião pública assiste, atônita, a uma articulada campanha que pretende impor contra a vontade expressa da sociedade, e em nome da "democracia", a eliminação do primeiro direito humano fundamental: o direito à vida.
No tocante ao inegável sofrimento vivido pela gestante, reproduzo o depoimento de uma mãe que, não obstante a dor provocada pela morte do feto anencéfalo, justificou sua decisão de levar a gravidez até o fim. Sua carta, publicada no jornal O Globo, é um contundente recado ao governo e ao Congresso Nacional. "Fui mãe de uma criança com anencefalia e posso afirmar que, durante nove meses de gestação, convivi com um ser vivo que se mexia, que reagia aos estímulos externos, como qualquer criança no útero. Afirmo também que não existe dano à integridade moral e psicológica da mãe. O problema é que estamos vivendo numa sociedade hedonista e queremos extirpar tudo o que nos cause o mínimo incômodo." (...) "Se estamos autorizando a morte dos que não conseguirão fazer história de vida, cedo ou tarde autorizaremos a antecipação do fim da vida dos que não conseguem se lembrar da sua história, como os portadores do mal de Alzheimer", escreveu, há 3 anos, Ana Lúcia dos Santos Alonso Guimarães.
Trata-se de uma carta impressionante e premonitória. A autora se opunha ao aborto anencefálico. Agora, no entanto, o que se pretende é o aborto amplo e irrestrito. A legalização do aborto, estou certo, é o primeiro elo da imensa cadeia da cultura da morte. Após a implantação do aborto descendente (a eliminação do feto), virão inúmeras manifestações do aborto ascendente (supressão da vida do doente) - a eutanásia já está sendo incorporada ao sistema legal de alguns países -, do idoso e, quem sabe, de todos os que constituem as classes passivas e indesejadas da sociedade. Acrescente-se ao drama do aborto, claro e indiscutível, os imensos danos psicológicos e afetivos que provocam nas mulheres. Surpreendeu-me, em recente viagem à Europa, constatar que algumas vozes em defesa da vida nascem nos redutos feministas. O rasgão afetivo apresenta uma pesada fatura e muita gente começa a questionar seus próprios caminhos.
O brasileiro é contra o aborto. Não se trata apenas de uma opinião, mas de um fato medido em pesquisa de opinião. Por isso o governo precisa ir devagar com o andor. A legalização do aborto seria, hoje e agora, uma ação nitidamente antidemocrática. Ademais, existe a questão dos princípios. A democracia é o regime que mais genuinamente respeita a dignidade da pessoa humana. Qualquer construção democrática, autêntica e não apenas de fachada, reclama os alicerces dos valores éticos fundamentais.
Por isso, não obstante a força do marketing emocional que apóia as campanhas pró-aborto, é preocupante o veneno antidemocrático que está no fundo dos slogans abortistas. Não se compreende de que modo obteremos uma sociedade mais justa e digna para seres humanos (os adultos) por meio da morte de outros (as crianças não nascidas). Há um elo indissolúvel entre a prática do aborto, o massacre do Carandiru, a chacina da Candelária e outras agressões à vida: o ser humano é encarado como objeto descartável.
A violência contra a infância abandonada, o surpreendente crescimento da violência infanto-juvenil, o clima de insegurança que se respira nos grandes centros urbanos são a conseqüência lógica da cultura da morte. É inútil enclausurar-se em condomínios fechados, multiplicar guaritas, erguer muros cada vez mais altos. A humanidade humanicida, como afirmou duramente alguém, não pode esperar sensibilidade da geração que deu à luz, porque os filhos não costumam ser mais generosos e dedicados que seus pais.
|
Ver
outros artigos da coluna
|