logotipo Portal da Familia

Portal da Família
Início Família Pais Filhos Avós Cidadania
Vídeos Painel Notícias Links Vida Colunistas
 
André Gonçalves Fernandes
Coluna "Lanterna na Proa"

EFICÁCIA DAS CAMPANHAS DE SAÚDE SEXUAL

André Gonçalves Fernandes

A questão da sexualidade da população adolescente converteu-se em um campo de confronto ideológico ultimamente. Pode-se afirmar, de maneira simplificada, que o debate está reduzido a duas linhas argumentativas. De um lado, afirma-se que a única atitude possível, em um Estado caracterizado pelo pluralismo de opiniões, é a promoção do sexo seguro, mediante a utilização de preservativos e outros métodos contraceptivos (como a pílula do dia seguinte) para evitar gravidezes indesejadas, assim como eventuais doenças sexualmente transmissíveis.

De outra banda, estaria a posição, segundo a qual, justamente em razão desta variedade de estilos de vida, o Estado deveria promover as condutas que ofereçam as melhores possibilidades de se alcançar uma estabilidade afetiva e emocional a longo prazo na vida sexual de seus cidadãos.

Esta opção poderia ser chamada de “sexo responsável”, como contraponto ao “sexo seguro”, o que requereria uma atuação mais integral no campo da educação, abordando diversas facetas, como o estudo da afetividade, da relação liberdade sexual-responsabilidade, muito além da pedagogia sexual de araque que diminui o ato sexual ao mero mecanicismo.

Periodicamente, repetem-se as campanhas de saúde sexual, no mesmo tom monocórdio, tendo, como alvo principal, a população jovem. A justificativa para tanto reside em uma constatação empírica inegável: o aumento do número de abortos, a propagação epidêmica do vírus HIV e o incremento das doenças sexualmente transmissíveis.

E a receita proposta é muito simples: preservativo, muito preservativo. E o Ministério da Saúde ainda vincula a idéia da gratuidade da distribuição, como se fosse algo notável e como se o governo não tivesse dado nada ao cidadão, sem que antes não lhe tivesse tirado...

Considerando o alto custo de tais campanhas, financiadas com nossos impostos, é imperioso saber os resultados que se têm obtido. O fato incontestável é que as campanhas em favor do uso do preservativo resultaram ineficazes — aumentou a porcentagem de grávidas adolescentes entre 1996 e 2006, e os casos de AIDS entre jovens, especialmente do sexo feminino, voltaram a subir — porque a pedagogia sexual “progressista” entendeu por bem banir das aulas a opção moral e a educação dos afetos. Em substituição, vieram o preservativo, a pílula do dia seguinte e, como símbolo de fecundidade da mãe natureza, a versão moderna de uma antiga adoração fálica de povos extintos, o pênis de borracha...

As cifras da população adolescente relativas às gestações abortadas e às gravidezes não desejadas parecem relacionar-se com bastante probabilidade com o descenso da idade de início das relações sexuais, um assunto que tem recebido o devido destaque da mídia.

Por outra parte, chama a atenção dos escassos resultados alcançados com a pílula do dia seguinte, ao acesso de qualquer jovem sem maiores dificuldades. As cifras de gravidezes precoces, segundo os dados do Ministério da Saúde, têm mantido sua evolução progressiva desde a introdução deste novo recurso anticoncepcional de emergência.

 A explicação do fenômeno é de fácil compreensão. Considerando que as possibilidades de gravidez em uma única relação sexual são de 8% e a eficácia da pílula diminui em relação ao tempo transcorrido desde o coito até sua ingestão, evidentemente que a alegada eficácia nem sempre se verifica no caso concreto. Logo, um número enorme de pílulas utilizadas não serviram para dar cabo a nenhuma gravidez, já que esta não ocorrera.

 Ao contrário, a publicidade midiática em torno da pílula do dia seguinte, dando a entender que sua singela ingestão “resolve o problema” de uma gravidez indesejada, fomenta o acréscimo do número de relações sexuais de risco, de sorte que o efeito final alcançado é inverso daquele previsto nas planilhas e relatórios dos burocratas de plantão.

Aliás, são os mesmos que, com o fito de dar um ar eufemistíco à linguagem adotada e oferecer uma embalagem atraente aos olhos do inocente útil, submeteram toda a estrovenga ao vocabulário politicamente correto. Assim, aborto se chama “interrupção gravidez”, máquina de preservativo mudou para “máquina dispensadora de camisa-de-vênus”, gravidez precoce, agora, atende pelo nome de “gravidez não-planejada” e o vulgar pênis de borracha foi substituído por “prótese peniana”.

Não se vislumbra cenário otimista neste tema, a prevalecer a atual política de redução de danos, fulcrada na idéia de “sexo seguro”. Mas o cerne desta estratégia é muito claro: é do padrão que, ao perceber que determinado expediente dá um resultado contrário ao pretendido, decide radicalizar o erro para ver se, com ele, produz um acerto. A contradição desta política de saúde é fétida e não há Chanel nº5 capaz de transformar um gambá num gato de estimação.



no sex

Ver outros artigos da coluna

 

ANDRE GONÇALVES FERNANDES, Post-Ph.D. Juiz de Direito e Professor-Pesquisador. Graduado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP). Mestre, Doutor e Pós-Doutorando em Filosofia e História da Educação pela UNICAMP. Juiz de direito, titular de entrância final em matéria cível e familiar, com ingresso na carreira aos 23 anos de idade. Pesquisador do grupo PAIDEIA-UNICAMP (linha: ética, política e educação). Professor-coordenador de metodologia jurídica do CEU Escola de Direito. Coordenador Acadêmico do Instituto de Formação e Educação (IFE). Juiz instrutor/formador da Escola Paulista da Magistratura (EPM). Colunista do Correio Popular de Campinas. Consultor da Comissão Especial de Ensino Jurídico da OAB. Coordenador Estadual (São Paulo - Interior) da Associação de Direito de Família e das Sucessões (ADFAS). Membro do Comitê Científico do CCFT Working Group, da União dos Juristas Católicos de São Paulo (UJUCASP), da Comissão de Bioética da Arquidiocese de Campinas e da Academia Iberoamericana de Derecho de la Familia y de las Personas. Detentor de prêmios em concursos de monografias jurídicas e de crônicas literárias. Conferencista e autor de livros publicados no Brasil e no Exterior e de artigos científicos em revistas especializadas. Membro Honorário da Academia de Letras da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Titular da cadeira nº30 da Academia Campinense de Letras.

E-mail: agfernandes@tjsp.jus.br

Publicado no Portal da Família em 18/05/2009

 

Divulgue este artigo para outras famílias e amigos.

Inscreva-se no nosso Boletim Eletrônico e seja informado por email sobre as novidades do Portal
www.portaldafamilia.org


Publicidade