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Os estereótipos perdem sua razão de ser nas escolas diferenciadas

O que é melhor: colégios mistos (onde há meninos e meninas em uma mesma classe de aula) ou diferenciados (onde há classes só para meninos e classes só para meninas)?

Leonard Sax é fundador e diretor executivo da "National Association for Single Sex Public Education" (Associação Nacional para a Educação Pública Diferenciada, ou “NASSPE”, na sigla em inglês). Ele empreende uma cruzada para conseguir que a educação diferenciada tenha lugar na escola pública dos Estados Unidos. Seu enfoque põe de lado a ideologia para cair nos braços da ciência.

Na entrevista a seguir, concedida à revista espanhola Magistério e publicada em Diferenciada.org (28/04/2009) ele defende a tese de que separar meninos e meninas nas classes de aula não tem nada a ver com assuntos religiosos ou morais: trata-se simplesmente de aproveitar melhor as suas particularidades biológicas do ponto de vista escolar.

Magistério: As pesquisas sobre as diferenças neurológicas e cognitivas entre os sexos foram virtualmente proscritas durante décadas, mas agora parecem viver uma espécie de renascimento. O que se pode esperar dessas pesquisas nos próximos anos?

Sax: Sem dúvida. Há muitas questões que estamos apenas começando a investigar, inclusive porque os resultados das pesquisas realizadas na última década não são ainda suficientemente conhecidos. É evidente que nos encontramos, hoje, no principiar de uma nova era.

Magistério: O senhor afirma que as habilidades matemáticas e a inteligência espacial, nos rapazes, desenvolvem-se mais cedo, ao passo que o mesmo ocorre com a linguagem em relação às moças. Suponho que em tais afirmações haja lugar para muitíssimas exceções.

Sax: Claro que sim. Deixando de lado as questões educativas, também existem meninos que não gostam de futebol e preferem cozinhar, enquanto há meninas que não gostam de cozinhar e optam pelo futebol. São as crianças que denominamos atípicas, desde uma perspectiva de gênero, mas devemos levar seriamente em consideração este fato, pelos seus próprios riscos. Por exemplo, um menino que prefere cozinhar a jogar tem muito mais probabilidade de sofrer alergias e asma, ou uma depressão severa em seus anos de adolescente, devido a situações de isolamento e importunação que pode vir a sofrer na escola por parte dos colegas.

Magistério: E o que devemos fazer nestes casos?

Sax: Estas crianças se sentem muito melhor adaptadas nos colégios diferenciados do que nos mistos, nos quais costumam ser os mais visados da classe. Naturalmente estamos nos referindo a escolas diferenciadas que sejam bem administradas, nas quais seus responsáveis saibam lidar corretamente com as diferenças entre sexos e dentro de cada sexo. As crianças atípicas do ponto de vista do gênero tendem a encarar os estudos mais a sério, e deste modo podem ser de grande ajuda para outros colegas com problemas, o que permite reforçar sua auto-estima.

Magistério: Segundo alguns dados, a Educação mista está fazendo com que cada vez menos meninas optem por carreiras científicas e menos meninos se achem com vocação para as humanidades ou para as artes. A Educação mista contribui para assentar a opinião de que determinadas áreas são destinadas às meninas e outras aos meninos?

Sax: A Educação mista parte de uma premissa: a assimilação. Juntem-se dois grupos, A e B, e cada vez mais se parecerão um ao outro. Mas isto não tem funcionado assim. O fato é que nas escolas mistas muitas adolescentes, embora não todas, recebem a mensagem de que a informática é um assunto masculino. Tal fato fica mais evidente entre os rapazes, já que um jovem de 15 anos não gostaria, sob nenhuma circunstância de correr o risco de ser taxado de homossexual por freqüentar aulas de desenho ou de história da arte. Tais estereótipos perdem em boa medida sua razão de ser nas escolas diferenciadas.

Magistério: O senhor está de acordo com os argumentos da velha escola a favor da Educação diferenciada? Refiro-me às justificativas que falam do excesso de distrações devido aos hormônios adolescentes?

Sax: De maneira nenhuma. Isso é o que se dizia há 20 anos, mas essa idéia foi completamente superada do ponto de vista empírico. O que temos averiguado recentemente é que se separarmos os meninos com 6 anos, das meninas, conseguiremos enormes progressos escolares em ambos os sexos, mas se só os separarmos aos 16 anos os progressos serão muito menores. A hipótese das distrações ocasionadas pelos hormônios durante a adolescência parece muito sugestiva, embora careça por completo de validade científica.

Magistério: Há quem sugira que o senhor reveste de ciência o que no fundo são colocações religiosas ou morais?

Sax: Não nos Estados Unidos. Este é o tipo de pergunta que me fazem os jornalistas estrangeiros, já que fora do meu país a Educação diferenciada está habitualmente associada à Igreja Católica. Perguntam-me se é esta que financia a minha associação, mas a resposta é taxativamente não. Recebo muitas críticas nos Estados Unidos, embora a maioria provenha de grupos feministas que nos acusam de querer voltar ao passado, àqueles tempos em que as escolas para meninos recebiam mais subvenção e atenção que as escolas para meninas. Não queremos voltar ao passado, em absoluto. Muito pelo contrário, o que pretendemos é avançar para um futuro livre de idéias preconcebidas.

Magistério: O senhor acha que as professoras são mais adequadas para as escolas de meninas, e os professores para as de meninos?

Sax: Não, nada a ver. O importante é que recebam a formação adequada para aproveitarem ao máximo o que conhecemos sobre as diferenças cognitivas entre meninos e meninas.

Magistério: O senhor sustenta que os meninos ouvem pior que as meninas, especialmente quando mais cedo em idade. Nos seus estudos costuma citar um caso real que chegou ao seu consultório, quando era médico de família: um menino de escola primária, que se mostrava distraído e abúlico na sala de aula, diagnosticado com Transtorno por Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) por outro profissional. O senhor detectou que o problema era auditivo, que o jovem mal conseguia ouvir a débil voz de sua professora, e era por causa disso que ele se punha a olhar pela janela ou rabiscava ao léu, sem tirar proveito algum da lição. Obviamente, a solução não era a de aplicar-lhe Ritalin, o medicamento mais conhecido para tratar o Transtorno por Déficit de Atenção e Hiperatividade, como o outro profissional havia receitado. Mas o senhor não se cansa de criticar a facilidade com que se receita este tipo de medicamento. Por que desse alerta?

Sax: As vozes mais autorizadas da psiquiatria nos Estados Unidos vêm afirmando durante anos que este tipo de medicamento não oferece nenhum risco. Agora sabemos que tais "autoridades" receberam milhões de dólares da indústria farmacêutica sem que jamais o tivessem declarado publicamente. Os mesmos indivíduos que deveriam ter pesquisado com rigor os benefícios e malefícios causados por comprimidos como o Ritalin. Os mesmos, junto aos quais temos buscado conselho sobre um tema tremendamente delicado! Dá medo, não é verdade?".

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Fonte: Diferenciada.org - http://www.diferenciada.org/section.php?id=49&id_element=564

Tradução: mcferreira

 

Publicado no Portal da Família em 30/01/2010

 

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