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Homem e mulher: dois modos de trabalhar

Carlota de Barcino

No passado, a cultura organizacional das empresas onde dominava a presença masculina, tendia a criar ambientes de feroz competição, atitudes individualistas e uma enorme burocracia. Atualmente, podemos encontrar um ambiente de trabalho bem diferente, mas nota-se que ainda se faz necessário conhecer as habilidades de homens e mulheres com relação ao trabalho para concilia-las do modo mais adequado.

Desde a infância, a dinâmica de ação de ambos os sexos é muito diferente. Há mais de 20 anos foram realizados estudos sobre grupos de meninos e meninas em suas brincadeiras [1]. Eles são os adultos de hoje, que trabalham e dirigem empresas. Durante sua infância, os meninos brincavam em grupos grandes e heterogêneos e as meninas em grupos pequenos, de duas a quatro, constituindo relações de especial amizade e desenvolvendo sua sensibilidade. Mas também diferiam nos tipos de brincadeiras escolhidas: as dos meninos eram mais competitivas, requeriam maior grau de habilidade e provocavam contínuas disputas que deveriam ser resolvidas com agilidade. As meninas, ao contrário, preferiam brincadeiras mais sociais nas quais o sucesso de uma dependia dos erros das outras e se mostravam mais dispostas a interromper sua brincadeira em caso de disputas, antes que arriscassem a relação de amizade ou de sentirem-se feridas.

No âmbito esportivo, acontece algo semelhante. Chama a atenção o caso da primeira equipe feminina de corrida de barcos da Copa Americana [2]. Em sua primeira regata, disputando o primeiro lugar com uma equipe de homens, perderam. Uma vez que o nível de preparação da equipe era excelente, resolveram analisar as causas, e identificaram como sendo motivo principal o fato de que quando deviam tomar uma decisão num momento crítico, optavam pela conclusão em equipe e a discussão conjunta. Ao contrário, a equipe vencedora executou a ordem daquele que havia sido escolhido como líder. Ele contava com certos conhecimentos mas, sobretudo, com a capacidade de assumir o comando e os riscos que sua decisão implicasse. São óbvias as vantagens do trabalho em equipe pelo qual as mulheres haviam optado, mas há certas situações, no mundo das empresas onde se requer uma liderança: aquele que tem maior informação, mas também certa segurança em si mesmo, toma a decisão.

Descrevemos estas tendências porque, tanto os modelos de comportamento das crianças nas brincadeiras, como os dos desportistas em suas competições, se reproduzem no mundo do trabalho. Os homens aprenderam a competição saudável, a independência, a organização de um grupo homogêneo. Definiram a estratégia do melhor, respeitando a hierarquia.

Num estudo de 1990, foi pedido a 500 diretores de empresa, homens e mulheres, que descrevessem as características de um diretor de êxito. A maioria falou de competitividade, habilidade para liderar, confiança em si mesmo, objetividade e desejo de assumir responsabilidades. Qualidades que os empregados aplicaram a seus diretores masculinos e só a uma de cada três mulheres diretoras. Delas se destacava, sobretudo, seu caráter compreensivo, sua inteligência, sua sensibilidade e simpatia com os outros, qualidades que declaravam encontrar menos em seus chefes homens.

Os diferentes modos de trabalhar se manifestam em outros aspectos numa reunião: a mulher escuta e dá a palavra ao que tem mais dificuldade para se fazer ouvir; suas reuniões são mais demoradas e tratam de muitos temas de uma só vez. Além disso, diante de uma crítica relacionada com seu trabalho, ela toma como reprovação pessoal. No trato com seus companheiros, leva em consideração os sentimentos dos outros e percebe na hora seu estado de espírito. Nas negociações é mais reticente para tomar decisões até achar que possui toda a informação necessária para isso. E numa entrevista de trabalho, enquanto o homem apresenta maior confiança em si mesmo e “se vende” melhor ao empregador, ela diminui a importância do seu papel e enfatiza o trabalho da “sua equipe”.

Os homens não gostam de pedir ajuda, mas procuram conquistar a situação por si mesmos, como se tratasse de um desafio. No trato com as pessoas, centram-se mais na tarefa que deve ser realizada que na construção de uma relação de confiança e reciprocidade; assim, recorreriam sem problemas a um velho companheiro que não encontram há anos, contanto que consigam atingir o objetivo, enquanto que a mulher se sentirá incomodada de pedir um favor a alguém com quem não tiver construído uma relação pessoal de confiança.

Do mesmo modo, tiram proveito de qualquer oportunidade para criar redes de contatos, mesmo que isso implique dedicar um maior tempo de sua vida pessoal. Enquanto a mulher opta por trabalhar mais duro e não sair do seu escritório para obter o reconhecimento do chefe, o homem é capaz de trabalhar com maior eficácia, aproveitando seus momentos fora do escritório, qualquer encontro ou oportunidade social que lhe permita interagir com seus superiores ou outros que possam dar o impulso necessário à sua carreira.

Entretanto, o mundo da empresa é um mundo complexo e nenhum dos dois modelos de trabalho pode proporcionar uma organização equilibrada sem o complemento do outro. Mas não apenas é necessário conseguir um equilíbrio entre as habilidades masculinas e femininas no seio da organização; também é preciso que este equilíbrio esteja presente em cada homem e cada mulher, pois, como pessoas, eles se enriquecem mutuamente. As mulheres humanizarão e acrescentarão, com sua sensibilidade, a tendência competitiva deles e os homens ajudarão suas companheiras de trabalho animando-as a tomar decisões, a confiar em si mesmas e a trabalhar inteligentemente e com flexibilidade.
                                                                                                                               
Notas:
[1] Em seu livro Different Voice, Carol Giligan discute as diferenças entre meninos e meninas de 10 e 11 anos, baseando-se no estudo realizado por Janet Lever em 1976: “Diferenças nas brincadeiras das crianças segundo seus sexos”. Social Problems, 23, 1976.

[2] Focalizado numa série especial de televisão na cadeia Lifetime, nos EUA (citada por Donna Brooks em “Seven Secrets of Succesful Women”, McGraw Hill, 1997).

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Fonte: MujerNueva

http://www.mujernueva.org/articulos/articulop.phtml?se=8&ca=1&te=1&id=155
 

Publicado no Portal da Família em 20/03/2014

 

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