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Ideologia de Gênero e a experiência fracassada do caso Reimer

A ideologia de gênero é o passo mais radical do feminismo radical, pois pretende eliminar as diferenças naturais e interpretar com base na cultura, não na biologia, a condição sexuada do homem e da mulher. Mas a história mostrada a seguir serve de advertência do que pode acontecer quando ideólogos e cientistas se apaixonam por uma bela teoria e ignoram os fatos, a realidade e a natureza.

John William Money (1921-2006) foi um psicólogo da Jonhs Hopkins University de Baltimore, sexologista e autor de livros, especializado em pesquisas sobre identidade sexual, mudança de sexo e biologia do gênero. Sua influência foi decisiva para a criação da teoria da identidade de gênero. Ele acreditava que não era tanto a biologia que determinava se somos homens ou mulheres, mas a maneira como somos criados, e já a partir da década de sessenta tinha pretendido demonstrar que a sexualidade depende mais da educação do que dos genes.

Dr. John Money ficou famoso devido a uma polêmica, fracassada e vergonhosa experiência médica. As suas cobaias foram dois bebês gêmeos: Bruce e Brian Reimer. Um infeliz acidente com Bruce proporcionou a Money a oportunidade de transformar o corpo do bebê – por cirurgia plástica e com o consentimento dos pais – num corpo com aparência feminina.

Em 1965, na cidade de Winnipeg, Manitoba, no Canadá, Janet e John Reimer, um jovem casal de fazendeiros mal saído da adolescência deu à luz aos meninos Brian e Bruce, um par de gêmeos. Com a idade de 6 meses, após seus pais se preocuparem com a maneira como ambos urinavam, os meninos foram diagnosticados com fimose. Com a idade de 8 meses eles foram encaminhados para uma cirurgia de circuncisão, tida como de rotina. Em 27 de abril de 1966, um urologista realizou a operação utilizando um equipamento elétrico de cauterização que apresentou problemas diversas vezes. Na última tentativa, o procedimento não saiu como o planejado e o pênis de Bruce ficou totalmente queimado. A família ficou arrasada. Nos anos 60 uma cirurgia plástica reconstrução de pênis não era uma opção, então não havia nada a ser feito. Com relação ao irmão, o s médicos optaram por não operar Brian, cuja fimose logo desapareceu, sem qualquer intervenção cirúrgica [1] [2] [3] [4].

Alguns meses depois, os pais de Brian e Bruce viram na televisão uma entrevista com o Dr. John Money falando sobre as operações de mudança de sexo em transexuais, na qual ele dizia que os bebês nasciam “neutros” e teriam sua identidade definida como masculina ou feminina (identidade de gênero) exclusivamente em função da maneira pela qual são criados Acreditando que tal ideia poderia ser apropriada para o problema do filho mutilado, procuraram aquele especialista, que imediatamente se dispôs a atendê-los, e indicou uma mudança cirúrgica de sexo. Ele e outros médicos que trabalhavam com crianças nascidas com genitália anormal acreditavam que um pênis não podia ser substituído, mas que uma vagina funcional poderia ser construída cirurgicamente, e que seria mais provável que Bruce tivesse uma mais bem sucedida maturação funcional sexual como uma menina do que como um menino [3].

Com a idade de 22 meses, foi realizada uma cirurgia para redefinir o sexo e remover os testículos de Bruce .  Money orientou os pais a cria-lo agindo como se a criança tivesse nascido com o sexo feminino, mantendo tudo sob segredo e sem mais falar do que lhe tinha ocorrido de fato, e foi-lhe posto o nome de Brenda [1] [3].

Os pais não sabiam, mas Money era conhecido como uma espécie de guru da sexualidade (se fazia chamar “missionário do sexo”) e defendia comportamentos sexuais ousados, como casamentos “abertos”, nos quais os cônjuges poderiam ter amantes com consentimento mútuo; estimulava o sexo grupal e bissexual, além de, em momentos mais extremados parecer tolerar o incesto e a pedofilia [1] [2].

O interesse de Money no caso não poderia ser maior. Como defendia a ideia de que as diferenças de comportamento entre os sexos eram decorrentes de fatores socioculturais e não biológicos (nature versus nurture) - tese aclamada pelas feministas de então -, a mutilação de Bruce oferecia-lhe uma excelente oportunidade de colocar à prova sua teoria. Havia - em sua opinião - a indicação para a mudança cirúrgica de sexo, os pais tratariam a criança conforme sua orientação e o experimento teria uma contraprova natural, pois havia um irmão gêmeo idêntico, univitelino, compartilhando o mesmo ambiente familiar e que serviria de controle [1]. No eterno debate sobre natureza e educação, ia demonstrar que a educação é tudo. Simone de Beauvoir e Sartre já tinham feito triunfar a ideia de que é o ser humano quem goza de liberdade, não a natureza [2].

O Dr. Money deu apoio psicológico para a cirurgia e na posterior reeducação sexual por cerca de dez anos, para consultas e para avaliar o resultado.

Os Reimer seguiram ao pé da letra as instruções de Money, mas as coisas não correram conforme o previsto. Janet, a mãe, conta o que aconteceu quando tentou vestir Brenda com o seu primeiro vestido, pouco antes de fazer dois anos: “Tentou arrancá-lo, rasgá-lo. Lembro-me de que pensei: <<Meu Deus, ele sabe que é um menino e não quer vestir-se como uma menina!>>” “Brenda” também passou a ser rejeitado na escola, onde bem cedo manifestou estranhas “tendências lésbicas”, apesar dos hormônios que o faziam tomar.

Enquanto toda a família via aflita o fracasso da operação, no decorrer daqueles anos 70 Money proclamava aos quatro ventos que a sua experiência era um êxito rotundo. Num artigo publicado em Archives of Sexual Behaviour, escreveu: “O comportamento da menina é claramente o de uma menina ativa, bem diferente das formas masculinas do seu irmão gêmeo” e que “ Os gêmeos estavam felizes em seus papeis estabelecidos: Brian era um menino forte e levado; ‘Brenda’, sua irmã', era uma doce menininha”.

Em função dessa experiência, Money ficou mais famoso. A revista Time,  numa longa matéria, afirmava que “este caso constitui um apoio férreo à maior das batalhas pela libertação da mulher: o conceito de que as pautas convencionais sobre a conduta masculina e feminina podem ser alteradas”.

Nesse interim, os gêmeos eram obrigados a seguir periodicamente sessões de “psicoterapia” com Money. Segundo consta, tais sessões foram profundamente traumáticas para ambas as crianças. Nelas, possivelmente num esforço de estabelecer as diferenças de comportamento sexual entre homem e mulher, Money lhes mostrava fotos sexuais explícitas e  teria feito as crianças despirem-se e encenarem posições de coito, com “Brenda” desempenhando o papel sexual passivo. Em "pelo menos uma ocasião", o Dr. Money tirou uma "fotografia" das duas crianças fazendo essas atividades. A razão do Dr. Money para estes vários tratamentos era a sua crença de que "jogos sexuais infantis" eram "importantes para uma identidade de gênero adulta saudável" [1] [2] [3].

Nesse ínterim, a mãe, que se sentia culpada e desorientada com a situação da “filha” entrou em depressão e, a certa altura, tentou o suicídio. O pai desenvolveu um alcoolismo grave e o irmão gêmeo Brian começara a usar drogas e a praticar atos de delinquência ao atingir a adolescência.

Quando o Dr. Money começou a pressionar a família para “Brenda” fazer uma cirurgia de construção de uma vagina, a família interrompeu as visitas de acompanhamento. Dos 22 meses de vida até seus primeiros anos como adolescente, “Brenda” urinou por meio de um orifício que cirurgiões fizeram em seu abdômen. Foi-lhe dado estrogênio durante a adolescência, para induzir o desenvolvimento das mamas. D estruída pelas intermináveis sessões psiquiátricas e pela medicação com estrogênio, c om a idade de 13 anos, “Brenda” estava experimentando depressão suicida, e disse a seus pais que iria cometer suicídio se eles o fizessem ver o Dr. John Money novamente.

Não tendo mais contato com a família, visto que as visitas foram suspensas, o Dr. John Money não publicou mais nada sobre o caso. Mas também não informou ao público que a mudança não havia sido bem sucedida e continuou por muito tempo a permitir que as pessoas acreditassem que ela tinha sido bem sucedida [3] [4].

Como inexplicavelmente deixou de publicar as evoluções do caso, o fato chamou a atenção de um pesquisador rival, Dr. Milton Diamond, da Universidade do Havaí, que procurou informações e reconstruiu a verdade sobre o mesmo, publicando-o num artigo em coautoria com Keith Sigmundson, nos  Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine [1].

A verdade descrita por Diamond era muito diferente da versão sustentada por Money. Desde os dois anos, “Brenda” rasgava suas roupas de menina e se recusava a brincar com bonecas, disputando com o irmão Bruce seus brinquedos. Na escola, era permanentemente hostilizada pelo comportamento masculinizado e pela insistência em urinar de pé. Queixava-se insistentemente aos pais por não se sentir como uma menina. Mantendo as orientações de Money, os pais diziam-lhe que era uma “fase” que logo superaria [1].

Não aguentando mais a situação, os pais consultaram um psiquiatra de sua cidade, que sugeriu dizer toda a verdade para “Brenda”. Em 1980, seu pai contou-lhe então a verdade, e isso teve um efeito profundo e transformador. Posteriormente, “Brenda/Bruce” disse: “De repente, tudo fazia sentido. Ficava claro por que me sentia daquela forma. Eu não estava louco”.

“Brenda”, aos 14 anos, imediatamente se engajou numa busca do sexo perdido. Fez inúmeras cirurgias para fechar sua vagina artificial, recompor a genitália masculina com a implantação de próteses de pênis e testículos, retirar os seios crescidos a base de estrógenos, além de iniciar tratamentos hormonais para masculinizar sua musculatura. Significativamente, não retomou seu nome inicial escolhendo chamar-se “David”. Apesar de todas as cirurgias e da nova identidade masculina, mergulhara também numa séria depressão e tentou suicídio aos 20 anos. Mas em 22 de setembro de 1990, ele se casou com Jane Fontaine e se tornou o padrasto de três filhos [1] [3].

Quando tinha 30 anos, David foi encontrado por Diamond, que, como dito acima, desconfiara do motivo que levara Money a interromper, sem maiores explicações, o relato de um caso que o reputava de tanto sucesso. Somente aí David soube que, até então, seu caso era mundialmente conhecido, e que tinha sido imortalizado como caso 'John/Joan', em artigos e livros de teoria médica e psicológica, atestando o 'sucesso' da teoria de Money, e estabelecendo os protocolos sobre como tratar crianças hermafroditas e pessoas que sofreram algum tipo de mutilação como a perda do pênis. [1] [5]

Indignado com tal impostura, David resolveu colaborar, dando origem ao trabalho que recolocou a verdade em circulação, engajando-se numa campanha para evitar que outros passassem pelos mesmos sofrimentos que ele tivera de suportar. O trabalho de Diamond foi largamente divulgado e chegou à grande mídia, jornais e televisões norte-americanos. Se não fosse pelo trabalho detetivesco de Diamond, tudo ficaria encoberto [1].

Posteriormente, John Colapinto, redator da revista  Rolling Stone, em conjunto com David escreveu sua biografia, que tomou o nome de  As Nature made him - The Boy who was raised as a girl. Os lucros da publicação foram divididos meio-a-meio entre Colapinto e David. Tempos depois, David perderia em investimentos malsucedidos todas as suas economias advindas dos direitos autorais de sua biografia e de um futuro filme nela baseado (o estúdio Dreamworks de Spielberg, desenvolve um projeto para futura realização).

Em 2002, o irmão gêmeo Brian, que sofria de esquizofrenia, suicidou-se com uma overdose de antidepressivos.

David nunca pôde superar o seu trauma. “Daria qualquer coisa para que um hipnotizador conseguisse apagar todas as recordações do meu passado. É uma tortura que não suporto. O que fizeram com o meu corpo não é tão grave como o que provocaram na minha mente”, tinha dito.

Em 2 de maio de 2004, sua esposa Jane, cansada do caráter soturno e melancólico do marido, após 14 anos de casamento, lhe disse que queria a separação. Na manhã de 5 de maio de 2004, David foi a uma mercearia, e cometeu suicídio dando um tiro na própria cabeça. Ele tinha 38 anos.

Seu corpo está enterrado no cemitério Saint Vital Cemetery, Winnipeg, Manitoba, Canadá [6].

O Dr. John William Money continuou até o fim da vida como professor  emeritus  na Johns Hopkins University. Na época do suicídio de David Reimer foi procurado pela imprensa, mas não quis manifestar-se. Suas ideias sobre a Ideologia de Gênero continuam a ser divulgadas.

foto de David Reimer

Foto de David Reimer

Você também está convidado a reagir contra essa ditadura ideológica, assinando a petição aos deputados, pedindo a não inclusão da Ideologia de Gênero no PNE.

Basta clicar no link http://www.citizengo.org/pt-pt/5312-ideologia-genero-na-educacao-nao-obrigado

 

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Fontes:

[1] Psicanálise em debate: O caso de David Reimer e a questão da identidade de gênero, por Sérgio Telles. Psychiatry on line Brasil - Part of The International Journal of Psychiatry - Junho de 2004 - Vol.9 - Nº 6 - Consultado em 31/03/2014 - http://www.polbr.med.br/ano04/psi0604.php

[2] Ideologia de gênero: A Ideologia contra Biologia, por José Ramón Ayllón - - Consultado em 31/03/2014 - http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo916.shtml

[3] David Reimer - Wikipédia, a enciclopédia livre - Consultado em 31/03/2014. http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Reimer

[4] Vídeo do documentário Dr. Money And The Boy With No Penis - Consultado em 31/03/2014. http://documentarystorm.com/dr-money-and-the-boy-with-no-penis/

[5] Documentário mostra gêmeo criado como menina após perder pênis - 24/11/2010 - - Consultado em 31/03/2014. http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2010/11/documentario-conta-drama-de-gemeo-criado-como-menina-apos-perder-penis.html

[6] Find A Grave: David Reimer - Consultado em 31/03/2014. http://www.findagrave.com/cgi-bin/fg.cgi?page=gr&GRid=20309661

 

Publicado no Portal da Família em 31/03/2014

 

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