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China: O lugar onde visitar os pais virou lei. E no ocidente? Corpo de holandesa de 74 anos morta há 10 anos é encontrado em sua casas

Repercutiu em todo o mundo o anúncio de uma lei que entrou em vigor China pune com cadeia os filhos que não visitarem os pais idosos. Ao tornar a reverência aos progenitores uma obrigação, o governo chinês tenta atenuar um dos inconvenientes da profunda urbanização do país. A notícia dá margem a muitas reflexões sobre o assunto.

A notícia é a seguinte (versão publicada no jornal The New York Times, por Edward Wong e no jornal O Estado de São Paulo, de 07/07/2013, tradução de Celso Paciornik):

No folclore chinês há estórias como a do discípulo de Confúcio que come capim enquanto viaja com sacos de arroz para entregar a seus pais, e a do homem que adorava efígies de madeira de seus pais.

Mas, para as autoridades chinesas, aparentemente já não basta recontar as histórias e fazer recomendações paternais para ensinar às crianças a importância da reverência pelos pais, possivelmente a virtude tradicional mais prezada na sociedade chinesa.

Na segunda-feira, o governo chinês promulgou uma lei que obriga filhos adultos a visitarem seus pais idosos. A lei, intitulada Proteção dos Direitos e Interesses dos Idosos, tem nove cláusulas que estabelecem os deveres de filhos.

Os filhos devem voltar para casa "com frequência" para visitar seus pais, diz a lei, e enviar-lhes ocasionalmente saudações. Empresas devem conceder a seus empregados tempo suficiente de folga para eles visitarem seus pais. No entanto, o fato de as autoridades sentirem a necessidade de fazer do dever filial um assunto legal é um reflexo das mudanças monumentais em toda a sociedade chinesa.

Muitos pais idosos na China, e em outros países industrializados, se queixam hoje em dia por não verem seus filhos o suficiente. E os filhos dizem que a agitação da vida cotidiana, especialmente nas cidades em rápida expansão, os impede de arranjar tempo.

"A economia chinesa está prosperando e muitos jovens se mudaram para as cidades e para longe de seus pais idosos nas aldeias", diz Dang Janwu, vice-diretor do Centro de Pesquisas sobre Envelhecimento da China. "Essa é uma das consequências da urbanização chinesa. O sistema de bem-estar social consegue atender às necessidades materiais dos idosos, mas no que se refere às necessidades espirituais, uma lei como essa é muito necessária." Dang disse que a lei já é um sucesso ao promover uma importante discussão.

Outros têm se mostrado mais céticos. Na segunda-feira, o romancista Gui Cheng disse aos 1,3 milhão de seguidores de seu microblog: "O parentesco é parte da natureza humana. É ridículo transformá-lo em lei. É como pedir que pares que se casaram tenham uma vida sexual harmoniosa".

A questão de pais idosos abandonados é real na China. Em 2011, a agência noticiosa estatal Xinhua publicou um artigo dizendo que quase a metade dos 180 milhões de pessoas com 60 anos ou mais vivia separada de seus filhos. Pessoas que residem numa cidade diferente dos pais, incluindo as legiões de trabalhadores migrantes, geralmente só encontram tempo para voltar para casa durante o feriado do Ano-Novo Lunar.

No mesmo dia em que a nova lei entrou em vigor, um tribunal na cidade oriental de Wuxi decidiu que um jovem casal teria de visitar a mãe de 77 anos - que havia processado a filha e o genro por negligência - ao menos a cada dois meses para atender a suas "necessidades espirituais", além de lhe pagar uma indenização, segundo organizações noticiosas chinesas.

"Apoio mental é um aspecto importante da proteção dos direitos e interesses dos idosos", disse o presidente do tribunal, Yuan Ting, segundo a agência Xinhua.

O texto clássico usado durante seis séculos para ensinar a importância de respeitar os pais foi Os 24 Paradigmas da Piedade Filial, uma coletânea de contos folclóricos escritos por Guo Jujing. Em agosto do ano passado, o governo chinês publicou uma nova versão, supostamente atualizada para os tempos modernos, para que os jovens a considerem relevante. O novo texto diz para os filhos comprarem seguro-saúde para seus pais e lhes ensinarem a usar a internet.

O Guangzou Diary, um jornal oficial, publicou um artigo em outubro sobre um homem de 26 anos que empurrou sua mãe inválida por 93 dias numa cadeira de rodas até um destino turístico tropical popular na Província de Yunan. O artigo o declarou "de longe o melhor exemplo de bom filho" em anos.

"Quem não quer visitar a casa dos pais frequentemente? O que é considerado frequente?”, reclama um dos usuários do Weibo, a versão chinesa do Twitter. "Nós todos sabemos como ser carinhosos com nossos pais idosos, mas, às vezes, nós somos muito ocupados tentando ganhar a vida e a pressão é muito grande", comenta o mesmo usuário.

"Está certo que ninguém nos pague para visitar nossos pais, mas existe alguém que poderia nos dar dias de folga para fazer isso?".

Trabalho excessivo, com muitas horas de trabalho por dia e pouca folga, mas com muita gente esperando para assumir uma vaga nas indústrias, faz com que os empregados não se sintam motivados a se ausentar para viajar para as vilas onde moram seus pais.

Idosos

A questão de como lidar com os pais que estão envelhecendo é um crescente problema na China.

De acordo com estatísticas oficiais do governo chinês, mais de 178 milhões de pessoas na China tinham mais de 60 anos de idade no último censo, de 2010. As projeções do governo são de que esse número dobre até 2030.

E enquanto a população da China envelhece, proliferam na mídia os casos de idosos que são renegados pela família, como a história de uma avó de 91 anos de idade que foi machucada e forçada a sair de sua própria casa na província de Jiangsu, no sul da China, depois de ter pedido um pouco de arroz doce para a cunhada.

Outro caso semelhante que causou grande comoção foi o de um fazendeiro da mesma província que colocou a esposa, de 100 anos de idade, para dormir numa casa de criação de porcos.

Mas mesmo com estas histórias, muitas pessoas parecem não apoiar a Lei do Direito dos Idosos. "Laços familiares deveriam ser baseados em emoções espontâneas", argumenta um usuário do Weibo.

No Ocidente

Embora essa notícia possa parecer no mínimo estranha para muitas pessoas, problemas semelhantes ocorrem em muitos países ocidentais. Há muitos casos de idosos que vivem praticamente abandonados por seus filhos ou parentes, por exemplo, na Inglaterra, Canadá e alguns outros países. São frequentes casos de a polícia encontrar idosos falecidos há vários dias em suas casas, após alguma denúncia de vizinhos que notaram o mau cheiro ou estranharam a falta de movimentação na casa.

Nesses países mais ricos, o serviço público até tenta minimizar o problema oferecendo serviços de auxílio para levar idosos a consultas médicas ou compras, por exemplo, mas fica evidente que esses esforços não suprem o apoio mental e espiritual que seriam proporcionados pelos laços familiares mais fortes.

Esse aumento de casos de idosos isolados deveria ser estranho no ocidente devido à formação e tradição cristãs desses países. De fato, o quarto dos Dez Mandamentos expressa «Honra pai e mãe, a fim de prolongares os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te vai dar» (Ex 20, 12). Indica a ordem da caridade, pois significa que Deus quis que, depois de Si, honrássemos os nossos pais, a quem devemos a vida e que nos transmitiram o conhecimento de Deus. Dirige-se expressamente aos filhos nas suas relações com o pai e a mãe, porque esta relação é a mais universal. Mas diz respeito igualmente às relações de parentesco com os membros do grupo familiar. Exige que se preste honra, afeição e reconhecimento aos avós e antepassados. O respeito por este mandamento proporciona, com os frutos espirituais, os frutos temporais da paz e da prosperidade. Pelo contrário, a sua inobservância acarreta grandes danos às comunidades e às pessoas humanas.

Razões para esse fenômeno nos países ocidentais podem ser muitas, como, por exemplo, a crescente descristianização da sociedade nesses países, e a diminuição do tamanho das famílias provocada pela tendência ao filho único, que faz com que a cada geração se diminua cada vez mais a quantidade de parentes nas famílias: na primeira geração ocorre o sumiço de irmãos, e na segunda já não existem mais primos e tios.

Mas parece que somente na velhice as pessoas se dão conta do que decorre de filhos pouco socializados em família, criados para viver indiferentes aos outros. M., uma brasileira que mora na cidade canadense de Quebec conta como sua idosa vizinha se comoveu certo dia ao constatar que uma jovem estrangeira gostava de conversar com ela frequentemente, enquanto seu filho passava meses sem nem telefonar. E M. narra ainda que, quando se ofereceu para acompanhar a idosa ao médico, foi duramente repreendida pelo próprio marido, canadense, para não se envolver, e que caso a vizinha precisasse de acompanhante, deveria ligar para o serviço social.

Na Holanda, a polícia de Roterdã encontrou o corpo de uma mulher de 74 anos que estava morta há dez anos em sua casa sem que ninguém notasse, segundo informou a emissora de TV holandesa "NOS" (EFE, Yahoo! Notícias, Dutchnews, 22/10/2013).

A polícia informou que a mulher parece ter morrido de causas naturais. Eles estimaram há quanto tempo ela tinha morrido analisando as datas da grande quantidade de cartas fechadas que encontram atrás da porta.

Os vizinhos asseguraram que não sentiram nenhum cheiro estranho e pensavam que a mulher tinha ido morar com a filha, afirmou a emissora.

Até o momento a polícia não conseguiu localizar parentes. Porta-voz da polícia disse que "Ninguém parece ter perdido ela, e ninguém veio a verificar". A mulher recebia sua pensão por depósito bancário, e por isso as contas de aluguel e eletricidade eram automaticamente pagas.

O conselho da cidade informou que vai investigar como o desaparecimento da mulher pode ter passado despercebido por tanto tempo.

A previdência da Holanda alertou que este tipo de caso será cada vez mais frequente. "A tendência é que os idosos vivam cada vez mais tempo em suas casas", reconheceu o diretor da organização, Jan Romme, que disse que só idosos que estão muito doentes costumam se mudar para asilos.

De acordo com um estudo do Serviço de Saúde Pública de Amsterdã (GGD), citado pela emissora, a cada dia aparece na cidade o corpo de uma pessoa morta há mais de 24 horas. Além disso, cinco vezes por ano é encontrado alguém morto há mais de dois meses.


Publicado no Portal da Família em 22/11/2013

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