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É
mentira dos paisagistas,
quando dizem:
o
belo deve ser o grande canion;
as paisagens da tundra gelada;
os coelhos, os alces da planície;
um olho distante,
a mata
em flor.
Belo
também deve ser à tarde rubra
(que eu mesmo cantei,
dos meus paredões, Ibiapaba,
a serra vasta),
o sol rasgando a montanha,
quando sescondia
pro outro dia...
Também
belo, o sorriso
da mulher
(ou do homem, conforme)
amada, amado,
que o amor é belo
e ninguém contesta.
Nenhuma
beleza maior,
porém, do que a dos dois-dentes,
dois,
podem ser os de cima,
podem ser os de baixo,
quatro;
também pode ser assim, quatro,
ensaiados de um sério para um sorriso,
os dentes ou somente o lugar deles, dentes;
uma gengiva, melhor assim, só a gengiva,
banguela, ao nascedoiro do que há de vir
a criança, os dois meses
e o seio pleno,
derramado,
pingado, apojado, cheio:
meu filho.
A
profunda paz de fêmea-mãe,
que a voz e os olhos se transmudam,
se regaçam de multi,
multitons de paraíso deve ser igual
,
e os cherubins
abaixam, trêmulos, as espadas, deixam-na entrar...
que lá,
por certo, e o sorriso,
um dia fora assim mesmo:
mãe,
sou eu, amor.
Salvador,
tarde quente, 27.10.1995
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