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Auto-avaliação das virtudes humanas
A EDUCAÇÃO DA SOBRIEDADE

Descrição operativa (como funciona)

"Distingue entre o que é razoável e o que é imoderado e utiliza razoavelmente seus cinco sentidos, seu tempo, seu dinheiro, seus esforços, etc., de acordo com critérios retos e verdadeiros."

A MANEIRA PESSOAL DE VIVER A SOBRIEDADE

1. Habitualmente sou consciente de que preciso usar bem tudo o que possuo, meu tempo, meu esforço, meu dinheiro, meus sentidos ao serviço dos demais e de Deus.

(Um primeiro requisito da sobriedade é reconhecer que alguém possui uma série de bens dos quais pode dispor de diferentes maneiras. Em segundo lugar, é necessário ser consciente de que os posso usar conforme a critérios retos ou de acordo com critérios inadequados, ou deixar-me levar pelo impulso de cada momento).

2. Posso afirmar categoricamente que não estabeleci o prazer como fim de minha vida.

(De fato é um dos fins mais comuns, mas certamente de uma maneira inconsciente. Fazer as coisas pensando nos benefícios para os demais requer um esforço. E esforçar-se não está em moda na atualidade).

3. Ao distribuir meu tempo, gastar meu dinheiro ou dedicar meus esforços, distingo entre o que é realmente um capricho e o que é razoável.

(A sociedade de consumo produz muitas tendências. O capricho se refere a gastar o próprio em qualquer coisa prazeirosa sem pensar no bem que pode produzir o gasto em si próprio ou nos demais).

4. Reconheço a influência que têm sobre mim a publicidade, o que fazem ou o que adquirem os demais, ou a maneira que pessoas influentes empregam seu tempo.

(Um exercício interessante pode ser anotar os últimos gastos realizados – em tempo, esforço ou dinheiro – e considerar quais foram os motivos reais do gasto).

5. Ao comer, tento ficar com um certo desejo de comer mais ou seguir adiante, isto é, interrompo antes de ficar “plenamente” satisfeito.

(A saturação em qualquer campo costuma indicar uma falta de sobriedade. É mais evidente em relação a comida ou a bebida, mas é igualmente aplicável a outros gastos).

6. Creio que os gastos que realizo não podem ser considerados como faltas de justiça – para os mais pobres, por exemplo - por uma pessoa que conhece minha situação.

(A sobriedade não requer entregar todas as posses, mas usá-las bem. Por isso, possíveis faltas de sobriedade neste sentido unicamente podem ser apreciadas por pessoas que conhecem a situação completa do outro.

7. Cuido das posses próprias e dos bens comuns com o fim de assegurar sua adequada utilização e aproveitamento.

(Trata-se de usar os bens a serviço dos demais. Algumas pessoas prestam este cuidado como um fim em si, exigindo que a casa esteja sempre arrumada, por exemplo, sem pensar na importância da convivência familiar, que pode requerer uma certa desordem, pelo menos temporária).

8. Dedico meu tempo de uma maneira harmoniosa à família, ao trabalho, a meus deveres de cidadão, a meus amigos e a Deus sem excessos nem faltas.

(O uso do tempo é um fator essencial da sobriedade. Valeria a pena dizer anotar durante uma ou duas semanas, como se gasta o tempo e, depois de analisar, concluir se é uma dedicação adequada).

9. Não estou atado a nenhuma posição, nem a nenhuma rotina, nem a nenhuma atividade.

(Se mede o grau de atadura muitas vezes pelo mau humor que surge quando a pessoa não pode dispor da posição - a cadeira favorita -, quando se quebra uma rotina - ler o jornal antes de sair de casa -, ou quando não se pode realizar uma atividade prevista - jogar uma partida de futebol - devido a uma necessidade familiar, por exemplo).

10. Vivo a sobriedade com alegria, sem cair na comodidade nem na avareza.

(É especialmente importante viver esta virtude com alegria. O que acarreta, sobretudo, é evitar o embotamento com relação aos bens materiais. Assim é possível elevar o espírito para Deus).

 

A EDUCAÇÃO DA SOBRIEDADE


11. Ensino às crianças a apreciar e a valorizar o que possuem, com o fim de que sejam conscientes de suas possibilidades.

(Habitualmente se trata de um conjunto de pequenas informações que se vão dando, com respeito a quanto custam determinados bens, de como podem utilizar seu tempo, etc.).

12. Ajudo-lhes a distinguir entre o que é necessário e o que é supérfluo, entre o que é razoável e o que é um puro capricho.

(Um exercício ilustrativo é fazer uma relação de todas as coisas que temos disponíveis em nossas próprias casas e que os avós não tinham).

13. Ajudo aos jovens a ter bom gosto, não a gastar pouco, mas a gastar bem, a desfrutar razoavelmente de suas posses.

(As vezes se estabelece esta virtude de uma maneira muito negativa. Não deve ser assim. As pessoas sóbrias serão elegantes, farão bom uso do que possuem, desfrutarão dos bens que Deus lhes deu).

14. Exijo aos pequenos que vão controlando seus apetites básicos. Insisto na capacidade de auto-domínio.

(Não é fácil atuar assim, já que aspectos da educação “pós moderna” se baseiam no contrário. Se entendem palavras como “auto-estima”, ou “tolerância” de maneiras inadequadas. Por exemplo, a auto-estima se identifica com não sentir-se mal; e por tolerância se entende que todas as idéias valem o mesmo e, portanto, não é necessário esforçar-se para descobrir a verdade).

15. Ensino aos jovens o que “vale” o dinheiro. Ensino-lhes a ganhar, a economizar, a dar e não apenas a gastar.

(O dinheiro é um meio educativo e, além disso, tem uma dinâmica muito importante na sociedade. Por isso, convém prestar-lhe uma atenção especial. Com o dinheiro se pode viver a sobriedade, mas se se usa mal, seguramente produz mais faltas de sobriedade, direta ou indiretamente, que nenhum outro meio).

16. Acostumo aos pequenos a distribuir seu tempo harmonicamente, entre diferentes atividades, e assessoro aos maiores para que decidam como distribuir seu tempo com critérios adequados.

(Existem freqüentes abusos no uso do tempo conforme o caso: vendo a televisão, no uso do computador, nas saídas noturnas, dormindo, etc.).

17. Evito que os filhos/alunos desenvolvam um excesso de perfeccionismo na realização de determinadas atividades.

(A sobriedade não é apenas uma questão de distribuição do tempo e de não dedicar muito a atividades de pouco valor educativo. Também se trata de não prestar excessiva atenção a ações que, em si, podem considerar-se boas. Por exemplo, gastar tempo e atenção excessiva a um trabalho encarregado pelo colégio).


18. Dedico tempo a raciocinar com os jovens, com o fim de que disponham de critérios retos e verdadeiros para tomar suas próprias decisões com relação a sobriedade.

(Pensar “bem” requer informação. E se trata de dar a informação adequada aos jovens; uma informação clara, curta e precisa).

19. Tento conseguir que os jovens atuem congruentemente com os critérios que tenham em suas vidas.

(Há jovens que têm idéias confusas e muita vontade, outros que têm idéias confusas mas pouca vontade, outros que têm idéias claras e muita vontade e, por fim, aqueles que têm idéias claras mas pouca vontade. São estes últimos os que apresentam problemas especiais aos educadores. É relativamente simples conseguir que os jovens tenham critérios claros. Entretanto, a ação congruente é um problema em muitos casos).

20. Crio um ambiente de alegria em que os jovens possam viver a sobriedade sem associá-la com “caras feias”,aborrecimento ou rigidez.

(Habitualmente se “empacota” a idéia de prazer superficial de uma maneira muito atrativa. Se trata de viver a sobriedade com alegria, porque permite a cada pessoa dedicar seus bens e talentos ao que deve ser atendido em cada momento. Isto produz uma enorme alegria interior).

Como proceder à auto-avaliação
No texto encontram-se uma série de questões para reflexão, divididas em duas partes:

1) o grau em que se está vivendo a virtude pessoalmente .

2) o grau em que se está educando aos alunos ou aos filhos na mesma virtude.

Com respeito a cada questão, situe a conduta e o esforço próprio de acordo com a escala:

5. Estou totalmente de acordo com a afirmação. Reflete minha situação pessoal.

4.
A afirmação reflete minha situação em grande parte mas com alguma reserva.

3.
A afirmação reflete minha situação em parte: Penso "em parte sim e em parte não".

2.
A afirmação realmente não reflete minha situação ainda que seja possível que haja algo.

1.
Não creio que a afirmação reflete minha situação pessoal em nada. Não me identifico com ela.

 

Pode-se comentar as reflexões com o cônjuge ou com algum companheiro e assim estabelecer possíveis aspectos prioritários de atenção no desenvolvimento da virtude a título pessoal ou com respeito à educação dos filhos ou dos alunos.

É provável que se descubram muitas possibilidades de melhoria, mas recomenda-se selecionar apenas uma ou duas, com a finalidade de tentar conseguir a melhora desejada. As reflexões apresentadas não esgotam o tema, mas dão um ponto de partida para uma auto-avaliação.
Extraído do livro "Auto-avaliação das virtudes humanas", de David Isaacs.

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