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Cientista critica uso de embriões humanos

Jornal da USP - 8 a 14 de março de 2004 ano XIX no.677

"Há um desvio ético no diálogo com a sociedade. Estão sendo feitas muitas promessas irreais de cura a partir de pouca realidade científica. Estamos falando apenas de perspectivas, de coisas que não são para amanhã nem depois de amanhã. Os pacientes portadores de doenças candidatas a tratamento têm direito à informação científica fiel, à realidade e não a pressupostos." Quem afirma é a professora Eliane Azevedo, da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia, que tem doutorado em Genética nos Estados Unidos e pós-doutorado na Inglaterra. Para a cientista, ex-reitora da Universidade Federal da Bahia, "criou-se um alvoroço" em relação ao uso de células-tronco embrionárias comparável ao provocado com o anúncio das primeiras pesquisas com terapia gênica, no início dos anos 90. "Já temos 14 anos de experimentação em terapia gênica sem que nenhuma tenha tido sucesso suficiente para ser liberada para uso clínico - e muitas apresentaram sérias complicações, inclusive morte. Infelizmente a ciência também é vítima da sedução da mídia e do impulso mercadológico."

A professora diz que o acúmulo de embriões excedentes pelas clínicas de fertilização foi um grande erro. "Esses milhares de embriões congelados incomodam muita gente. Eles são uma preocupação para os doadores, para quem os produziu, para quem agora os está conservando. Existe um custo para essa conservação. Se forem liberados para a pesquisa, quem assumirá esse custo? Quem receberá o pagamento? As clínicas? Os pais? Os doadores? Não ficarão os embriões humanos como mercadoria? Não temos legislação para definir nenhum desses conflitos", argumenta.

No momento em que se decide sacrificar alguns para tratar outros, defende Eliane Azevedo, "estamos criando castas". "Há um limite nisso. É eticamente condenável sacrificar uma vida para salvar outra. Por caminhos como esse nunca construiremos o respeito a nós mesmos." Na visão da professora, "a realidade da morte está inserida em nossa programação genética". "Devemos lutar contra as doenças e o retardamento da morte, sim, sem dúvida. Porém, não podemos promover mortes precoces de uns para adiamento da morte de outros."

A professora ressalta que, em relação à questão ética da pesquisa com humanos, mudanças profundas estão acontecendo no cenário da ciência no mundo inteiro desde os anos 70. "Nos Estados Unidos foram feitas experiências com seres humanos comparáveis às dos nazistas. O cientista era o único juiz moral de sua própria pesquisa: só ele decidia que pessoas seriam utilizadas nas experiências e como as usava. Isso mudou de forma irreversível. Não se pode, em nome do avanço da pesquisa e da ciência, passar por cima da dignidade humana."

Dizendo não entender o porquê da insistência no uso de células-tronco embrionárias, Eliane Azevedo defende que "existem outras avenidas que podemos trilhar", utilizando-se o material proveniente de pessoas adultas. "O Brasil tem excelentes pesquisadores na área genômica, tenho grande respeito por eles e reconheço o valor do trabalho desses pesquisadores", diz. "A ciência brasileira não sentirá falta de embriões humanos em seus laboratórios. Saberá, como sempre o fez, buscar formas criativas de enriquecer o saber científico."


Jornal da USP - 8 a 14 de março de 2004 ano XIX no.677
www.usp.br/jorusp/arquivo/2004/jusp677/pag0809.htm


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