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Todos precisam fazer a sua parte para combater a droga
Léo Oliveira, da Comunidade Terapêutica Horto de Deus

A Comunidade Terapêutica Horto de Deus, localizada em Taquaritinga, interior de São Paulo, tornou-se conhecida pelos ótimos resultados que apresentou. Cerca de 60% dos dependentes que ingressam no Horto de Deus nunca mais voltam a usar drogas. Além de não usar medicamentos durante o período de internação, é feito um trabalho de reintegração do dependente à vida social. Os familiares também recebem "tratamento": uma vez por semana se reúnem na sede da instituição para aprender a lidar com a situação da melhor forma possível. Durante o evento "Drogas: Prevenção e Tratamento" (2001 - Centro de Extensão Universitária - São Paulo), Léo Oliveira, que trabalha há 20 anos com dependentes químicos, concedeu uma entrevista ao repórter Eduardo Gama.


Como é o trabalho realizado no Horto de Deus?

O Horto de Deus é uma comunidade terapêutica que trabalha sem medicamentos, em conjunto com a medicina. Há uma parceria com a Santa Casa e os nossos médicos internam o jovem usuário na fase aguda, para que o sistema nervoso comece a ficar mais controlado. Ele fica aproximadamente uma semana fazendo sonoterapia. Em casos onde a dependência está muito acentuada, é feito um tratamento com medicamentos por 30 dias e, depois, ele é levado para a comunidade terapêutica. O jovem, então, inicia um processo de conscientização, porque o tratamento tem de ser feito de forma multi-disciplinar. Existem algumas características da dependência química que fazem com que o jovem distorça a sua conduta de caráter. É um processo reeducativo.

Quem normalmente procura a ajuda do Horto de Deus?

Normalmente são as mães. Eu até digo que o dependente químico é órfão de pai, porque é sempre a mãe que está à frente no campo de batalha. Mas o jovem tem de querer. Se ele não quer, a comunidade não tem como ajudar. O trabalho deve ser feito em conjunto com a família, porque na verdade há dois doentes: o doente químico, que é o usuário, e o doente emocional, que é a família, com sérios conflitos emocionais.

É freqüente que os familiares se perguntem "Onde foi que eu errei?", "o que eu fiz?", "eu eduquei os filhos da mesma maneira e um está cursando faculdade, o outro não foi para frente". Nós temos de equilibrar esse conflito. Quando se chega ao equilíbrio da família e do usuário, o resultado é a recuperação.

Como o jovem entra em contato com a droga?

Normalmente, ele começa a usar drogas muito cedo. Hoje, a faixa etária é por volta de 11 ou 12 anos. Ele fica quatro ou cinco anos fumando maconha e a família nem percebe. Só vai perceber quando ele mudar para uma droga mais pesada. À medida que ele vai consumindo drogas, o jovem adquire algumas características: começa a ficar prepotente, muda o linguajar, começa a falar palavrões na frente de todo mundo, mente muito, apresenta queda no rendimento escolar, troca o dia pela noite, perde a afinidade com os bons amigos e começa a se enturmar com um grupinho meio estranho. Também se torna bastante orgulhoso; não admite ser um dependente e pensa que pode parar quando bem quiser.

E não é nenhum traficante quem dá a droga para o garoto. Quem faz isso é o melhor amigo, o que freqüenta a casa. É justamente esse que dá a droga. Não existe essa história de que o traficante é quem procura e vicia o seu filho. É ele quem vai atrás do traficante quando já está viciado.

De que maneira os pais podem saber se o seu filho está usando drogas? Há alguns indícios?

Na fase da maconha - não se esqueça de que ele normalmente está com 12 ou 13 anos -, o rapaz começa a ter um apetite exagerado, principalmente por doces. Por exemplo, ele senta diante da televisão e come três caixas de bombons. Em uma lata de leite condensado, ele faz um furinho e vira toda a lata. É normal que um adolescente coma muito, mas nestes casos o exagero é tão evidente que fica fácil diferenciar. Ele também começa a ficar com os olhos apertados, fica mole, com sonolência, falta de motivação para atividades em grupo. Ele sai de casa para dar uma voltinha e quando chega em casa assalta a geladeira e come tudo o que vê lá dentro. Essas são algumas das características.

Que atitude a família deve tomar quando descobre que o filho é um dependente?

A família não deve tomar nenhuma atitude sem antes procurar um especialista no
assunto. Deve conversar com o seu médico, o seu psicólogo, com pessoas que já tiveram problemas com o vício. Deve procurar informação adequada, porque toda e qualquer atitude que os pais tomarem em relação ao dependente químico será errada.

É preciso um profissional respeitado na área de dependência para receber a orientação adequada e já começar o tratamento certo. Se a família começar certo, no fim tudo vai bem. Se começar errado, o resultado final será ruim.

Como é o processo de recuperação?

É um processo lento, que leva oito anos. O período de internação é de oito meses. O apoio no pós-tratamento é de dois anos e o jovem tem de voltar em períodos críticos, como o carnaval, por exemplo.
Percebemos que, dando um apoio de dois anos, nós realmente conseguimos um resultado satisfatório. A recuperação acontece em cerca de 60 % dos casos. Mas são dois anos de luta, no pé do menino, e ele nunca mais vai poder tomar nem uma gota de álcool. Se ele beber uma cerveja, acaba voltando para as drogas.

Já existe uma preocupação real com o problema das drogas?

Analisemos o fato de que o traficante está muito preocupado com o garoto que vende droga na esquina. Ele quer que o garoto ganhe dinheiro, e arruma advogado para tirá-lo das mãos da polícia. Esse exemplo de preocupação com o "aviãozinho" (o garoto que entrega a droga) poderia servir para nós.
Se todos os que combatem a droga, seja na medicina, na prevenção, na repressão, no tratamento ou na lei, tivessem uma preocupação tão grande com os garotos, nós alcançaríamos o sucesso nesse resgate social.

Houve alguma melhora no quadro atual, que o senhor chama de grave?

De fato, o quadro é grave, mas nem tudo está perdido. Nós estamos passando por um momento de transição. Existe um número de pessoas, bem intencionadas, voltadas para um trabalho com os jovens que enfatiza os valores espirituais e a família. Então, nem tudo está perdido. O que é preciso é que cada um faça a sua parte.

"Não existe essa história de que o traficante é quem procura e vicia o seu filho. É ele quem vai atrás do traficante quando já está viciado."

Interprensa - www.interprensa.com.br - Edição 48 -Ano V - Julho 2001

 

www.interprensa.com.br


De que maneira os pais podem saber se o seu filho está usando drogas? Que atitude a família deve tomar quando descobre que o filho é um dependente? Entrevista sobre a Comunidade Terapêutica Horto de Deus, conhecida pelos ótimos resultados no tratamento de dependentes.

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