Por Margaret Forster
Quando eu tinha oito anos, pensava que ia dar uma
tiro na cabeça assim que chegasse aos 40; para mim parecia evidente
que ninguém tão velho assim ia poder divertir-se com coisa
alguma.
Agora tenho 40 anos e gostaria de dar um tiro em todas as pessoas que
alimentam o mito de que meia-idade é tempo de desânimo, especialmente
para as mulheres. Embora isso tenha constituído para mim uma enorme
surpresa, eu encontro muitas razões para adorar ser de meia-idade.
Já atingi algumas certezas. A juventude é toda especulação
(Como será isto? Como parecerá aquilo?), e eu trocá-la-ia
em qualquer altura pela experiência. Gosto da capacidade de compreensão
que a idade nos dá. Gosto de observar as crianças quando
aguardam algum novo acontecimento, sabendo o que elas sentem. Gosto de
olhar as mulheres grávidas, podendo partilhar seus sentimentos
desencontrados. Gosto de me sentir familiarizada com as coisas que em
outros tempos me provocaram apreensões. Gosto de não sentir
medo de mostrar minha ignorância e pedir ajuda. Gosto da confiança
que a meia-idade dá.
Com a meia-idade veio-me um sentimento de controle: controle sobre mim
própria. Quando eu era mais jovem, perdia a cabeça espetacularmente
pelo menos uma vez por dia; depois, eu ficava pensando como é que
tal coisa podia ter acontecido, e o meu remorso era pior que minha fúria
anterior. A idade me deu uma meia-trava nisso: de fato eu continuo com
tão mau feitio como antes, mas, de modo quase milagroso, sou capaz
de decidir se vou berrar ou não.
Acho que nem uma só vez nas últimas semanas (vá lá,
horas) cheguei a dizer: "Eu abomino!" Há realmente poucas
coisas que eu abomine. Isso não me tornou desiludida nem enfastiada
do mundo; pelo contrário, deu-me um novo gosto pela discussão.
Agora, que não afogo todo o mundo em meu ódio absoluto,
posso ver o outro lado da questão... e às vezes até
dou o braço a torcer.
Sinto-me fortalecida e aliviada com a prova patente em meu redor de que
as calamidades podem ser suportadas. Coisas houve a que eu pensava ser
impossível sobreviver, mas, agora que aconteceram a amigos e conhecidos,
eu posso ver como é estranho o trabalho do destino. Maridos foram
mortos, bebês nasceram deformados, esposas foram abandonadas, crianças
acabaram aleijadas por acidentes, lares foram destruídos pelo fogo.
Eu vi, ouvi, chorei e pensei, isto é demais para um pessoa poder
agüentar... e depois fiquei surpreendida ao ver que a felicidade
pode ser reconstruída a partir do inferno do desespero. Agora que
as tragédias surgem por todo lado e eu tenho algo que temer, na
verdade sinto menos medo.
As crianças pequenas esgotavam-me e preocupavam-me (todos aqueles
anos de perguntas e pedidos cansativos) e, agora, eis os bons tempos.
Posso sentar-me à mesa, jantando com minha família em volta,
e conversar simplesmente, em vez de ter de agir como um fiscal o tempo
todo. Imagino com estranho prazer que a casa vai ficar vazia durante sete
horas, e que às quatro da tarde eu até vou ter vontade de
voltar a vê-los todos. É uma felicidade que meus filhos tenham
ficado meus amigos depois de tanto tempo de tirania - não foi um
erro, afinal de contas.
Gosto da vantagem que a meia-idade nos dá sobre todas as outras
idades; os novos não compreendem os velhos e os velhos não
entendem os novos, mas a meia-idade pode comunicar-se com ambos. Acho
delicioso esse papel medianeiro.
Mas quem pode gostar de se olhar no espelho e ver pés-de-galinha
nos cantos dos olhos, rugas e todos os outros estragos da meia-idade?
Este aspecto da meia-idade é certamente o mais duro de aceitar...
mas somente se estivermos querendo nos iludir. Para mim, e para milhões
de outros, a perda da beleza da juventude não é motivo para
lamentações. Primeiro, porque nunca existiu. Mais ainda,
quando somos de meia-idade, ninguém tem de nos dizer que a beleza
não é tudo - olhando em volta podemos muito bem ver que
não é. Sabemos dar preferência ao espírito,
ao interesse, à inteligência; temos nossa própria
experiência de homens e mulheres que podem ser considerados feios
mas cuja companhia preferimos à dos apenas bonitos.
Acho que não existe em mim um simples laivo de ciúme de
todas as moças bonitas que vejo, agora que eu própria já
não sou jovem; acho que todas são fantasticamente lindas
e não têm nada que ver comigo.
O meio de qualquer coisa é sempre o melhor. É como estar
no topo de uma ponte em arco: lutamos para subir e podemos cambalear ao
descer, mas, de momento, estamos numa plataforma de onde se avista a paisagem
mais bela de todas.
Margaret Forster é crítica, biógrafa e romancista
Condensado de Sunday Times
Cortesia: Seleções do Reader's Digest - www.selecoes.com.br
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Quando eu tinha oito anos, pensava que ia dar uma tiro na cabeça
assim que chegasse aos 40; para mim parecia evidente que ninguém
tão velho assim ia poder divertir-se com coisa alguma.
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