Primogênito,
o caçula, o do meio, e suas surpreendentes diferenças |
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Vance Packard Caçula, vivi intrigado - e talvez um
pouco irritado - com a aparente proeminência do primogênito
em nosso mundo. Pensando no papel que essa posição representa
em nossa vida, estou interessado em saber em que a ordem do nascimento
influencia a maneira como somos tratados. Nos últimos anos, centenas de behavioristas
têm estudando, analisado e medido pessoas em busca de sinais do
possível impacto de ser o filho mais velho, o do meio, o mais moço
ou único. Examinei cerca de 60 desses estudos e fiz pessoalmente
alguma modesta coleta de material. Não se pode tirar nenhuma conclusão
exata sobre qualquer filho em particular, e há pontos sobre os
quais os pesquisadores discordam entre si. Mas algumas diferenças
flagrantes se destacam quando grupos consideráveis de pessoas são
comparados em função da ordem do nascimento. Tomemos, por exemplo, a questão das realizações.
Uma grande variedade de estudos feitos por pesquisadores americanos tem
procurado uma relação entre a ordem do nascimento e a fama
e o gênio. Stanley Schachter, behaviorista da Universidade de Colúmbia,
resume esses estudos dizendo que os primogênitos predominam "com
espantosa freqüência". Estão super-representados
no Quem é Quem. Dos 23 primeiros astronautas que participaram
de missões espaciais norte-americanas, 21 eram ou filhos mais velhos
ou filhos únicos (o que é notável quando se leva
em conta que filhos nascidos posteriormente superam primogênitos
na proporção de dois para uma na população
americana). Em uma recente análise de 1.618 finalistas das Bolsas
Nacionais do Mérito mostrou que quase 60% deles eram primogênitos.
Não conheço qualquer prova convincente
de que os primogênitos tenham maior poder intelectual. O que acontece
é que a maneira como são criados os torna mais estudiosos
e mais orientados para o sucesso. E ainda - por motivos econômicos
- vão em maior número para a universidade. Uma das análises mais impressionantes
foi feita no quadro do Estudo do Desenvolvimento Adulto na Universidade
de Harvard. Durante mais de 10 anos, o psicólogo Charles McArthur
e a antropologista Margaret Lantis estudaram cerca de 200 diplomados de
Harvard quando constituíram família. Esses jovens pais apresentaram
relatórios sobre si mesmos e seus filhos. Analisando essas comunicações
e observando sistematicamente os filhos, pesquisadores concluíram
que os primogênitos tinham padrões de personalidade diferentes
dos outros filhos - e chegou-se a conclusões definidas sobre essas
diferenças. "A constelação familiar", diz
McArthur, "é um importante fator determinante da personalidade". Eis as minhas impressões dos motivos
e das maneiras pelas quais temos tendências para criar nossos filhos
diferentes de acordo com sua ordem de nascimento. O primogênito é provavelmente o
filho mais desejado do casal. Com ele os pais provam a sua capacidade
de ter prole e, de certo modo, asseguram a própria imortalidade.
Esperam em geral mais desse primogênito do que dos outros filhos.
É provável que tirem fotografias dele com mais freqüência,
conversem e brinquem mais com ele e também que se preocupem e se
inquietem mais por ele. Calouros na arte da paternidade, eles tendem a
viver sob tensão. Um ambiente mais calmo em geral prevalece quando
nasce o segundo filho, se houve um intervalo de dois anos ou mais. No
estudo de Harvard os pais disseram que com o segundo filho eram mais displicentes,
menos rigorosos e só ministravam castigos corporais à metade
das vezes. À medida que chegam os outros filhos, os pais tendem
não só a dispersar a sua atenção por todos
eles, mas também a preocupar-se menos com o papel de educadores.
Os últimos filhos podem sentir que estão mais entregues
a si mesmos. O filho mais velho recebe estreita atenção
dos pais e desenvolve uma intensa orientação para eles.
Mas depois ele ou ela é destronado pelo segundo filho. Esse destronamento,
dizem muitos psiquiatras, pode representar uma grave ameaça para
uma criança se for tratada inabilmente pelos pais. De qualquer
maneira, o primeiro filho perde a posição de "único"
e tende a assumir pouco a pouco a responsabilidade de ser o irmão
mais velho ou a irmã mais velha que lhe é imposta, principalmente
nas famílias maiores. Os filhos intermediários não têm
a autoridade dos mais velhos nem a liberdade de pressões dos mais
moços. A Dr.ª Louise Bates Ames, do instituto Gesell de Desenvolvimento
da Criança, é de opinião que muitas dessas crianças
se sentem "espremidas no meio". Em compensação
têm menos a sensação de ser destronadas quando surgem
outros filhos. Além disso, mais orientadas para os irmãos,
costumam preocupar-se menos em conseguir a nossa aprovação.
Uma autoridade em higiene mental afirma que o filho intermediário
tem a posição mais cômoda na ordem de nascimento.
O mais moço, sendo o último, recebe
quase tanta atenção da mãe quanto um filho único.
Mas não sente em geral muita pressão dos pais para as realizações.
Alguns filhos caçulas sentem-se perseguidos pelos irmãos
mais velhos, mas na realidade costumam ser os mais protegidos, os mais
mimados da família. Esses tratamentos diferentes comumente dados
às crianças têm um impacto sobre o que chamamos "personalidade".
a Dr.ª Frances Ilg, do Instituto Gesell, muitas vezes assombra os
pais que levam os filhos à clínica adivinhando a ordem de
nascimento após uma sessão de uma hora. (Ela se refere aos
terceiros filhos como "esses magníficos terceiros").
Eis alguns exemplos de padrões distintos
de personalidade. (Lembre-se que há muitas exceções).
Seriedade. O filho mais velho de uma
família aparece em várias pesquisas como o mais responsável
e o mais sério. Comparando os estilos pessoais dos indivíduos,
Margaret Lantis disse: "O segundo filho pode ser considerado capaz
e vivo, mas não se esforça por ser sério". Comparando
os estilos pessoais dos indivíduos, Margaret Lantis disse: "O
segundo filho pode ser considerado capaz e vivo, mas não se esforça
por ser sério". Seu colega McArthur notou que a seriedade
e a suscetibilidade às ofensas figuram entre os mais bem documentados
traços dos primeiros filhos que, - como vários pesquisadores
têm mostrado - têm maiores probabilidades de serem perfeccionistas.
Sociabilidade. McArthur comentou que
outro dos traços mais bem documentados que distinguem o primeiro
do segundo filho é a "cordialidade fácil" do último
em contraste com o primeiro filho "reservado" e "tímido".
O Professor Schachter, num fascinante estudo entre os membros de fraternidades
de estudantes da Universidade de Minesota, apurou que os primogênitos
eram "consideravelmente menos populares" do que os filhos mais
moços em 13 dos 15 grupos de estudantes examinados. Cinco estudos
pelo menos apontam também o filho mais velho como mais suscetível
a preocupações, sensibilidade e tensões. Outro pesquisador
chegou à conclusão de que nossos filhos caçulas têm
os mais altos índices de sociabilidade. Consciência. Os primogênitos
- sejam filhos únicos ou os mais velhos - desde cedo na vida se
tornam extremamente sensíveis às regras e expectativas dos
pais e costumam assim medir-se por padrões adultos. Cerca de 1.200
estudantes de curso secundário e universitário na região
de Chicago foram ouvidos pelo Instituto de Pesquisa Juvenil. Em resposta
às perguntas feitas, os mais velhos do seu sexo mostraram uma tendência
clara para opinar que os jovens deviam assumir a responsabilidade de seu
comportamento mais cedo do que mais moços julgavam - ao passo que
estes, em média, defenderam a oportunidade de afirmação
sua independência mais cedo. Liderança. Vários observadores
psiquiatricamente orientados têm notado que, no curso da sua vida,
o filho mais velho costuma assumir posições de chefia. Sugerem
que talvez isso ocorra em virtude de sua prática de assumir responsabilidade
na família ou por causa de uma necessidade de estar no alto da
pirâmide - anseio que desenvolveu no princípio da vida quando
procurava recuperar a proeminência depois de seu destronamento como
filho único. Um psiquiatra que fez investigações
sobre a ordem de nascimento afirma que os mais moços têm
pouca inclinação para a chefia. Quando a assumem, os seus
subordinados costumam mais "gostar" deles do que apoiar-se neles.
Todas estas observações são
simplesmente tendências comuns, não fatos inevitáveis.
O que acontece em qualquer caso individual depende ainda em grande extensão
da habilidade dos pais. Por exemplo: Os pais observadores estão atentos para
a maneira pela qual cada filho percebe a sua situação dentro
da família. Se um filho mais velho se sente destronado ou se um
filho intermediário se julga desprezado, esses sentimentos - ainda
que justificados - devem ser levados em conta. Os pais bem-avisados abstêm-se
de erros comuns como o de mostrar favoritismo pelo filho mais velho, de
esquecer-se de elogiar os filhos intermediários por seus esforços
ou de protegerem abertamente um filho menor. Adotam um critério
de castigos e aplicam-no com razoável coerência a todos os
filhos. Além disso, os pais compreensivos procuram
estimular a flexibilidade e o espírito esportivo nos filhos mais
velhos. Têm o cuidado de conversar muito com os filhos intermediários.
E, mais do que os outros filhos, procuram não esperar que um caçula
mostre desde cedo confiança em si mesmo. Mais importante ainda, dão a cada filho
a convicção de que - seja qual for a sua ordem de nascimento
- ele é importante e amado, sendo aceito, carinhosamente, pelo
que é. Fonte: Revista Seleções do Reader's Digest
- Abril/1970 - www.selecoes.com.br Alguns artigos são sempre atuais e valem a pena serem relembrados. Este é um deles. |
Os pais observadores estão atentos para a maneira pela qual cada filho percebe a sua situação dentro da família. Mais importante ainda, dão
a cada filho a convicção de que - seja qual for a sua ordem
de nascimento - ele é importante e amado, sendo aceito pelo que
é.
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