Eduardo Gama
Por que os filmes modernos sobre o casamento freqüentemente
se transformam em filmes sobre adultério? A jornalista Louise Kennedy,
do jornal norte-americano Boston Globe (Married to the myth - 12/05/02)
analisou as produções recentes do seu país, como
o lançamento "Infidelidade" (Unfaithful), que relata
a história de uma bela mulher que, sem qualquer razão ou
circunstância aparente, trai o seu marido.
O adultério é comum nas grandes produções
de Hollywood, como o vencedor do Oscar de melhor filme em 2000, o bizarro
Beleza Americana. Louise Kennedy diz que " assim como as traições
que eles retratam, os filmes sobre adultério têm uma fixação
por dilemas rápidos e sensações fortes". Uma
das explicações, afirma Kennedy, é o fato de que
os filmes americanos de grande bilheteria não constroem as personalidades
e a trama com a paciência que os filmes independentes e estrangeiros
normalmente apresentam. Mas não é devido apenas a uma questão
de tempo: "é um problema de o que o roteirista faz com o tempo,
(...)
"Infidelidade" tem 121 minutos, um tempo maior do que diversos
filmes que retratam o matrimônio de outra forma".
Uma das boas surpresas do cinema no tema casamento vem da China. "O
caminho para casa" e "Amor à flor da pele" retratam
belas histórias sobre o matrimônio, mesmo que o desenrolar
do enredo não seja dos mais felizes, como em "Amor à
flor da pele".
Mas, tanto o primeiro, contando a história de como os pais de um
jovem chinês se conheceram e se casaram, como o segundo, retratando
o valor da fidelidade, ainda que em um casamento ruim, aproximam-se e
sugerem alternativas mais enriquecedoras do que as apresentadas pelo cinema
atual norte-americano.
Mas nem todos os filmes norte-americanos sobre casamento são fracos.
"Jantar com amigos" , adaptação de uma peça
teatral vencedora do prêmio Pullitzer, retrata a história
de dois casais amigos há dez anos. A separação de
um deles motiva uma análise profunda sobre o que é realmente
importante em um casamento. Outro filme interessante, "Um homem de
família", que foi divulgado como um mera transposição
para os dias de hoje do clássico "A felicidade não
se compra" também mostra o casamento com uma visão
ainda mais profunda do que em "Jantar com amigos", pois coloca
o sacrifício como marca de um bom relacionamento.
Alguns ótimos filmes
sobre o casamento
O caminho para casa - Zhang
Yimou, China - 1999
A felicidade não se compra - Frank Capra, EUA - 1947
Cenas de um casamento - Ingmar Bergaman, Suécia - 1974
Amor à flor da pele - Wong Kar-Wai, China/França -
2000
Um homem de família - Bret Ratner, EUA - 2000
A carta - Manuel de Oliveira, Portugal - 1999.
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Fonte: INTERPRENSA
- ANO VI - Número 59- Julho de 2002 - www.interprensa.com.br
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A insistência no adultério em filmes norte-americanos
esquece a beleza do matrimônio
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