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Fabio Toledo

Coluna "Assuntos de Família"

A Mensagem do Papa

Fábio Henrique Prado de Toledo

Em sua homilia na Missa com os cardeais, celebrada após o conclave, o Papa Francisco faz algumas afirmações que por certo chocam com uma mentalidade muito difundida no mundo atual. Disse o Pontífice: “Eu queria que, depois destes dias de graça, todos nós tivéssemos a coragem, sim a coragem, de caminhar na presença do Senhor, com a Cruz do Senhor; de edificar a Igreja sobre o sangue do Senhor, que é derramado na Cruz; e de confessar como nossa única glória Cristo Crucificado”.

Em outra passagem, pronunciada um pouco antes, é ainda mais incisivo: “Quando caminhamos sem a Cruz, edificamos sem a Cruz ou confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor”.

Essas palavras são duras, sobretudo no mundo atual, em que se tenta a todo custo banir as palavras dor e sofrimento da vida das pessoas. No entanto, elas apenas ecoam o que disse Jesus em mais de uma oportunidade: “Quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 27).

Mas ainda assim, esse apelo ao sacrifício, que está na essência da mensagem cristã, não estaria ultrapassado, não seria um medievalismo incompatível com a cultura que se forma nesse início de terceiro milênio?

Tudo o que é grande começou pequeno e custou esforço de muitas mulheres e de muitos homens. Tomemos como exemplo os grandes inventos arquitetônicos, de tempos antigos e atuais. Por mais que a técnica evolua, é necessário os engenho, o esforço intelectual e físico de muitas pessoas até que se tenha por acabada aquela obra que encanta os olhos e alegra a alma.

E o mesmo ocorre nas instituições humanas. Começam com uma boa ideia, mas se faz realidade com o trabalho incansável de pessoas que se lançam a edifica-la, um dia após outro. Mas não fiquemos apenas com exemplos de obras materiais. Pensemos na geração e educação de um filho. São incontáveis os sofrimentos de uma mãe, antes, durante e após o parto. E, depois, as preocupações diárias para que essa filha ou esse filho assimilem os valores que temos por necessários para que atinjam a felicidade. E isso sem contar as horas de sono que se perde (ou se ganha) dando-lhes de mamar, esperando que retornem de uma festa ou simplesmente apreensivos com os rumos de sua vida profissional, familiar etc.

É fácil notarmos que os grandes feitos se alcançam com sacrifício. No entanto, podemos agir por fins nobres e altruístas ou mesquinhos e egoístas. Podemos fazê-lo com amor, que sempre se faz acompanhar de paz e alegria, ou reclamando da sorte e da vida, de onde brota tristeza e irritação.

Quando o Papa, já num dos seus primeiros pronunciamentos, nos recorda da necessidade de abraçar a Cruz não quer fazer de nós uma espécie de masoquistas. Partindo da realidade mais palpável e real, de que a dor e o sofrimento de um modo ou de outro sempre nos acompanharão nessa vida, quer que não nos esquivemos deles, mas que os abracemos por amor, pelo bem daqueles com quem convivemos e da humanidade inteira.

Não se propõe a resignação com a doença e o mal que há no mundo. Também por amor o cristão e as pessoas de boa vontade deverão fazer o que está ao seu alcance para aliviar os padecimentos próprios e alheios. Mas por mais que a medicina e a ciência em geral evolua – e se espera que essa evolução se dê sempre a favor da vida e da dignidade humana – jamais conseguirá banir da vida da mulher e do homem a dor e o sofrimento.

Conta-se que a madre Tereza de Calcutá uma vez foi observada por uma pessoa, que contemplou o beijo e afago que fazia em um doente de aspecto repugnante. Diante disso, esse homem comentou: “nem por todo dinheiro do mundo eu faria isso”. E a bondosa religiosa respondeu: “nem eu”. Por dinheiro, tampouco ela o faria, mas fez isso e muito mais em sua vida, por amor. E alguém que contemple o seu semblante sereno e alegre ousará dizer que não foi imensamente feliz já aqui nesta vida?

Papa Francisco

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Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas e Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC.

e-mail: fabiohptoledo@gmail.com

Blog: http://fabiohptoledo.blogspot.com.br/

Publicado no Portal da Família em 18/03/2013

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