Sumário
1. Os filhos ajudam a viver.
2. Por que nós não "podemos ver"?
3. Papel e caneta.
4. A melhor herança.
5. O conto do rei bobo.
6. Transformar o mundo.
Os filhos ajudam a viver
O fato de querer educá-los para torná-los pessoas maravilhosas, que mudem o mundo, é uma idéia preciosa, mas por sua vez representa uma grande dose de responsabilidade para nós, pais.
Obras são amores e não boas razões, e se queremos educar com o exemplo, nós somos os primeiros que temos que saber o porquê e o para quê de nossas vidas. Não se dá o que não se tem.
E tudo isso vem a propósito das novas questões que surgem quando nossos filhos vão crescendo. Ao princípio, quando nascem, nos preocupa sua alimentação, seu crescimento e seu sono. Quando já são pessoazinhas de 2 a 3 anos, começam a preocupar-nos suas virtudes. Ordem, higiene
Pouco a pouco as virtudes vão pedindo objetivos mais altos: generosidade, alegria, tudo discorrendo em um trabalho "harmonioso", em que a nossa paciência é colocada em jogo. Uma paciência mecânica, porque fundamentalmente se baseia em conseguir que nossos filhos, mediante a repetição de atos, consigam a força habitual da virtude.
Mas o assunto vai complicando-se, como no circo ! Vai chegando a pré-adolescência e com ela suas interrogações e seu espírito crítico. Os pais nos assustamos um pouco, porque é uma época em que já não basta falar, mas na qual temos que argumentar com nossas palavras e com nossa vida; melhor dizendo, temos que conseguir que eles argumentem mediante nossas perguntas.
Não devemos assustar-nos. Pelo contrário ! É um momento decisivo, e ainda que pareça que não nos fazem nem um pouco de caso, eles observam nosso mínimo movimento.
Por que nós não podemos ver esse programa de TV ?
Tudo isso eu conto a partir de um caso real:
-"Mamãe: todas as meninas de minha classe assistem "O Clone". Por que nós não podemos ver?"
(É um tema que lhe preocupava muito e não lhe faltava razão: na escola, os recreios das meninas são mais passivos e elas se dedicam a treinar a língua. O tema ? O que viram na TV no dia anterior. Claro, Ana fica perplexa porque não está "em dia").
Minha primeira resposta foi:
- Primeiro, em casa, durante a semana, não se vê a TV. Há ambiente de estudo e de contar o que aconteceu no colégio, mas além disso, parece-me que tampouco é um programa que valha a pena ver. De toda maneira, não tenho um bom argumento para dizer por que não assistimos !
Papel e Caneta
Fiquei preocupada por não saber argumentar e nos ocorreu fazer um "videoforum" com as crianças, escolhendo um capítulo qualquer da novela.
Nos reunímos cada um com seu papel e sua caneta e antes de começar, lhes dissemos:
- Escrevam detalhes que os choquem e as coisas de que gostem.
A idéia de papel e caneta foi muito boa, porque implicava para eles uma atitude crítica prévia. Já não estavam como "meros expectadores passivos", mas tentavam "caçar" assuntos chocantes.
Terminado o episódio, foram dizendo uma por uma todas as questões que ali se colocavam com sentido moral; e era uma delícia ver com que simplicidade chamavam a cada coisa por seu nome.
No dia seguinte, Ana foi muito orgulhosa ao colégio, pois já sabia porque não víamos esta novela em casa. Ademais eram seus próprios argumentos, eram seus ! E sabia transmití-los a suas companheiras.
A melhor herança
Os pais estamos muito preocupados por formar nossos filhos para o futuro: saem do colégio e nos falta tempo para levá-los ao inglês, piano, violino, informática, judô, ginástica, ballet, etc etc etc
ainda que sejam coisas muito dignas, paramos para pensar se isso é o melhor ?
A melhor arma que terão os nossos filhos, como nós mesmos, é o espírito crítico. Vivemos em um mundo um pouco caótico, onde a manipulação da linguagem e o relativismo lutam por seus direitos. Nossos filhos têm que saber distinguir o bem do mal, que é o que nos permite viver como pessoas livres, capazes de decisões bem razoáveis e fundamentadas; chamando a cada coisa por seu nome e vivendo conseqüentemente. Essa é a melhor herança que lhes podemos deixar. E se além disso alguém chega a ser um grande violinista, melhor.
O conto do rei nu
Quando eu era pequena, em uma embalagem de detergente veio impresso um conto. Impressionou-me muito e me ficou gravado: tratava de um rei tão vaidoso que queria fazer para si o traje mais original e único do mundo.
Nenhum dos que se lhe apresentavam satisfazia sua ambição, por mais pérolas, ricos tecidos e pedras preciosas que se colocavam.
Um belo dia chegaram uns sujeitos que disseram chamar-se alfaiates mágicos, e falaram ao Rei do magnífico fio trazido dos confins do mundo. Era um fio especial, digno do rei e de todos aqueles que possuíssem uma inteligência tão superior como a de sua majestade.
Dia após dia foram tecendo o traje do imperador e chegou o dia da grande prova. Com uma mímica cuidada até o extremo, os rapazes simulavam colocar e abotoar a vestimenta. O Rei, ainda que vendo-se em trajes menores, mas por medo de ser tratado por nécio, elogiou sobremaneira sua invisível vestimenta. Todos os seus empregados, começando pelo seu primeiro ministro até o último criado, elogiaram o estilo do imperador, pois ninguém se atrevia a parecer bobo. "Se todos estão vendo, deve estar lá, e não serei eu o único nécio do reino
". Assim se justificavam e o imperador todo orgulhoso decidiu fazer um grande desfile para que o povo admirasse todo seu valor.
A notícia havia corrido por todo o reino e todo mundo seguia a mesma pauta, até que, de repente, do meio do público ouviu-se a voz de um menino: "Mas o rei está de cuecas!". O riso foi geral e o imperador acabou no mais absoluto dos ridículos.
Este conto não o pude esquecer porque se repete dia após dia na vida diária: basta ligar a TV para dar-se conta que segue ocorrendo o mesmo.
O imperador são as modas, os famosos, os "pornoconcursos", as novelas e até os telejornais. Parece que há um empenho de tratar aos que têm um código moral, um estilo de vida consequente, de fanáticos, retrógados, facistas
; e ao mesmo tempo se pretende que todos engulamos uma crise moral que rebaixa as pessoas até o limite de assassinar aos próprios filhos. Ah, perdão, tenho que dizer "interrupção da gravidez", há que ser mais fina
Transformar o Mundo
Não quero fazer uma lista catastrofista do que, por desgraça, nos querem fazer ver como algo normal, mas como mãe me preocupa o mundo que estão encontrando meus filhos. Sei que não posso metê-los em uma bolha. Sei que é este mundo que Deus vai colocar em suas mãos para que o transformem, e o farão !
Mas temos que dar-lhes instrumentos e o primeiro é o espírito crítico. O "corrente" não equivale ao "moral", e devem saber distinguir o "bom" do "mau"; onde está o "pecado" e onde está a "verdade".
Qual a primeira norma que nos guia nesta tarefa? O saber utilizar a televisão, que já está se convertendo na irmã menor da Internet. TV, Internet
Inventos maravilhosos. Podem ser utilizados com grande proveito. Mas nossos filhos e seus amigos podem se embriagar, fazendo-lhes muito mal.
Assim escrito, todos podemos pensar: que exagero! Mas você já perguntou aos seus filhos quais são muitos dos temas de conversa que eles têm no recreio? Grande parte desse tempo o dedicam a informar-se sobre os últimos episódios da novela da moda.
Que temas tratam? O que está ao alcance da mão: revistas "juvenis" com conteúdos pornográficos; experiências sexuais entre adolescentes, infidelidades matrimoniais, e tudo isso envolto em uma pegajosa solidariedade colegial.
Sejamos como o menino do conto. Chamemos cada coisa por seu nome. Vivamos coerentes com a Verdade e assim, com essa liberdade, poderemos ensinar a nossos filhos que a vida é o presente mais bonito que temos, e que vale a pena transformar este mundo na antesala do Céu, com a ajuda de Deus, que não faltará.
Quando vimos o capítulo da novela, saiu o tema destas revistas e Ana me cutucou:
-"Por que não fazemos uma revista-fórum?"
Ao que respondi:
-"Parece-me genial, mas primeiro vamos provar um pouco de cocô para ver que mal que faz"
Não houve revista-fórum, pois não precisamos experimentar tudo do que é ruim para comprovar que é ruim.
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- Mamãe, por que não posso assistir essa novela ?
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