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Rebeca Batista da Silva
Coluna "Mãe e bebê, vida que segue"

Dor no recém-nascido: será que ele não sente?

Rebeca Batista da Silva *

Por muito tempo, achou-se que o bebê recém-nascido não era capaz de sentir dor. Várias teorias e mitos sustentavam essa hipótese como, por exemplo, a falta de receptores para a dor no neonato, sistema nervoso central (SNC) imaturo que levaria a um retardo na transmissão do impulso nervoso e ausência de mecanismos inibitórios para os reflexos dolorosos, entre outros.

Hoje, vários estudos comprovam que o recém-nascido, já a partir da trigésima semana de gestação, apresenta praticamente todos os neurônios responsáveis pela sensação dolorosa presentes, fazendo com que a resposta a tais estímulos seja possível.

Para o bebê, a maior dificuldade no reconhecimento da dor é que ele não consegue expressar verbalmente tal sensação. Nesse sentido, há possibilidades de se avaliar fatores comportamentais e fisiológicos e também foram criadas as escalas de avaliação da dor.

Um recém-nascido que fica internado em uma UTI neonatal experimenta vários procedimentos dolorosos todos os dias. São coletas de sangue (venoso e arterial), sondagens, aspiração de vias aéreas e tudo isso é muito estressante para um bebê que acabou de chegar ao mundo. É de fundamental importância que os profissionais envolvidos nos cuidados desse bebê saibam reconhecer e diminuir essa experiência dolorosa.

O recém-nascido apresenta vários sinais de que está com dor. Atualmente têm-se dado importância crescente aos parâmetros comportamentais, porém não são específicos para dor, pois estímulos estressantes, mas que não são dolorosos, também provocam essa resposta.

São eles: Mímica facial, estado de sono e vigília, choro e movimentos corporais de membros inferiores e superiores, fronte saliente, fenda palpebral estreitada, sulco naso-labial aprofundado, lábios entreabertos, língua tensa e tremor de queixo.

Entre os parâmetros fisiológicos estão o aumento da frequência cardíaca e pressão arterial, aumento da frequência e alteração do padrão respiratório, aumento da pressão intracraniana além de queda da saturação de oxigênio, dilatação pupilar, cianose (o bebê fica roxinho), suor palmar e tremores.

Através das escalas de dor é possível ter a indicação se o bebê está com dor ou não, pois elas atribuem pontuações específicas para cada um desses sintomas apresentados pelo recém-nascido.

A dor, quando não tratada, tem efeitos desastrosos, pois induz ao catabolismo persistente, ativa o sistema nervoso simpático, altera o sistema cardiovascular e pode desencadear ansiedade intensa e delírio.

A terminação dolorosa da pele do recém-nascido é igual ou maior do que a de um adulto, pois setenta e cinco por cento da transmissão se faz por fibras não mielinizadas que são mais lentas no adulto. Portanto cabe a nós que cuidamos do bebê, minimizar essa experiência que é tão estressante para alguém tão pequeno.


Rebeca Batista da Silva é enfermeira intensivista (Coren-SP 171720), graduada em enfermagem pela Universidade de Pernambuco-UPE e pós-graduada (Especialista) em UTI neonatal e pediátrica.

e-mail: becabatista@yahoo.com.br

Publicado no Portal da Família em 10/05/2013

 

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