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Ação cultural dos avós

Oliveros F. Otero - José Altarejos

 

Certa ocasião, dialogando com alguns orientadores de avós jovens, surgiu a dúvida sobre a possível ação educativa dos avós com seus netos. Deviam eles educar seus netos ou seu papel era "desfrutar com seus netos", sem mal educá-los? Pesava, realmente, sobre eles algum tipo de responsabilidade educativa com respeito a seus netos?

Alguém concluiu a questão dizendo: - Aos avós não nos corresponde a ação educativa, mas a ação cultural com nossos netos. E todos concordamos, admirados pela sabedoria daquele avô.

Se a educação é a primeira e primordial tarefa da cultura, os avós não educam seus netos, mas facilitam extraordinariamente - com sua ação cultural - sua educação. Deveríamos perguntar-nos o que se requer, na existência de um avô, para poder realizar essa ação cultural. Em primeiro lugar, diríamos, reclama uma vida serenamente madura. E em segundo lugar, a experiência vivida e refletida, que vem a constituir um tesouro na vida familiar.


A idade da experiência

Comecemos pelo último: Experiência refletida. Poderíamos colocar toda esta longa etapa do avô jovem sob o título da "idade da experiência"? Não valorizamos hoje a experiência do ser humano devidamente, talvez porque somos civilizados, mas não cultos. A experiência é um elemento necessário, ainda que insuficiente, para chegar a ser uma pessoa culta. Muitas pessoas que deixaram um legado cultural à humanidade, realizaram o melhor de sua obra nesta "idade da experiência". E se estes homens - Platão, Aristóteles, Miguel Ângelo, Cervantes, etc. - fizeram isto, por que não os demais? Cada homem e cada mulher pode realizar o melhor de sua obra na idade da experiência. Sobretudo, se sabe preparar essa idade, ao invés de temê-la.

A experiência de uma pessoa mais velha é tanto valiosa quanto mais refletida. Ou seja, ao mesmo tempo representa a união do pensar e do fazer, ao longo de muitos anos. É uma experiência tão valiosa - sobretudo, no âmbito familiar - quanto mais disponível e menos imposta. E o que pode fazer a pessoa, cuja experiência não é buscada ou aproveitada? Escrever!

Escrever, na idade da experiência, é tornar mais disponível a própria existência, colocá-la a disposição de futuras gerações às quais interesse. Deixá-la aí para o futuro. Mas que tipo de experiências? Talvez se pense, acima de tudo, em sua experiência profissional; em todo o saber acumulado em questões, digamos, de técnica profissional; no adquirido pessoalmente, em muitos anos, até conhecer a fundo seu ofício. Mas não é esta a experiência mais importante de uma pessoa nesta idade. Sobretudo, quando se valorizam mais os aspectos técnicos que os aspectos humanos da profissão, ou quando o progresso técnico exige mudanças contínuas no enfoque da própria tarefa profissional.

Não é mais importante a experiência do especialista em algum setor especializado da tarefa humana, mas a do especialista na arte de viver. A chamamos idade da experiência, porque a ela se reserva a experiência do viver. Neste sentido escreve Emma Godoy:

"EXPERIÊNCIA É DISTINGUIR O BEM DO MAL EM CADA CASO; TER APRENDIDO AS CAUSAS DOS ACERTOS E ÊXITOS EXISTENCIAIS E TAMBÉM AS CAUSAS DOS ERROS E FRACASSOS"


A aceitação de si próprio

Esta experiência do viver supõe haver provado a si próprio - no favorável e no adverso; - no prazeiroso e no doloroso; - nos acertos e nas falhas; - nos triunfos e nos fracassos, com o correspondente incremento de conhecimento próprio e de aceitação de si próprio. Na civilização atual, um problema importante é a não aceitação das pessoas que completaram os sessenta anos, e até menos. Mas é bem mais grave o problema de não aceitar-se a si próprio.

Se uma pessoa de cinquenta ou de sessenta anos não se aceita a si própria da forma como é, com suas possibilidades e suas limitações, com algumas faculdades diminuídas, - não poderá ajudar aos jovens, - e, em geral, a sua família extensa, - A partir de sua valiosa experiência na arte de viver, - que inclui a experiência da dor. Naturalmente, a aceitação de si próprio não pode ser improvisada. A pessoa deve praticá-la desde cedo, porque é crescer em liberdade em todas as idades.

Nisto, como em tudo, apenas se houve uma cuidadosa preparação, cabe esperar desta etapa da vida um bom serviço para a própria família e para a sociedade (atual e no futuro próximo). Esta preparação equivaleria a uma educação juvenil para a idade madura, para a idade da experiência, para a idade da aposentadoria. Mas é muito difícil "imaginar", antes dos quarenta anos, como será a si próprio, o que fará e como viverá na última fase do avô jovem ou na do avô mais velho, por exemplo. Antes de aposentar-se oficialmente conviria prever o que vai fazer no dia seguinte da aposentadoria oficial e até a aposentadoria real. Conviria saber, com tempo suficiente, que alguém - avô ou não - alcança uma idade que requer: - certa autonomia econômica; alguma preparação física; - uma possível previsão no profissional; e - um contínuo crescimento espiritual.

Então essas fases finais do avô jovem e a que segue - a do avô mais velho, dirigindo-se antes ou depois a reta final - poderiam ser: - a idade da sabedoria (sabedoria do viver e do morrer); - a idade da esperança; - e inclusive a idade da mística, quando já se alcançou um limite, no qual o ar é mais puro, no qual se pode dizer que: chegou a hora do espírito. Por isso - ultrapassando por um momento as fronteiras cronológicas do avô jovem -, resulta muito triste a imagem do ser humano que chega ao final da vida, com seu horizonte fechado ao transcendente, prisioneiro de sua terrenidade, sem visão sobrenatural.

É um final obscuro, tenebroso, sem cume e sem luz. Ainda que, enquanto vive, o homem pode retificar, arrepender-se, voltar a começar. Sobretudo, se uma mão amiga lhe ajuda. Enfim, a importância dos avós consiste: - no tesouro de sua experiência na arte de viver; - em seu desprendimento; - em seu humilde passar despercebidos fazendo o bem; - em seu sorriso habitual; - em seus decantados projetos para os quais faltará tempo; - em sua grandeza espiritual. Esta aceitação de si próprio, nas últimas fases vitais - da mesma forma que nas anteriores, mas mais difícil - é a primeira condição que destacávamos, ao princípio deste capítulo, para poder realizar a ação cultural que se espera de um avô jovem: viver uma vida serenamente madura.


"Os Avós Jovens", Oliveros F. Otero - José Altarejos
Fonte: EDUFAM - www.edufam.com



 

 

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