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Ser pai no terceiro milênio

Sueli Caramello Uliano


Os filhos do WOODSTOCK/69 puseram fogo no OODSTOCK/99. Dirão alguns que não são os filhos, e, sim, os netos. O fato é que as idéias tão fortemente semeadas a partir dos anos 60 sob o lema "Paz e Amor" permearam toda a cultura ocidental da segunda metade do século XX. Hoje o ocidente contempla estarrecido o fracasso dos ideais "hippies", que, aparentemente, tinham tudo para fazer o homem mais feliz. Afinal, quem se atreve a duvidar que a paz e o amor estão no âmago dos anseios de felicidade de todos nós? E, no entanto..., deu no que deu.

Pode-se explicar tal contradição: a paz e o amor que almejamos não são esses que o "V" da vitória anunciava como valores acima de todos os outros. Tal paz e tal amor eram , no máximo, uma caricatura, uma versão comercial, amplamente consumível, que serviu de rótulo, sem dúvida atraente, para mercadoria falsificada. A verdadeira paz não é uma preguiça mais ou menos disfarçada sob o título de protesto contra as instituições, não é o isolamento que volta as costas para os problemas sociais, ostentando ambições superiores e omitindo-se covardemente, não decorre da insensibilidade própria de quem tem a consciência cauterizada e se afasta de qualquer compromisso, para mergulhar na paz dos píncaros, entre alucinações... A verdadeira paz é fruto de uma luta empenhada contra o próprio egoísmo, é uma conquista cotidiana, silenciosa porém persistente, que torna o coração capaz de abrir-se para ir ao encontro dos outros, nas dores e nas alegrias.

A verdadeira paz decorre, portanto, da capacidade de amar. E não se pode dizer amor onde apenas se quer dizer relação sexual, cópula, encontro impessoal de corpos que buscam uma sensação de prazer fugaz, efêmera, sem outra finalidade que não seja o prazer. O verdadeiro amor é doação de si mesmo. Assim também o amor conjugal supõe que pai e mãe estejam empenhados em fazer, cada um, a felicidade do outro e, juntos, a felicidade dos filhos.

Pode-se pensar que a sociedade sofreu, nestes últimos tempos, os efeitos da "lei do bêbado": para fugir de um autoritarismo extremado que levava a incompreensões e intolerâncias, dentro e fora da família, oscilou e pendeu para o outro lado, fulminando o conceito de liberdade. Liberdade passou a ser definida em termos de: "fazer tudo o que se quer fazer", como se dizer "não" fosse impróprio de um ser livre. Ora, liberdade é capacidade de escolha e não deve vincular-se a proibição e, sim, a responsabilidade.

Quem participou do WOODSTOCK/69 afirma que naquela ocasião não havia clima para os episódios de 99. Se alguém tentasse barbarizar, seria renegado pelos outros. São afirmações convincentes. Afinal, naquela época, não havia tiroteios em escolas (e, embora lamentavelmente se morresse e se matasse no Vietnã, o atirador sofria com isso), e, no Brasil, não se queimavam índios e mendigos. Pioramos muito. E nenhuma instituição social sofreu tanto abalo quanto a família.

A família, bombardeada pelos falsos conceitos de amor e liberdade e afivelada à busca irrefreável de prazer que o hedonismo apregoa, viu desaparecer o sentido do compromisso entre os cônjuges, do compromisso destes em relação aos filhos e, destes, em relação aos irmãos, quando existem. Porque tornaram-se tão imperiosamente indispensáveis os bens mais supérfluos que entende-se que é oportuno ter poucos filhos para poder dar-lhes tudo. E começa-se por deixá-lo sozinho, sem irmãos, na creche ou sob o cuidado de terceiros.

Dizem que há uma crise educacional que começa na família, ou no que restou dela. Que é preciso impor limites às crianças, aos jovens: "eles precisam aprender que nem tudo o que se quer, se pode fazer". O conteúdo dessa afirmação é tão óbvio que não dá para acreditar que tenha sido ignorado. Acontece que esse princípio é, pelo menos, insuficiente: não se educam filhos a distância e não se pode educar positivamente partindo de negativas. Atenção! Lá vai o bêbado pendendo para o outro lado, o do autoritarismo sem mais delongas...

Coragem, pais das próximas décadas, advento do terceiro milênio! É preciso agir com sobriedade. Fugir das bebedeiras de trabalho que lhes roubam o tempo que deveriam dedicar aos filhos; fugir das alucinadas competições para subir de status social; fugir dos porres de conforto, de telejornais, de comida, de bebida, mesmo, e de realidades virtuais que os fazem esquecer a verdadeira realidade: os filhos adoram bater papo com os pais...

E nesses papos, quanta alegria se poderá semear! A alegria de cultivar a confiança mútua, de compreender e saber-se compreendido, de ensinar e aprender não apenas os limites, mas a possibilidade de superar as próprias limitações, de chegar a ser a excelência que a sociedade precisa que cada um seja. Cabe aos pais a tarefa urgente de tornar o coração dos filhos capaz de abrir-se para ir ao encontro dos outros, nas dores e nas alegrias.

 

Sueli Caramello Uliano , mãe de familia, pedagoga, Mestra em Letras pela Universidade de São Paulo, Presidente do Conselho da ONG Família Viva, Colunista do Portal da Família e consultora para assuntos de adolescência e educação.

É autora do livro Por um Novo Feminismo pela QUADRANTE, Sociedade de Publicações Culturais.

e-mail: scaramellu@terra.com.br

 


 

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