Portal da Família
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MEDICINA
DE FAMÍLIA Prof. Dr. Pablo González Blasco |
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Medicina de família, médico de família. Uma moda que volta? Um retrocesso saudosista que abre mão dos progressos da ciência e da medicina? Ou talvez um oportunismo no vácuo de um programa do Governo -Programa de Saúde da Família- que chega com ares messiânicos como solução de todos os problemas de saúde do cidadão comum? Afinal, o que é medicina de família, onde estão os tais médicos de família? Duas historias para esclarecer os termos. Em
certa ocasião, já faz alguns anos, atendi um chamado médico
na casa de uma família que me procurou, por indicação,
sem conhecer-me. Apresentei-me na porta, atendi o paciente, expliquei
para a família o que estava acontecendo, fiz as prescrições
necessárias, assim como as recomendações para cuidar
do enfermo, e aceitei, de bom grado, o cafezinho que me ofereceram. Neste
momento de descontração, cumprido o dever profissional,
a filha do paciente confessou: A história encerra ensinamentos e torna clara a questão em pauta. O médico de família, logo sabia o que estava acontecendo, acertava o diagnóstico do mal que acometia o paciente, e resolvia com facilidade, de modo prático. Acabei a minha segunda xícara de café e, após despedir-me entrei no carro, dei partida, e mal engatei a primeira vieram à minha mente as palavras que com freqüencia utilizo nas minhas aulas para explicar o que os médicos de família fazemos. Algo que a filha do meu paciente acabava de dizer ao seu modo. "Tão importante como conhecer a doença e conhecer a pessoa que tem a doença". Ou também: "Não existem doenças, mas doentes". Sem esquecer de William Osler, um grande médico, que com audácia afirmava: " Mais importante do que o médico faz, é o que o paciente pensa que o médico está fazendo". Toda essa sabedoria, sem dúvida, estava encarnada na saudosa figura do velhinho, do médico de família versão Papai Noel lembrado por nossa nova amiga. A segunda história vem não de um paciente,
mas de um velho médico e professor, com quem conversei diversas
vezes sobre as questões de medicina de família. Por associação de idéias lembrei
nesses momentos do Geraldo, o mecânico do meu carro, em quem deposito
toda minha confiança. Como não entendo nada de automóveis,
sempre que surge algum problema, levo-o para o Geraldo dar uma olhada.
Já lhe disse muitas vezes: As histórias que um médico de família tem a oportunidade de viver diariamente, são muitas e constituem a melhor explicação para a sua profissão. Os pacientes logo entendem o que é Medicina de Família e quando ela existe e funciona a procuram sem hesitar. Mas a cultura de especialidades que se encontra instalada na assistência à saúde - pública e privada - atinge o próprio paciente que desconfia de uma novidade que lhe lembra tempos antigos, de velhinhos de colete, com cara de Papai Noel. Será que isso está voltando? Não sei, não. Quando o paciente nos procura, sem saber que somos
médicos de família, e perguntamos "O que mais o senhor
sente", já ouvi diversas vezes: "Doutor, da sua parte
é só isso". E quando nos apresentamos num serviço
como médicos de família, o paciente vislumbra que podemos
ajudar nos seus problemas de saúde, ainda pergunta para certificar-se:
"Doutor, que sintoma devo ter para poder passar em consulta com o
senhor". Claro é, que a resposta vem das conversas com o velho
professor: "Minha senhora, eu cuido de gente, de pessoas. Quando
a senhora estiver passando mal, pode me procurar". Igualzinho quando
eu procuro o Geraldo - penso com os meus botões. A Medicina de Família, especialidade reconhecida em muitos países, luta por abrir caminho no nosso Brasil. Um caminho que implica atender as necessidades da população e, ao mesmo tempo, instalar-se na Universidade, nas faculdades de medicina - que é onde se fabricam os médicos - para fazer deles profissionais competentes. A sabedoria do nosso velhinho com colete e sorriso do Papai Noel, mas com ciência moderna, com tecnologia, com informação, para poder oferecer ao paciente o que de melhor se produz no mundo científico. O médico de família não pode ser um profissional anacrônico, do passado, desatualizado. Deve ser alguém que incorpore os progressos da ciência e os faça chegar ao paciente numa linguagem compreensível. A Medicina vive tempos de vertiginoso progresso técnico. Paralelamente, nunca se chegou a semelhante nível de despersonalização - de desumanização, por usar uma linguagem na moda - na hora de tratar o paciente. Parece até que o médico está tão preocupado com a doença que se esquece do paciente que é o portador dessa doença. Não é culpa de ninguém, mas sim uma situação que requer um posicionamento novo, para recuperar o aspecto humano da medicina, isto é, para colocar o paciente em primeiro lugar. No cenário da medicina o paciente sempre é o protagonista, o ator principal; o máximo que o médico deve ser é um bom coadjuvante. O médico de família surge assim como a figura integradora, como um referencial de confiança para que o paciente possa consultá-lo nas questões ordinárias de saúde. Saberá este nosso médico de família - que tem a sabedoria do velhinho, mas com roupa nova, sem colete do século XIX - estudar o paciente como um todo, numa abordagem geral, completa. Saberá ouvir o paciente, saberá ajudar, cuidar. Saber-se cuidado é aspecto fundamental na luta do paciente contra a doença. Um médico que é técnico, moderno, atualizado; e que é ao mesmo tempo humano, compreensivo, cuidador. Medicina de Família, Medicina centrada na pessoa, Medicina Integral são variações sobre o mesmo tema que representam o que em outras épocas chamava-se médico de cabeceira, aquele que como o livro de cabeceira se consulta para tudo, que vai com a gente, a toda hora. Um verdadeiro vade-mecum. É o médico que cuida de você e lhe ajuda a superar os problemas, que você pode consultar sem ter que se preocupar de acertar diagnósticos ou de padecer determinados sintomas. O médico de família não é o médico do seu coração, nem do seu rim, nem da sua artrose, nem da sua depressão. Ele é, simplesmente, o seu médico. Você já tem um?
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Sociedade Brasileira de Medicina de Família
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