Portal da Família
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GESTÃO
DE PESSOAS: TODOS OU NINGUÉM
Floriano Serra |
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O estopim das verdadeiras e efetivas mudanças comportamentais que transformam o executivo num líder vencedor não está em outros idiomas, em diplomas nem em eventos sofisticados, senão dentro de cada indivíduo mais precisamente dentro do coração de cada um. O começo de tudo é o coração. Imagine a seguinte situação numa empresa qualquer, em qualquer área: numa determinada segunda-feira, o diretor chega para o expediente diário e...não há mais ninguém alem dele no departamento! Não me perguntem o que aconteceu, estou apenas dando um exemplo e pedindo a cada leitor que use sua imaginação. O fato é que, em um determinado departamento, em plena manhã de segunda-feira, não chegou mais ninguém para trabalhar além do Diretor. Poderia ser um Gerente. Poderia ser o Presidente da firma. O cargo não importa para o assunto que desejo abordar, desde que tenha pessoas sob seu comando. Passados poucos minutos, nosso bravo diretor solitário pensa: ok, eu pego esse pessoal, um a um. Espere só eles chegarem!.... Acontece que o tempo vai passando e eles não chegam. Aí dá 9 horas e os telefones começam a tocar desesperadamente, os clientes começam a chegar para a reunião e estão todos lá na portaria sem saber o que fazer porque não há ninguém para atendê-los. Surgem também os fornecedores, os cobradores, os fiscais do trabalho, os e-mails vão abarrotando a caixa de mensagem, o telefone do fax não pára de tocar, a produção do dia ainda não começou, os vendedores ainda não começaram a vender...Gente, que loucura! E o diretor grita já quase desesperado:Alôoooô! Tem alguém aqui? Onde estão todos? e pensa: Ah, e essa sede terrível!.. - e grita outra vez: - Alguém me traz um copo d´água? Um cafezinho também! E nada. Silêncio absoluto não fosse pelos telefones tocando e aquele sininho repetitivo do Outlook informando que tem mensagem nova. O diretor sente que a sua pressão arterial já está acima do que devia mas quem vai medir sua pressão? Essa situação seria engraçada se não fosse dramática. O que realmente desejo com essa abstração é ilustrar ou exemplificar uma coisa vergonhosamente óbvia e que eu despudoradamente, nos meus artigos e palestras, venho insistindo em escrever ou discursar sem o menor receio de pecar pela obviedade: uma empresa não existe sem os seus funcionários. Para o caso de alguém não ter me entendido bem, direi de outra forma: nenhum Presidente, Diretor ou Gerente consegue fazer o seu trabalho, atingir as suas metas de produção, de serviços ou de vendas se não contar com a ajuda absolutamente indispensável da sua equipe ! Pronto. Isto é: ponto! - Ora, mas isso é óbvio, isso tá na cara! Ah é? Pois se isso é tão óbvio assim, se isso tá na cara, por que é que ainda há um monte de executivos tratando mal seus funcionários, hein? Eu já disse a vocês que 70% dos trabalhadores do Brasil sofrem de estresse e 30% deles estão no pior nível da doença, com tendências ao suicídio segundo informou ano passado a Ana Maria Rossi, presidente da ISMA/Brasil (International Stress Management Ass.), em entrevista publicada na Gazeta Mercantil? Também já disse a vocês
que, para cada duas demissões ocorridas no mercado, uma é
gerada por incompatibilidade de convivência com o chefe imediato,
segundo estudo realizado pela área de Executive Search da KPMG,
e publicado no site www.valoronline.com.br/valoreconomico, em fins do
ano passado? Pois é. Nunca se falou tanto em equipes de alta performance como agora. Praticamente a cada semana aterrisa no Brasil um guru (aaaaargh!) estrangeiro com fórmulas mágicas para se obter o sucesso através de pessoas motivadas...e nada! O auditório fica lotado (apesar do alto preço da inscrição), os hotéis são luxuosos, os coquetéis são fartos, as recepcionistas são amáveis e simpáticas... mas cadê as mudanças comportamentais? Não que o ser humano não seja capaz de mudar claro que é, desde que o queira e se esforce para isso. Não que o treinamento não ajude nessas mudanças claro que ajuda mas o que ocorre em geral é que justamente quem precisa dessa ajuda não comparece ao treinamento. Não que uma boa terapia não ajude o individuo a repensar seu jeito de ser e de tratar os outros, mas quantos executivos você conhece que pede ajuda a um psicólogo para saber como tratar melhor seus funcionários? O que vou revelar, dentro do caminho
da obviedade, é de uma singeleza franciscana ou beneditina,
não sei qual é a referência mais forte como símbolo
de simplicidade. Mas vamos lá: o estopim das verdadeiras e efetivas
mudanças comportamentais que transformam o executivo num líder
vencedor não está em outros idiomas nem em eventos sofisticados,
senão dentro de cada indivíduo mais precisamente
dentro do coração de cada um. Poder sem afeto é tirania.
Liderança sem humor é despotismo. O
começo de tudo é o coração. Porque se o gestor - independente do nome do cargo - não gosta de gente, se não acredita que deve respeitar as pessoas, se não vivencia suas emoções e se não tem afeto e alegria dentro de si para temperar com solidariedade e otimismo as pessoas que o ajudam a conseguir resultados, então não é pelos inúmeros diplomas acadêmicos obtidos que seu racional vai conseguir entender os sensíveis caminhos da motivação humana. A fantasia que usei no início deste artigo pode fornecer subsídios à razão. Mas não acredito que seja suficiente para fazer algum Diretor ou Gerente programar, ainda para hoje, uma reunião com todo seu pessoal para desculpar-se de suas constantes e desrespeitosas atitudes de mando. É preciso ver os colaboradores com o coração o que, segundo Saint-Exupéry (que me perdoem os intelectuais...), é a única forma de se ver bem. Já se sabe que educação
só funciona com afeto e respeito. Saibam todos que liderança
também.
Floriano Serra é psicólogo, escritor e palestrante, autor de vários livros e artigos sobre o comportamento humano nas empresas. Foi diretor de Recursos Humanos em empresas nacionais e multinacionais, recebendo vários prêmios pela excelência em Gestão de Pessoas. É autor de uma dezena de livros, como "A Empresa Sorriso" e "A Terceira Inteligência", e mais de 200 artigos sobre o comportamento humano - pessoal e profissional, publicados em websites, jornais e revistas, inclusive no Exterior.
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