Portal da Família
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O
jornalista e o educador Carlos Alberto Di Franco |
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Aqui estou, caro leitor, vivendo um período
sabático nesta Roma tão carregada de beleza e encantamento.
O distanciamento do dia-a-dia e o mergulho nos textos acadêmicos
suscitam muitas reflexões. Pensava, recentemente, nas relações
entre a educação e a mídia. De fato, entre o educador
e o jornalista existe um denominador comum: o amor à verdade e
a paixão pela liberdade. No binômio ético, comprometedor
e fascinante, se apóia o futuro da sociedade. Um país não
é fruto do acaso. É o resultado acabado de algumas premissas
bem determinadas. O professor, com sua conduta profissional e pessoal,
educa ou deforma. O jornalista, com seu profissionalismo ético
ou sua leviandade de ocasião, informa ou desinforma. "Os jornalistas",
afirma Paul Johnson, colunista da revista britânica Spectator,
"devem possuir o impulso do educador." Mas os educadores devem
desenvolver a coragem moral dos grandes repórteres. O homem tende para a verdade. Por isso, a falência
da verdade é a principal causa da decadência de qualquer
sociedade. E, em contrapartida, reerguer uma sociedade é reerguê-la
primeiro moralmente, fazendo reinar nela o que há de essencial:
o primado da verdade. Trata-se de missão essencial do jornalista
e do educador. A crise brasileira, à semelhança do que está
acontecendo em outras paisagens, é o corolário da educação
concessiva e acovardada e do bombardeio de uma mídia que presta
excessivo culto à frivolidade e aos modismos politicamente corretos. "É preciso construir uma aliança
entre democracia e verdade". A frase, do conhecido filósofo
italiano Rocco Buttiglione, dá o que pensar. Conjugar democracia
e verdade não parece tarefa fácil. Alguns, dominados pela
síndrome de um fundamentalismo prático, pretendem uma verdade
desvinculada da liberdade. Outros, reféns de esquemas relativistas,
defendem uma liberdade emancipada da verdade. Esquecem, uns e outros,
que a democracia -estrutura que mais genuinamente garante a dignidade
da pessoa- pressupõe a harmonia entre verdade e liberdade. Por
isso, jornalistas e educadores não podem viver de costas para a
verdade e para a liberdade. Certas teorias no campo da educação
estão apresentando resultados perversos. Uma legião de desajustados,
crescida à sombra do dogma da psicologia não traumatizante,
está mostrando o seu rosto anti-social. A versão tupiniquim
do fracassado modelo Summer Hill, importado com rotineiras décadas
de atraso, têm gerado delinqüentes de luxo. Ao traçar o perfil da sociedade norte-americana,
o sociólogo Christopher Lasch (autor do livro A Rebelião
das Elites), sublinha as dramáticas conseqüências que
estão ocultas sob a aparência da tolerância: "Gastamos
a maior parte da nossa energia espiritual no combate à vergonha
e à culpa, pretendendo que as pessoas se sentissem bem consigo
mesmas." O saldo, no entanto, é uma geração
desnorteada e vazia. Alguns setores da mídia estão na outra
ponta do problema. Páginas de comportamento, atulhadas de frivolidade,
transmitem uma falsa visão da felicidade. Os conceitos de fidelidade,
sacrifício e renúncia, pré-requisitos da vida real,
foram sendo substituídos pelos eufemismos do egoísmo: independência,
realização, autonomia. O inchaço do ego e o emagrecimento
da solidariedade estão na raiz de inúmeros problemas. A juventude, rebelde e sincera, sabe confrontar o
brilho do olhar limpo com a mirada opaca dos homens de palha. Na verdade,
uma geração livre e amadurecida está emergindo dos
escombros provocados pela educação permissiva e pelas lantejoulas
do negócio do entretenimento. Toda uma juventude, perfilada em
dados de várias pesquisas, está identificando valores como
amizade, fidelidade, amor, respeito. Há uma demanda reprimida de
normalidade. O futuro não será conservador na acepção
pejorativa que a prostituição semântica impôs
ao termo. Será, estou certo, um período de recuperação
do verdadeiro humanismo. Artigo publicado na coluna Opinião em Foco
- 01/10/2003 - Master
em Jornalismo para Editores |
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