Portal da Família
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Imprensa
- a importância da denúncia Carlos Alberto Di Franco |
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São Paulo (SP) - Perguntam-me alguns, em seminários e debates, se o jornalismo de denúncia não estaria extrapolando as suas funções e assumindo tarefas reservadas à polícia e ao Poder Judiciário. Outros, ao contrário, preocupados com reiterados precedentes de impunidade, gostariam de ver repórteres transformados em juízes, promotores ou policiais. Um exame sereno, no entanto, indica um saldo favorável ao esforço investigativo dos meios de comunicação. O despertar da consciência da urgente necessidade de um perseverante combate à corrupção, representa um serviço inestimável prestado pela imprensa deste país. Recentemente, estive no Mato Grosso. Em Cuiabá, visitei alguns jornais. Impressionou-me a força da mídia local no desmonte do crime organizado. A imprensa, de fato, travou um combate duro e cruento contra o crime que se instalara nas entranhas do poder daquele Estado. Conversei com a viúva do jornalista Sávio Brandão, fundador da Folha do Estado. Combativo e honrado, Brandão era uma pedra no caminho criminoso do bicheiro João Arcanjo Ribeiro. Arcanjo, que transitava com desenvoltura no meio político e empresarial do Estado, mandou matar o jovem jornalista. A morte de Brandão, no entanto, não foi mais uma. O crime sacudiu a sociedade e acordou a opinião pública. Na verdade, foi o estopim que desencadeou a faxina. Arcanjo está preso em Montevidéu e o executor do crime, o ex-cabo da Polícia Militar Hércules Araújo de Agostinho, passou o reveillon na cadeia. O juiz federal João Carlos da Rocha Mattos (Operação Anaconda) e o empresário Sérgio Gomes da Silva (acusado pelo Ministério Público de São Paulo de ser um dos mandantes do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel), também estão pagando suas faturas. Bom sinal. A exposição da chaga, embora desagradável, é sempre um dever ético. Não se constrói um país num pântano. Impõe-se o empenho de drenagem moral. E só um jornalismo de denúncia, comprometido com a verdade, evitará que tudo acabe num jogo de faz-de-conta. Os meios de comunicação existem pra incomodar. Um jornalismo cor-de-rosa é socialmente irrelevante. A imprensa, sem precipitação e injustos prejulgamentos, está desempenhando importante papel na recuperação da ética. Mas o jornalismo de denúncia, numa rigorosa prestação de serviço, pode e deve ir ainda mais longe. Resgato hoje, neste espaço opinativo, uma sugestão editorial que venho defendendo há anos. Não seria má idéia inaugurar o Placar da Corrupção. Mensalmente, por exemplo, a imprensa exporia um quadro didático dos principais escândalos: o que aconteceu com os protagonistas da delinqüência, as ações concretas ou as omissões dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Os jornais brasileiros têm cumprido um papel singular. Transformaram-se, de fato, numa instância decisiva de uma sociedade abandonada por muitas de suas autoridades. O Brasil, graças também à qualidade dos seus jornais, está experimentando uma profunda mudança cultural. A corrupção, infelizmente, sempre existirá. Faz parte da natureza humana. Mas uma coisa é a miséria do homem; outra, totalmente diferente, é a indústria da negociata e a certeza da impunidade. Estas, sem dúvida, devem e podem ser combatidas com os instrumentos de uma sociedade civilizada. E a transparência informativa representa elemento essencial na renovação dos nossos costumes. O Brasil depende, e muito, da qualidade ética da sua imprensa. A opinião pública espera que a mídia, apoiada no crescente aprimoramento dos seus recursos humanos e na ética, prossiga no seu ânimo investigativo. Até o fim.
Artigo publicado na coluna Opinião em Foco
- 03/01/2004 - Master
em Jornalismo para Editores |
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