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             Vou começar o ano assumindo 
              uma teimosia, uma certeza incessantemente repetida nos meus artigos 
              e palestras em 2003: é possível existir uma empresa 
              onde se trabalha feliz. 
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      Certamente ao longo deste novo ano, vou 
        correr o risco, junto a alguns leitores, de ser taxado de repetitivo. 
        Não importa. É um risco assumido porque é fruto de 
        uma tranqüila, absoluta e irreversível convicção: 
        a de que é possível ser feliz no trabalho - desde 
        que se tenha a sorte e o privilégio de se trabalhar numa empresa 
        que promova, permita e produza felicidade, 
        além de bens e serviços de alta qualidade e de grande aceitação 
        pelos clientes e consumidores. 
         
        Tranqüiliza-me o fato de não estar só nessa teimosia, 
        pois faço minhas as palavras do escritor francês André 
        Gide: "Todas as coisas já foram ditas. Mas como ninguém 
        escuta, é preciso sempre recomeçar".  
         
        Vocês bem sabem como tem gente "surda" nas empresas... 
        E o pior é que, para estes, não adianta fazer audiometria 
        nem cirurgia nos tímpanos. O problema é mais embaixo - ou 
        mais em cima, sei lá. Quantas Parmalats vão precisar implodir 
        e explodir para que alguns empresários "ouçam" 
        a simples verdade de que a ganância, a falta de ética e a 
        exacerbação do poder não levam a nada, senão 
        à infelicidade? 
         
        Acredito numa empresa-sorriso - até porque conheço 
        uma. 
         
        Acredito numa empresa onde se trabalha feliz - até porque 
        conheço uma. 
         
        E porque conheço, acredito que existam empresários e executivos 
        competentes e vencedores, que dirigem empresas lucrativas e éticas. 
        E que, por extensão, sorriem para o porteiro, o faxineiro, o colaborador 
        operacional, o administrativo, o de vendas e, claro, para todos os seus 
        executivos e liderados, independente do nível hierárquico. 
        Uma empresa onde todos sorriem - porque são felizes. 
         
        Daria um bom papo a gente discutir numa rodinha de amigos o que é 
        causa e o que é efeito nesses casos: a empresa 
        é lucrativa porque é sorridente ou é sorridente porque 
        é lucrativa? Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? E, cá 
        pra nós, o que isso importa? 
        O que realmente importa saber é que, se isto é um sonho, 
        é perfeitamente possível - como na maioria dos sonhos - 
        transformá-lo em realidade. 
         
        E como é essa empresa-sorriso?  
         
        Antes de tudo, é uma empresa que tem a ousadia e a coragem de tomar 
        decisões também com o coração e a intuição. 
        Onde a Razão é valorizada - sem excessos - e onde 
        o "poder" é desmistificado. Poder que não 
        constrói felicidade, não merece esse nome. Claro que na 
        empresa-sorriso o lucro também é importante 
        e, na busca dele, ninguém brinca em serviço. Ou melhor, 
        até brinca, na medida em que todos aprendem a conviver e a se divertir 
        com os desafios. Mas, como em tudo na vida, há limites. A diferença 
        é que na empresa-sorriso os limites são bem definidos. 
        Por exemplo: nenhum milhão de lucro a mais vale o sofrimento, a 
        infelicidade ou a doença de um só colaborador. Porque a 
        empresa-sorriso sabe que o conceito de lucro é relativo. 
        Uma empresa "doente" - rígida, mal-humorada, 
        antiética, injusta, repressora - jamais pode se considerar lucrativa 
        por mais que suas receitas superem suas despesas. Há um ganho 
        humano que dinheiro nenhum substitui. O ganho da paz, da harmonia, 
        da amizade, do bem-estar, do reconhecimento, do respeito, do crescimento, 
        do sorriso - basta? Ou será que alguém, acreditando que 
        o dinheiro resolve tudo, preferiria estar na pele do...esqueçam, 
        não vou citar nomes. Quem lê jornal, ouve rádio ou 
        assiste tele-jornal não terá dificuldades para preencher 
        as reticências. 
         
        Como diz um empresário-sorriso, amigo meu: "A empresa-sorriso 
        é uma entidade que não manipula pessoas, que não 
        cria medos de dispensas imotivadas, que dá espaço para a 
        participação de todos os seus colaboradores e que sabe despertar 
        neles a motivação e o comprometimento. Enfim, é um 
        lugar onde nos sentimos verdadeiramente "donos da empresa" , 
        onde todos se sentem "empresários". 
         
        É isso aí. Não preciso dizer mais nada. 
         
        Difícil? Utópico? "Não sabendo que era 
        impossível, ele foi lá e fez!" - como já 
        li essa frase com crédito a ambos, não sei se foi o Lao 
        Tse ou o Jean Cocteau quem falou isso, mas falou bonito. Impossível 
        é aquilo que ainda não se tentou fazer.  
         
        Aliás, é justamente por achar que essas mudanças 
        nas empresas são impossíveis é que muita gente boa 
        deixa de tentar, o que acaba retardando a implementação 
        desses novos modelos de gestão de pessoas. Isso me faz lembrar 
        a "bola-fora" do Prêmio Nobel em Física, Robert 
        Milikan, quando, em 1920, disse: "Não há a mínima 
        possibilidade de que o Homem possa algum dia utilizar o poder do Átomo". 
        Bom, dez anos depois Lord Rutheford, descobridor da fissão nuclear, 
        também deu sua pisadinha de bola: "Quem imagina que 
        a transformação do átomo possa ser fonte de energia, 
        está falando bobagem". E não pensem que essas 
        crises de miopia mental eram privilégios do século XX. Em 
        1872, Pierre Pouchet, Professor de Fisiologia de Toulouse, França, 
        afirmava que "A teoria dos germes, de Louis Pasteur, é 
        uma ridícula ficção!" 
         
        Eu não tenho a menor dúvida de que, em pleno 2004, há 
        quem esbraveje contra meus artigos e palestras: "Empresa-sorriso? 
        Felicidade no Trabalho? Alegria na Organização? Bah!!! Essas 
        teorias do Floriano Serra não passam de uma grande bobagem!!! 
        "  
         
        Tá bom, fazer o que? Quem viver, verá.  
        Feliz Ano Novo e Sorridente pra todos. 
         
        
         
      
  
       
       
        Floriano Serra é psicólogo, Diretor de Recursos Humanos 
        e Qualidade de Vida da APSEN Farmacêutica e presidente do IPAT 
        -Instituto Paulista de Análise Transacional.
      
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