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A justiça dos pais

David Isaacs


Talvez uma das dúvidas mais freqüentes de um pai de família é se atuou justamente com seus filhos. A civilização romana representava a justiça como uma mulher cega, que buscava o equilíbrio em uma balança. Desde então, nós, os pais devemos tentar ser o mais objetivos em nossas relações com os filhos. Entretanto, atuar com justiça pode ser enormemente duro para os pais e para os filhos, em alguns momentos. Por isso, sempre deve ir acompanhado pelo carinho. Os pais estão cumprindo com o papel que pode ser incluído no que antes denominamos "justiça distributiva". E "atuar bem" supõe tentar superar qualquer simpatia ou antipatia que possa haver, a respeito de cada filho. Cada filho é diferente e necessita um trato diferente, mas isto tem que ser harmonizado com algumas normas gerais de comportamento, para toda a sociedade familiar.

As normas para toda a família seguramente virão definidas por alguns critérios básicos relacionados com:

- o direito à intimidade;
- o direito ao respeito, por parte dos demais;
- o direito à ajuda dos demais, para alcançar uma maior plenitude humana e sobrenatural cada dia;
- o direito a participar, de acordo com a capacidade de cada um;
- o direito a conviver com ordem;
- o direito à intimidade.

Evidentemente, estes direitos serão compensados pelo dever correspondente. Mas o modo de interpretar cada um destes direitos e deveres pode ser diferente, de acordo com as características e circunstâncias de cada membro. Por isso, tratar-se-á de exigir e orientar a atividade de cada filho, com grande flexibilidade.

Quando os filhos não cumprem o que devem, nos encontramos com o problema dos castigos. É absurdo dizer que alguém está a favor ou contra os castigos, porque, de fato, estamos sancionando os demais continuamente, sorrindo-lhes, escutando-os (sanções positivas), ou lendo o jornal e sem escutar ou olhando o relógio quando um filho nos está contando algo que para ele é importante (sanções negativas). O que deve procurar-se é que as sanções sejam adequadas, buscando a melhora do filho. Não pretendemos ser justos sem mais, mas ser justos para conseguir uma melhora pessoal no filho. A criança e o jovem esperam que seus pais atuem justamente com eles e isto inclui que os castiguem no momento oportuno.

A criança pequena costuma opinar que é necessário inclusive, um castigo severo quando uma regra foi quebrada, buscando algum tipo de expiação. E esta idéia somente muda, à medida em que o controle e exigências diretas dos pais começam a estabelecer-se como cooperação entre todos. Neste momento, a criança descobre que o castigo mais adequado é a reparação (se um menino quebrou uma janela, não se trata de castigá-lo sem ver televisão por uma semana, mas de obrigá-lo a pagar uma janela nova, por exemplo). É a adequação mais exata, neste caso.

E, por último, os pais também têm que aprender a retificar. Ser justo não é fácil, especialmente quando não contamos com uma informação completa, ou quando estamos influenciados por alguma paixão não devidamente controlada.

Pretendemos que os filhos adquiram a virtude da justiça não só para que atuem bem no seio da família e com seus amigos, mas também como cidadãos que vão atuar responsavelmente. E, neste sentido, devemos ter em conta que "o opor-se e o criticar por princípio, o censurar e o culpar cegamente, sem prévia consideração de nenhum gênero, é um ato de injustiça, um atentado contra a justiça distributiva, a única virtude que permite aos Estados viverem e manterem-se em ordem".

 

Do livro "A educação das virtudes humanas e sua avaliação"

 

 

 

 

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