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Modos de Amar

Francisco Faus



Conta-se de um velho almirante da reserva que, quando queria pintar a fachada da sua casa - vivia numa cidade onde era costume pintá-las pela primavera -, mandava o pintor à casa do vizinho que morava em frente, para lhe perguntar de que cor gostaria que a pintasse. O bom velhinho explicava esse seu modo de proceder dizendo: "Afinal, ele, o vizinho, é quem ficará vendo a fachada todos os dias; é natural que eu a pinte ao gosto dele". É uma delicada transparência do coração do homem bom, que vive sempre voltado para o bem e para a alegria dos outros, e nisso encontra a sua maior satisfação.

Isto faz pensar nas nossas atitudes e, concretamente, na facilidade com que incorremos num erro de perspectiva: com a melhor das boas vontades, dedicamo-nos a amar os outros "ao nosso modo", mas esquecemo-nos de amá-los "ao modo deles", o que seria muito melhor.

Entendamo-nos. Não basta dizer, quando nos preocupamos em ajudar os outros: "Faço isto pelo seu bem". É necessário ter uma fina intuição para fazer "isto" do "modo" que contribua mais eficazmente para o seu bem.

Um pai que corrige o filho, imediata e energicamente, todas as vezes que depara com uma desobediência ou uma irresponsabilidade, pode estar intimamente convencido de que atua "apenas e tão somente" pelo bem desse filho. E, caso o garoto se lhe torne revoltado, mentiroso e desleal, sentir-se-á profundamente magoado, ao mesmo tempo que se lamenta: "Depois de tantos desvelos, de tanta dedicação para educá-lo..."

Esse pai, por mais que se sinta magoado e recrimine a ingratidão do filho, não está com a razão. E não está precisamente porque não foi capaz de amá-lo "ao modo dele", isto é, procurando o "modo" mais fecundo de lhe fazer o bem.

Com isto, já estamos esclarecendo que, quando dizemos "ao modo dele", não pensamos que o amor paterno deva acomodar-se a todos os caprichos e vontades do filho. Se fizesse isso, esse pai cairia naquela "bondosidade mole" que mais destrói do que edifica. A expressão "ao modo dele" significa, neste caso, o esforço da mente e do coração por acertar com a maneira realmente eficaz de ajudar o filho a ser melhor.

Podemos dar por certo que esse mesmo pai, se tivesse atuado com mais paciência e, sobretudo, se tivesse dedicado mais tempo a fazer-se amigo do filho, conseguiria que as suas correções fossem construtivas. E muito fácil "cair em cima" e dizer "eu tenho razão". Já foi lembrado por alguém que, por ter razão, até agora ninguém foi para o céu. É muito mais profícuo guardar a razão, ao menos provisoriamente, no bolso, e pensar seriamente: "Como posso mesmo ajudá-lo a melhorar?"

Não tenhamos dúvida de que o pai em foco ajudaria imenso se gastasse mais algum tempo no fim do dia, e nos fins de semana, a sair, jogar bola, discutir música e conversar com o filho, tornando-se assim o seu melhor amigo. Nesse clima de amizade confiante, poderia orientá-lo e corrigi-lo, quando fosse o caso, com palavras cheias de credibilidade, já que o filho perceberia que, se o pai o contraria, não é por ser um maníaco perfeccionista nem por estar irritado, mas porque gosta dele e o quer ajudar. É a isto que chamamos amar "ao modo" dos outros. Uma arte extremamente necessária e certamente nada fácil. Só o amor generoso é capaz de aprendê-la.


Fonte: "O Homem Bom, Reflexões sobre a bondade", de Francisco Faus, 2a ed. - São Paulo - Editora Quadrante, 2003

 

 

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