Portal da Família
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EDUCAÇÃO DA COMPREENSÃO |
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"Reconhece os distintos fatores que influem nos sentimentos ou no comportamento de uma pessoa, e aprofunda no significado de cada fator e em sua inter-relação e adequa sua atuação à essa realidade". Vamos considerar o tema da compreensão dentro das relações pessoais. A descrição operativa não faz referência às conseqüências de haver chegado a compreender o outro. Mas está claro que se chegar a captar os distintos fatores que influem no estado de ânimo, ou no comportamento de outra pessoa, será mais fácil ajudá-la a melhorar em um sentido muito amplo. Inclusive, nada mais que sentir-se compreendendo pode ser uma ajuda importante em algum momento. Um motivo para desenvolver a virtude da compreensão será, então, o desejo de ajudar outras pessoas, de acordo com suas circunstâncias, considerando quais são os fatores mais decisivos em cada caso. Cabe perguntar-se se esta é uma virtude para os filhos pequenos ou se só compensa prestar atenção quando os filhos já são maiores. Para contestar, temos que considerar o que dissemos sobre o motivo para querer compreender. O desejo de querer ajudar de acordo com as necessidades alheias não costuma surgir até o descobrimento da intimidade, ainda que possa começar desde já, de um modo mais superficial. Refiro-me a situações em que os filhos pequenos se dão conta - chegam a ser conscientes - do estado de ânimo de outra pessoa ou reconhecem, por seu comportamento, de que necessitam de algo. Por exemplo, se uma criança nota que sua mãe está muito cansada pode ser que tente não fazer barulho ou ajudar em alguma tarefa em casa. Se nota que algum irmão está triste, pode presentear ou emprestar alguma coisa sua a este irmão, com o fim de que fique contente. Mas estas atuações costumam ser reações afetivas, resultado do carinho que tem aos demais. Tenta voltar a colocar as coisas em seu lugar: conseguir que sua mãe esteja descansada ou que seu irmão, esteja contente. Isto é, "compreende" que falta algo para que as relações estejam como devem estar. Não costuma lhe preocupar as causas da situação anômala. Não costuma esforçar-se para compreender profundamente. Nestas idades, parece razoável que a missão dos pais é: ajudar os filhos a reconhecerem as características de cada um dos membros da família; notar que há momentos oportunos e inoportunos para falar, pedir uma coisa, etc., dar-se conta dos distintos estados de ânimo dos demais e introduzir as perguntas: que haverá acontecido para que o outro atue assim?, o que ocorreu? ou, porque estará tão triste, alegre, etc.? Deste modo, o filho pequeno irá captando os distintos fatores que podem influir sobre uma pessoa, mas a compreensão, em um nível mais profundo, somente virá com o reconhecimento nele próprio de sentimentos similares aos manifestados pelos demais. E aqui podemos estabelecer uma pergunta importante:
é possível compreender o outro se o próprio jamais
teve experiência do que ele está passando? Se "compreender"
significa reconhecer os fatores que influem nos sentimentos ou no comportamento
de uma pessoa, a contestação será afirmativa, porque
basta a experiência própria e de haver encontrado outras
pessoas, na mesma ou em uma situação parecida no passado.
Pelo menos, pode-se chegar a compreender o suficiente para ajudar essa
pessoa a superar sua dificuldade ou para ajudá-la a melhorar. De
todas as formas, haveria que ter em conta o perigo que supõe transpassar
os próprios sentimentos e reações a outra pessoa,
simplesmente porque as suas circunstâncias parecem similares às
que viveu pessoalmente. A compreensão não é só
sentir com o outro. Isto é simpatia, mas também tentar ver
as coisas de seu ponto de vista, ou seja, a empatia. Este grau de compreensão
somente desenvolver-se-á se a pessoa capta a importância
da compreensão e de sua missão de ajudar os demais. Para compreender bem o que queremos dizer por empatia, temos que fazer referência aos estudos de alguns psicólogos. Em 1957, Rogers falou de empatia como "perceber o marco interior de referência do outro com exatidão, e com os componentes emocionais que lhe pertencem, como se alguém fosse essa pessoa, mas sem perder a condição de observador". Entretanto, outros psicólogos que lhe seguiram, começaram a confundir esse estado de empatia com o processo. Isto é, com a manifestação da empatia. Concretamente, Traux, em 1970, opinou que empatia é "...mais que a habilidade do orientador de ser sensível ao mundo privado do cliente como se fosse seu. Também supõe mais que saber o que o cliente quer dizer. Empatia exata supõe não só sensibilidade do orientador para os sentimentos atuais do outro, mas também sua capacidade de comunicar esta compreensão em uma linguagem apta para os sentimentos do cliente". Fazemos referência a estas posturas, não para adotar uma delas a respeito de como se deve entender a empatia, mas para destacar que na virtude da compreensão nos interessam as duas capacidades. Na formação de orientadores tem havido muita discussão sobre que aspectos deste processo devem ser considerados prioritários ou, inclusive, se há outros aspectos que devem ser cuidados: "a potencialidade da pessoa, a respeito da empatia, pode ser bloqueada ou impedida por problemas pessoais, por emoções que contrastam ou pela falta de capacidade de enfocar a situação adequadamente. É mais apropriado tentar afastar estas dificuldades para a empatia, que tentar adestrar a capacidade empática". Sem seguir com os pensamentos dos psicólogos,
parece evidente que os pais, pensando na educação de seus
filhos, devem preocupar-se em algum grau com cada um destes problemas.
Concretamente:
Condições e circunstâncias pessoais para ser compreensivo A observação da vida de cada
dia, em relação aos demais, pode nos mostrar muitas verdades.
Uma delas tem a ver com as condições que uma pessoa necessita
possuir para receber alguma informação. Se se tenta comunicar
uma informação quando a outra pessoa está preocupada
por uma questão pessoal, o mais provável é que não
escute ou que não assimile. Por exemplo, se um pai diz uma série
de instruções a seu filho quando o filho acaba de ver um
acidente e queria contá-lo a seus pais, é provável
que seu filho não o escute. O mesmo ocorre quando se trata de compreender
os demais. Isto é, se os filhos estão concentrados em seus
próprios problemas, é lógico que não se abram
suficientemente para preocupar-se com os demais. A lição
é fácil de entender, mas não tão fácil
de viver na prática. Neste sentido, veremos como o filho que aprendeu a confiar razoavelmente em suas próprias capacidades, na ajuda de seus pais e dos demais e, de um modo muito especial, em acreditar na ajuda de Deus, estará em boas condições para tentar compreender os demais. Por outro lado, tratar-se-á de ajudar os filhos a não terem preconceitos. Falamos deste tema em outro momento, mas aqui conviria refletir sobre alguns dos problemas típicos nos filhos, neste sentido. Compreender é um ato de recolher informação sem julgar a pessoa. Portanto, se se descarta o comportamento do outro desde o princípio, dificilmente vai poder prestar a atenção adequada aos fatores que influíram nessa situação. Por exemplo, um pai de família poderia aborrecer-se com seu filho, porque este o insultou. A única coisa que percebe é que o insultou e nem sequer pretende tentar compreendê-lo e saber o porque desta atuação. O filho realmente queria insultar e aborrecer seu pai? Ou com este insulto está expressando algum tormento interior que não quer ou não é capaz de manifestar? É a serenidade, a segurança em
si mesmo, a flexibilidade, o bom humor, que permite contar com uma atitude
para os demais.
Do livro "A educação das virtudes humanas e sua avaliação", de David Isaacs. |
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