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anencefalia e a esperança do médico Profa. Dra. Ieda T N Verreschi |
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Apesar desta confiável avaliação detecto algo mais que me perturba no momento e este aditivo de desconforto está sendo evocado pela discussão sobre a anencefalia. Pensei na anencefalia. Sendo endocrinologista, dedicada a carreira docente desde os anos 70, acompanhei a evolução do conhecimento médico desde os primeiros surtos de crescimento em função dos avanços da Bioquímica até o envolvente momento presente dominado pela nanotecnologia e em ebulição pelas descobertas do Genoma Humano. Estudiosa na área do Desenvolvimento Humano, conheci detalhes do funcionamento do eixo do estresse a partir das descrições de dados obtidos em biópsias praticadas em natimortos anencefálicos. [2,3] Aprendi também por eles que a presença e o funcionamento hipofisário eram fundamentais para o desenvolvimento gonadal e da diferenciação sexual a partir de determinado momento da vida intrauterina [4]. Dados recentes de um grupo multidisciplinar da UNIFESP [5] revelam um número impressionante de casos de anencefalia numa avaliação de causas de morte perinatais, representando quase 10% do total dos casos avaliados e 20% dos nascidos mortos. Nos EUA este número baixou consideravelmente após a implantação de medidas específicas de Saúde Pública [6] estimativas iniciais de 9000 casos por ano, para menos de 2.500 anuais, ressaltando-se um número significativo de "elective terminatios" (abortamento eletivo) no primeiro período e não havendo esta informação posterior a implantação da medida introdução do consumo de 400 microgramos de ácido fólico por dia por mulheres em idade reprodutiva. O enfoque da medida sanitária foi de a) melhoria dos hábitos alimentares b) adição de ácido fólico a alimentos 3) uso de suplementos alimentares contendo ácido fólico. De um modo geral, há, em decorrência da implantação de tais medidas, redução de 70% do número de casos de mal-formações do tubo neural e anencefalia. Medidas semelhantes já estão sendo implantadas em nosso meio, pelo Ministério da Saúde, que também já designou grupos conceituados de Pediatria e Genética Clínica para acompanhar, de forma planejada a repercussão desta medida ao longo dos próximos anos. Resta-nos o acompanhamento e a devida responsabilização pela adequada educação sanitária da população, antes de permitirmos a adoção de medidas sanitárias eugênicas. A medida do Conselho Federal de Medicina, que permitiu recentemente a doação de órgãos destes recém-nascidos a termo constitui-se em importante reforço às famílias para manutenção da gestação destes embriões gravemente fragilizados, oferecendo-lhes a opção pela dignidade. Esta reflexão, cheia de esperança,
revela a faceta humanística da Medicina, que aliada à Ciência
continuará a promover o bem estar social e a progredir na construção
do Homem, servindo de estímulo à contínua formação
dos médicos.
Profa Dra Ieda T N Verreschi
1 - BMJ, maio
de 2001 |
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