Portal da Família
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Depoimento de um guerreiro Wilson Roberto da Silva
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Em junho de 99 fui acometido por um desânimo. Trabalhava algumas horas e em seguida, deitava-me o que, com o passar do tempo, as horas produtivas reduziram drasticamente. A febre manifestou-se e passou a ser diária acompanhada de intensa sudorese noturna. Com isso, deixei de compartilhar a cama com minha esposa, passando a dormir num colchão ao lado. Eram seis trocas de camisetas e lençóis para controlar o suor abundante e mesmo assim, não fui ao médico. O emagrecimento ficou evidente e já não ficava mais sem camisa e evitava trocar-me diante dos meus filhos. Evitava minha imagem refletida no espelho e aprendi a fazer barba sem usá-lo. Trabalhava com oficina eletrônica mas evitava atendimento em domicílio. Evitava ao máximo sair à rua e cortava o cabelo em casa, com uma amiga cabeleireira. Eu tinha um gânglio, no lado esquerdo do abdome, facilmente palpável, tal qual uma banana nanica. Apesar do desânimo e das adversidades, jamais pensei em morrer por causa da doença. A esposa e filhos que tenho me davam a certeza de ter sido agraciado por Deus e total amparo por parte deles. Mesmo apresentando todos estes sintomas, não me automediquei, pois não tinha o hábito. Continuava trabalhando, porém em um ritmo muito lento, contrário ao meu normal, pois sempre fui muito dinâmico, ansioso, intolerante, apressado e chato. Uma prima médica veio visitar-me, sem saber que eu estava doente, mas ao ver me naquele estado, convidou-me para fazer uns exames. Despedi-me da esposa, os três filhos e a neta. Antes, sem que eles percebessem, tinha me despedido de minhas duas cachorras, da minha oficina, da minha churrasqueira, das minhas coisas, da minha casa. Senti, pela primeira vez, uma sensação esquisita ao sair de casa para ir até o hospital, sem saber se voltaria. Fui internado, pela primeira vez, num hospital a 60 Km de casa. Fiquei sozinho no quarto e sem acompanhante por uma semana até que os exames se concluíssem. Deitado em um leito de hospital, não são as picadas das injeções, as reações aos medicamentos e as dores da doença que machucam, o que fere é a mistura em nossa cabeça e alma, da saudade de nossa casa, de nossos entes queridos, dos nossos hábitos e das nossas coisinhas, de ter esperanças mesmo com um desânimo físico absurdo, de tentar sonhar e não conseguir, conviver com a morte, ignorando-a, ter vontade de chorar e não ter lágrimas, e pensar que as pessoas que o amam estão sofrendo. Não faço parte de nenhuma religião mas acredito em Deus. Pensava comigo mesmo: \"Deus nunca me abandonou, e não é no momento mais difícil de minha vida, que Ele vai me abandonar.\" No último dia de internação, fui encaminhado para biópsia do gânglio na virilha esquerda e tive alta no dia seguinte. Após uma semana, o resultado da biópsia: LINFOMA. A minha última pergunta: \"Como se trata este tipo de doença?\" Foi a frase mais horrível que ouvi: \"Trata-se com quimioterapia.\" Nesse momento agradeci ao meu desânimo físico absurdo pois poupou-me de chorar, não tinha forças nem para isso, mas fiquei muito triste e adiei os meus sonhos e projetos. Nesse período, já não trabalhava mais em minha oficina eletrônica, fazia pequenos reparos e apesar da esposa e filha trabalharem, a maior renda ainda era proveniente do meu trabalho. Começamos a depender da ajuda financeira de alguns cunhados e cestas básicas de amigos mais próximos. Tentei esconder a doença, mas não tinha como esconder algo tão devastador. Temia os comentários pejorativos, inoportunos e desumanos de pessoas insensíveis. Nesse difícil momento em minha vida, muitos amigos simplesmente sumiram, escafederam-se, outros ficaram totalmente inertes, alheios à situação, mas surgiram outros, pessoas que me surpreenderam com suas atitudes humanitárias. Os amiguinhos dos meus filhos tornaram-se meus amigos também, aliados numa batalha comum. Fui encaminhado ao Hemocentro da UNICAMP, e dei os primeiros passos numa estrada que a cada dia se estreitaria mais, onde sempre visualizei a felicidade no horizonte, distante mas não inatingível. Após exames mais complexos, mielograma e coleta do material, veio o diagnóstico mais específico: Linfoma não Hodgkin agressivo. Iniciei o tratamento, fazendo duas transfusões de sangue. Ao voltar para casa, presenciei a primeira alegria em meio a uma doença tão devastadora: não tive sudorese noturna ! Na consulta seguinte, receitaram-me umas 6 medicações, algumas caríssimas, dentre elas FLUCONAZOL e CIPROFLOXACIN. Receitaram-me um remédio que milagrosamente eliminou minha febre, aquela que me acompanhou durante meses, 20 horas por dia, estava aniquilada. Fui para minha primeira quimioterapia temendo as famosas reações. Após tomá-la, já em minha casa, a ansiedade se fazia presente em todos nós. A reação veio em horas. Fui levado às pressas para a UNICAMP e dei entrada com o quadro de alucinação e confusão mental. Acordei em um leito da Hematologia, após quatro dias de total inconsciência. Devido à quimioterapia, os gânglios presentes no abdome reagiram bem, ou seja, \"dissolveram-se\" quase todos, e toda aquela massa líquida fluiu para os rins que ficou impossibilitado de expelir toda aquela carga tóxica. Quase tive parada total dos rins. Nesse período, recebi a proposta de fazer o transplante de medula óssea na própria UNICAMP. Já estava no protocolo de transplante então faria mais cinco quimioterapias, uma por semana. Depois faria mais duas quimio internado, uma delas para coleta de células (Aféreses) que seriam guardadas para o meu transplante futuro, autólogo, ou seja , não precisaria de doador, usariam o meu próprio sangue. Nas últimas idas ao Hemocentro, minhas pernas estavam muito fracas, e na maioria das vezes era conduzido de cadeira de rodas pelas mãos da minha esposa. Eu não lia jornais, estava totalmente desatualizado, não procurava conhecer minha doença através de livros ou Internet, o meu mundo era outro, o da minha cura. Fiquei aguardando a convocação para o transplante. Eu estava muito bem, já não estava tão pálido, tinha parado com os medicamentos. Meus cabelos já estavam normais. Fui convocado em Agosto/2000 para fazer o transplante. Despedi-me da minha esposa e dos meus filhos com o coração apertado. Não dá para descrever o que sentimos, quando saímos de nossa casa, sem saber se voltaremos. Olhei o portão de casa até perdê-lo de vista. Fiquei confinado em um quarto, com direito de ir apenas até o banheiro, nem no corredor eu podia ir, visitas rápidas, limitadas e restritas. Quando saia do quarto para fazer algum exame, era montado todo um aparato especial e durante a madrugada. Não usava nada que viesse de fora, nem alimentos, roupas, toalhas, nada. Durante as visitas esforçava-me para transparecer algo positivo para minha família, mas me sentia aliviado quando acabava o horário de visitas. Eu não tinha condições físicas nem psicológicas para isso. No dia seguinte, já tomaria a primeira quimioterapia do transplante que, no total, eram seis, de duas horas cada, duas vezes ao dia. Tomei-as sem intercorrências. Chegou a tão esperada hora, já estava ali há 11 dias, faria o transplante de medula óssea, antes, porém, avisei minha família , através do celular. Uma enfermeira conectou-me uma bolsa de sangue no cateter, que era o meu próprio sangue colhido na Aféreses, conforme já mencionado. Terminadas as seis bolsas de sangue, liguei novamente para minha família e contei a novidade. Depois dormi como uma pedra, pois na noite anterior a ansiedade havia roubado meu o sono. Isso foi no dia 11 de agosto de 2000, o meu dia 0 (zero), a partir daí eu estava renascendo. Nasci novamente. Sabia que, tão logo a \"medula pegasse\" eu teria alta. No 23º. dia, deram-me a notícia que teria alta naquele mesmo dia. Imediatamente, liguei para casa e chorando, comuniquei minha filha. Não acreditava, nesses 23 dias não tive mucosite, diarréia, hemorróidas, problemas respiratórios, nada, nenhuma intercorrência. Depois de muito tempo, voltei a sorrir. Em 19 de novembro de 2000, completei os 100 dias de resguardo. Depois do centésimo dia, vida normal, sem medicamentos ou cuidados especiais, apenas fazendo exames periódicos, pois o linfoma pode voltar em até dez anos. Hoje vivo feliz com minha família. Escrevi um livro de apoio aos pacientes com c... onde narro toda a minha trajetória, desde os primeiros sintomas até o pós-transplante de medula óssea, com muitas dicas aos pacientes e familiares. Trato o assunto seriamente, mas faço inserções de situações engraçadas que ocorreram comigo durante todo esses dezoito meses de enfermidade. Se eu lesse um livro desse porte no período que estive doente, teria me poupado de muitas angústias e incertezas. Esse meu livro pode ser baixado (download) gratuitamente
na minha home page: Após essa experiência, fiquei mais
disciplinado nos horários (trabalho, alimentação
e repouso). Minha família está mais compactada. Estou fazendo
um trabalho muito gratificante, apoiando pacientes com c... e seus familiares,
via Internet. Mas no fundo, eu continuo o mesmo, trabalhando, amando e
sonhando intensamente.
Tive Linfoma não Hodgkin! Fiz tratamento
quimioterápico e transplante de medula óssea. Levo vida
normal. No livro "Impacto", narro minha trajetória de
um ano e meio, desde os primeiros sintomas (sudorese noturna, emagrecimento
e febre) até o pós-transplante. Trato o assunto com seriedade,
mas faço uso de situações engraçadas que ocorreram
comigo durante todo o tratamento. Afinal "Rir é o melhor remédio!". |
IMPACTO - LIVRO DE APOIO A PACIENTES COM CÂNCER |
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