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             Só samba e carnaval? Não 
              só isso. Além do esforço para participarem 
              do que chamamos de "o maior espetáculo da terra", 
              as escolas de samba são palco para inúmeros exemplos 
              de ações sociais. E foi justamente isso o que encontrou 
              o jornalista Maurício Coutinho, que há vários 
              anos conhece o universo das escolas de samba de São Paulo. 
            Maurício Coutinho é jornalista 
              e um dos responsáveis pelo site Escolas de Samba (www.escolasdesamba.com.br), 
              já comandou um programa na rádio Jovem Pan sobre carnaval 
              e participa da cobertura do carnaval de São Paulo. Também 
              presta serviços de assessoria de imprensa a diversas empresas 
              e até de algumas escolas de Samba por época do evento 
              de carnaval. Ele concedeu uma entrevista exclusiva ao Portal da 
              Família sobre o tema do carnaval. 
             
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       Portal - Em geral as pessoas só lembram da existência 
        das escolas de samba na época do carnaval, mas elas funcionam durante 
        o ano todo. Na sua percepção, como elas estão inseridas 
        dentro de suas comunidades? Que trabalhos são realizados nas escolas 
        de samba durante o restante do ano? 
      Maurício Coutinho - Cada 
        Escola vai registrar a carência do se bairro com programas sociais 
        como: 
        Alfabetização de adultos; atividades de esporte, lazer e 
        cultura para crianças carentes (creches); exames médicos 
        para mulheres (papanicolau); prevenção para AIDS; oficina 
        de trabalhos manuais; assistência social (emprego). 
         
        No resto do ano são organizadas festas de cada ala para levantar 
        fundos para a compras e manutenção da escola, bem como pagamento 
        de aluguel, luz, telefone, e para adiantar os preparativos de carnaval. 
      Portal - Muitas pessoas, quando pensam em carnaval, associam a 
        idéia de muita folia, bagunça, cerveja, mulheres com poucos 
        trajes, um clima de permissivismo, erotismo e irresponsabilidade. As propagandas 
        e campanhas sobre o carnaval promovidas pelo governo, e pela mídia 
        em geral, também contribuem para essa idéia. Mas qual é 
        o ambiente que o senhor encontrou dentro das comunidades das escolas de 
        samba? Em geral, quem freqüenta as escolas? 
         
        Maurício Coutinho - Muita 
        folia, traduza como alegria. Ao invés de bagunça, diga agitação 
        e entusiasmo. Cerveja, bebe quem quer, mas, dentro da escola, nos ensaios, 
        não é freqüente, pois todos encaram como um trabalho, 
        uma paixão. Mulheres com poucos trajes são as passistas 
        que exibem com muita graça e orgulho seus corpos bem feitos O que 
        um jeito malicioso de olhar faz passar como permissivismo e erotismo pode 
        ser ou não dessa maneira, mas acredito mais no fazer bonito para 
        ganhar o carnaval e orgulhar a Escola e a comunidade numa explosão 
        de alegria. Responsabilidade é total, pois atrás de tudo 
        que se vê existem horas, dias, meses de ensaios e muitas pessoas 
        dando o sangue para que tudo pareça e seja bastante perfeito.  
         
        Não se pode misturar as escolas de samba com os comerciais, são 
        duas coisas diferentes. As campanhas são criadas por agências 
        de propaganda que buscam retratar o clima de carnaval. Digamos: vida real 
        = escola de samba, propaganda = ficção, ilusão, teatro, 
        montagem. O ambiente das escolas é de festa, amizade, companheirismo, 
        rigidez, organização, muito trabalho e suor e a tentativa 
        de superar-se a cada ano. Isso além de algumas verem nas outras 
        escolas não rivais, e sim como co-irmãs, tratando-se com 
        cordialidade.  
         
        E quem freqüenta as Escolas? pessoas comuns como a gente, que vão 
        e começam a participar de algo com que se identificam, desde cuidar 
        de carentes, advogando para cuidar de casos gratuitamente, médicos 
        e todos os empresários que oferecem patrocínio, trabalho 
        voluntário e até ajuda na própria escola, na cantina 
        e/ou bar - no caixa, na portaria. 
         
         
        Portal - Esses trabalhos eram todos voluntários, ou alguns 
        são iniciativas do governo? Alguns recebem alguma ajuda financeira 
        do governo ou de empresas? 
         
        Maurício Coutinho - As escolas 
        recebem no final do ano uma ajuda financeira do município, com 
        a qual iniciam a compra da parte mais pesada do material para fazer os 
        carros alegóricos, fantasias de alas, etc... algumas contam com 
        empresas particulares(iniciativa privada) que elas próprias vão 
        buscar. 
       
        Portal - Como outras pessoas poderiam participar desses trabalhos? 
         
        Maurício Coutinho - Se dirigindo 
        a qualquer das escolas de samba e se oferecendo. 
         
         
        Portal - O senhor acha que o governo, por exemplo as prefeituras, 
        poderiam aproveitar melhor esse espaço para incentivar mais trabalhos 
        junto às populações carentes, ou mesmo como um ambiente 
        de lazer para essas famílias? 
         
        Maurício Coutinho - Este 
        já é um trabalho que foi imposto pela prefeitura, em troca 
        da verba do final de ano. 
         
         
        Portal - Por uns tempos o senhor apresentou na rádio Jovem 
        Pan, de São Paulo, um programa diferenciado sobre o carnaval. Qual 
        era a sua proposta nesse programa? 
         
        Maurício Coutinho - Divulgar 
        este segmento tão carente de informação e intercâmbio 
        com pessoas leigas que têm uma visão errada e distorcida 
        do carnaval e mostrar pessoas e histórias de nossa cultura nesta 
        festa folclórica. E dar destaque a personalidades nunca lembradas 
        e conhecidas com tanta beleza a contar e deixar como exemplo. 
         
         
        Portal - Como o senhor começou a ter contato com a temática 
        do carnaval? 
         
        Maurício Coutinho - Por ser jornalista, publicitário 
        e produtor de eventos culturais, meu convívio com celebridades 
        e famosos propiciou a cobertura jornalística do carnaval pela Liga 
        das Escolas de Samba de São Paulo. Antes, já em eventos, 
        sempre algo de carnaval era colocado. Devido a amizades antigas fui me 
        afinando neste meio em que sou tão respeitado e conhecido, além 
        de querido, pois sempre estou ajudado e fazendo algo por alguma escola 
        e/ou pessoa. Diria até que o bichinho do carnaval me mordeu. 
         
         
        Portal - Por fim, que conselhos o senhor daria para as pessoas 
        que pretendem se divertir no carnaval? 
         
        Maurício Coutinho - Se divertir 
        no carnaval é uma questão de paixão. Existem pessoas 
        que gostam e outras que não, e devemos respeitar isso. Mas, para 
        saber o que se sobressai em cada uma, você precisa ir até 
        uma escola de samba e participar como que de uma roda de amigos, ir mais 
        de uma vez, em duas ou três escolas diferentes, para saber em qual 
        você se afina melhor. Pode não ser paixão à 
        primeira vista, mas valerá a pena se você acrescentar à 
        sua vida a alegria da música, aumentar as suas amizades e quem 
        sabe aumentar no Sambódromo o brilho do nosso carnaval. 
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