Portal da Família
|
||||||||||||||||||||||||||||
|
|
|
|
Mulheres em desespero Inês Rodrigues
|
||
Mas isso é apenas pano de fundo: dentro das casas da ruazinha vão se desenrolando os dramas dessas donas de casa: há a ricaça entediada que tem um amante mais jovem, a divorciada que não conseguiu superar a separação e que acaba fisgando o novo vizinho bonitão, a ex-executiva que largou tudo para ser mãe e agora vive enlouquecida com quatro meninos endiabrados e um marido que quer tentar o quinto bebê. E há aquela toda perfeita e certinha, cuja vida conjugal não passa de aparências. Até aí nada de tão genial. Mas, por que então tanto sucesso? A questão é que todas as quarentonas, mães, as que se mudaram das cidades grandes para os subúrbios silenciosos finalmente encontraram uma voz, um programa de TV que fala de mulheres vivendo em outro mundo, diferente daquele de Sex and the City (exibido no Brasil na TV a cabo e no Canal 21). O seriado se desenrola em meio ao dia-a-dia aparentemente nada glorioso dos problemas com as babás, a aventura de fazer supermercado com três crianças a tiracolo, as brigas com o marido que não quer ajudar na casa. Bem distante das aventuras e conquistas das quatro solteiras no coração de Nova York, frequentando lojas caras e restaurantes sofisticados. Mas, para a classe média daqui, ser mãe não significa só abrir mão das grandes noitadas e rega-bofes da Big Apple. Há escolhas mais complicadas. Diferentemente das grandes cidades brasileiras, onde ter uma empregada ou babá é parte inquestionável da rotina dessas mulheres, aqui esses serviços são um luxo. Para contratar uma babá por tempo integral em Manhattan, a mãe trabalhadora tem que desembolsar no mínimo 2 mil dólares por mês. Ao câmbio atual, coisa de 5 a 6 mil reais. Uma empregada que passe o dia esfregando seu chão, cozinhando e lavando suas roupas também não vai custar muito menos. Uma boa creche, idem. Mesmo para a classe média daqui, que tem bases salariais bem mais altas do que as brasileiras, isso não é pouco dinheiro. Então, faça as contas e veja o quanto a mulher tem que ganhar para que os gastos compensem. E, se dinheiro não for problema, há a eterna culpa da falta de tempo para os filhos e a confusão emocional que isso provoca. Aqui, portanto, falar em independência e conquistas tem seu preço. 95% das mulheres que conheço entre 30 e 40 anos, pensaram muito e fizeram escolhas na hora de assumir a maternidade. Boa parte (eu incluída) teve que entregar aos maridos a tarefa de sustentar a casa sozinhos por um tempo e dedicar-se somente às crianças. E, claro, nem sempre esse conforto financeiro é possível. É certo que a convivência com os filhos compensa. Mas não é fácil, por outro lado, botar na geladeira anos de uma carreira construída com suor. Ao menos há o consolo de ver os filhos crescerem e fazer realmente parte dessa aventura. O próprio criador de Desperate Housewives, Marc Cherry, recebeu há poucas semanas um prêmio Emmy de melhor comédia na TV pelo seriado. E, no discurso de agradecimento, confessou que se inspirou na própria mãe para criar o programa. Se Cherry fosse mulher, será que ele estaria no palco agradecendo a estatueta? Ou em casa, com avental respingado de molho de tomate, arrancando os cabelos em desespero? Inês Rodrigues
Inês Rodrigues é jornalista, tradutora e mãe de dois filhos. Atuou nas editorias de artes e música em diversos veículos da imprensa brasileira como Jornal da Tarde, Editora Globo, Rádio Gazeta e Fundação Padre Anchieta. Há 6 anos fora do Brasil, já viveu na Itália e Inglaterra, e atualmente mora em Nova York. e-mail: ines_rodrigues@hotmail.com |
|
Divulgue este artigo para outras famílias e amigos.
Inscreva-se no nosso Boletim Eletrônico e seja informado por email sobre as novidades do Portal
www.portaldafamilia.org