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Vestuário, elemento de integração Ana Sánchez de la Nieta |
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Em grande medida, vestimo-nos para os outros. Se não existisse a sociedade o vestuário existiria, porque a necessidade de se proteger do clima e de respeitar o próprio corpo manter-se-iam, mas não haveria moda. Já Kant nota na sua Crítica da Razão que só em sociedade interessa ter gosto e que, se alguém se visse limitado a uma ilha deserta por um naufrágio, só se vestiria para evitar o frio e o calor. A razão é que não nos vestimos só para nós mesmos mas fundamentalmente para os outros. Por isso, o estilista Ted Lapidus situava a elegância em "saber-se olhar com os olhos dos outros". Este vestir para os outros tem, por outro lado, uma dupla vertente: utiliza-se a moda como meio de integração e de embelezamento. Efetivamente, a aparência é um elemento de integração na sociedade. Não é em vão, na hora de catalogar, por exemplo, o que chamamos tribos urbanas, que um dos elementos em que nos fixamos é a forma como se vestem. É a roupa que nos faz diferenciar à primeira vista um skinhead de um punk ou um pijo de um hippie. Quando um jovem quer integrar-se num destes grupos, antes mesmo de aceitar as suas idéias, imita a indumentária da referida comunidade. Esta tendência de "vestir como" não é exclusiva das tribos urbanas; em toda a sociedade atual há uma certa tendência para a uniformização, a ir com os outros para integrar-se, e para não se afastar do grupo social que escolhemos com vestimentas demasiado extravagantes. Por isso, as chamadas "tendências da moda" costumam ser seguidas, ainda que seja a olhar de esguelha, pela maioria dos mortais. Poucos são os que querem colocar-se à margem pela sua forma de vestir. Quase todos, perante um acontecimento social, temos perguntado mais de uma vez, como se tem de apresentar, evitando com esta pergunta parecer ridículo com um vestuário não apropriado. Na atualidade, em alguns atos, a organização adianta-se à pergunta de rigor e nos próprios convites é indicado o traje adequado: fato de passeio, fraque, smoking... Além de integrar-nos, a moda serve para ser vistos e normalmente para ser vistos de uma forma agradável, para causar agrado. A vaidade, o querer agradar, é um elemento importante na configuração da moda. A pessoa quando procura um determinado vestuário fá-lo para se adornar, para se embelezar. Por isso escolhe aquele vestido que potencie os aspectos positivos do seu físico e dissimule os defeitos. Neste sentido, a função do vestuário, a maquiagem e os complementos são muito importantes. Uma pessoa que não seja muito dotada, pode dissimular os seus defeitos com uma maquiagem estudada; uma mulher baixa pode esconder a sua falta de estatura com uns tacões; a cor preta pode disfarçar os quilos a mais, enquanto que o branco pode ocultar um excesso de magreza. Neste sentido, podemos dizer que quando a macaca se veste de seda, fica um pouco menos feia. É certo que se pode objetar que, face a esta tendência normal de procurar a beleza usando a roupa, existe também urna moda extravagante que muitas vezes não favorece e que até prejudica os talentos naturais do indivíduo. Não há que enganar-se, também nestes casos a pessoa quer ser vista, talvez mesmo de uma forma desesperada procure chamar a atenção, o olhar dos outros.
Ana
Sánchez de la Nieta Hernández. Jornalista,
colabora em diversos meios de comunicação sobre temas de
juventude, universidade, moda e cinema. |
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