Um dia chegou à casa chorando.
- Que aconteceu?, perguntou a filha. E, então, Dona Neusa lhe contou.

Mãe de dez filhos, "três matados de morte matada" lá na comunidade. Mais de 70 anos vigorosos. Dona Neusa é uma senhora que aderiu desde o começo à alfabetização de adultos. Ao contrário de uma amiga que respondeu que não valia à pena aprender, porque já estava demasiada velha para isso, Dona Neusa aderiu: "Quero entrar lá no céu com o meu diploma".

Mas a sua história veio à luz numa aula dada pelo Lucas às senhoras sobre a constância. Ela corroborou a importância dessa virtude e contou o que aconteceu com ela ainda antes de ser alfabetizada. Mal sabia ler e escrever nessa época.

Em determinada altura, cogitou que já era hora de ter a sua carteira de identidade e mais documentos em ordem. Saiu muito cedo de casa e foi à repartição. Lá pelo meio-dia chegou ao guichê. A funcionária perguntou:

- Sabe ler?
E ela respondeu: - Não sei não.
- Então tem de ir para a outra fila, foi a indicação que recebeu.

Assim fez. Ao fim do expediente, chegou a sua vez de ser atendida:
- Trouxe dinheiro para isso?
- Não trouxe, não senhor.
- Então tem de voltar outro dia.

Ficou arrasada. Chegou à casa bem tarde da noite. E aí é que chorando contou à filha a história do que lhe aconteceu. Mas logo acrescentou:
- Filha, escreve aí num papel os dados que eu tenho de usar.

A filha assim fez. E Dona Neusa passou a noite inteira a copiar esses dados. No fim escreveu-os na palma da mão: a sua cola. Logo em seguida, saiu de casa e
voltou à repartição. Ao chegar a sua vez, ela pergunta à funcionária:
- Mas a senhora não esteve aqui ontem? Já sabe escrever?

Ela: - Ontem não sabia, mas hoje já sei!
- Então vá para ali, onde eu a veja e escreva.

E ela lá foi. Olhou bem para a palma da mão para ver que não estava apagada a cola. Tinha tido muito cuidado para que o suor não borrasse os dados. E laboriosamente copiou tudo direitinho. No fim entregou os formulários preenchidos e recebeu seus devidos documentos. Voltou vitoriosa para casa.

Quando acabou de contar como tinha vivido a constância em circunstâncias tão difíceis como as que vivenciou, todos os presentes ficaram emocionados e compreenderam pelo exemplo o que pode ser a virtude da constância na vida prática das pessoas.

Atualmente estamos procurando que as autoridades competentes levem o Poupatempo à comunidade para que os que tenham a mesma dificuldade que a Dona Neusa possam ter os seus documentos em ordem.

Pe. José Lado Teixeira

FUTURONG - BOLETIM INFORMATIVO - N° 1 - DEZEMBRO 2004

0 QUE É FUTURONG

Nossa missão é promover a assistência cultural e combater a pobreza, das minorias e excluídos, sendo realizada por meio de uma infra estrutura de serviços centrados no eixo indivíduo - família - comunidade, proporcionando melhorias na qualidade de vida, possibilitando a inclusão social, resgatando a cidadania pelo desenvolvimento educacional e profissional.

Estamos situados no interior da comunidade do jardim Monte Alegre, Parelheiros, zona sul de São Paulo, onde os colaboradores da Futurong podem entender e viver a realidade local e contribuir de forma efetiva no dia-a-dia das pessoas.

As crianças, adolescentes e suas respectivas famílias se beneficiam das oficinas de artes, música, alfabetização, cultivo de virtudes, esporte e oficinas profissionalizantes.