Portal da Família
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A criança “indesejada” |
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por William Norman Grigg * |
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De acordo com um axioma jurídico, casos difíceis produzem leis ruins. Proponentes do aborto há muito tempo capitalizam sua propaganda utilizando-se de casos difíceis, como gravidez resultante de estupro ou incesto. Filtrando o assunto do aborto pelas lentes distorcidas dessas situações, apoiadores do aborto sob demanda exploraram a simpatia de pessoas decentes para avançar a noção de que o direito à vida da criança é contingente às circunstâncias de sua concepção. Entretanto, como observa o Dr. Charles Rice da Escola de Direito da Universidade Notre Dame, permitir aborto nesses “casos difíceis” é dizer que “a questão de quais bebês serão mortos é negociável”. Julie Makimaa está viva hoje porque sua mãe, que engravidou de Julie como resultado de um estupro, entendeu que sua criança era uma bênção não negociável. “Não importa como eu nasci”, explica Julie, que vive com seu marido Bob e duas crianças adolescentes em Michigan. “O que importa é quem eu me tornarei”. Julie é a fundadora da Fortress International, que trabalha em benefício de mulheres que engravidaram devido à violência sexual e de crianças assim concebidas. Ela ofereceu testemunhas ao Congresso Americano, bem como às legislaturas estaduais em Louisiana, Carolina do Sul, Missouri e Tennessee. Líderes pró-vida da Irlanda buscaram ajuda de Julie durante o debate nacional sobre legalização do aborto. Julie conversou com grupos de pré-escolares, de jovens, nas igrejas e apareceu em inúmeros programas de rádio e TV. Julie é uma voz eloqüente oferecendo uma mensagem de esperança em um contexto trágico de violência sexual. “Uma das coisas verdadeiramente perversas que o movimento pró-aborto fez é convencer muitas pessoas de que a criança concebida devido a estupro jamais poderá ter uma vida que valha a pena”, disse Julie ao The New American. “O movimento pró-aborto constantemente descreve crianças nascidas de estupro e incesto como defeituosas de algum modo, moralmente corrompidas, indesejadas, quase como se carregássemos em nós algum gene predispondo-nos a comportamento anti-social. Enquanto cristãos certamente entendem a realidade da natureza pecadora do homem, devemos também entender, como minha mãe fez, que cada criança é um milagre de Deus, e que isso é verdade também sobre crianças concebidas por estupro e incesto”. Julie colaborou com Dave Reardon, autor do estudo Aborted Women: Silent No More, um livro examinando “casos difíceis” de estupro e incesto. De experiências de 264 mulheres e crianças, o novo estudo documenta que “o aborto não faz absolutamente nada para ajudar mulheres e garotas que foram estupradas ou sofreram violência sexual por incesto”, ela explica. “É mais um ato violento que compõe o problema. A despeito do fato de que matar a criança pode oferecer uma solução de curto prazo, ela traz danos muito sérios de longo prazo à garota, como milhões de mulheres estão agora aprendendo tragicamente”. Esse dano é particularmente marcante em vítimas adolescentes de estupro e incesto que estão iludidas ao abortar suas crianças. “Conselheiros do Planned Parenthood (uma organização abortista) se sobressaem na pregação sobre os medos das jovens que consideram a opção de abortar”, explica Julie. “Uma das abordagens preferidas usada pelos conselheiros do Planned Parenthood é dizer às jovens garotas “oh, não há ninguém que possa amar seu filho do mesmo modo que você” e assim insistem que “de qualquer modo, matar a criança é a alternativa mais compassiva possível” do que dar ao bebê a chance de ser adotado. Outra tática favorita, explica Julie, é insistir que “não podemos forçar essas jovens garotas a ter bebês”. Mas as pessoas que recitam essa linha se recusam a aceitar o fato de que ter adolescentes matando seus bebês é muito mais traumático. O que encontramos em nossos estudos foi que, quanto mais jovem é a garota, mais próxima ela se torna de sua criança. Quando elas são pressionadas a abortarem, seu senso de vulnerabilidade se junta ao trauma e o de desamparo aumenta por sua incapacidade de proteger o filho”. Sonhos arruinados A mãe de nascimento de Julie, Lee Ezell, foi uma adolescente que engravidou como resultado de estupro. Filha de um pai alcoólatra e truculento, Lee fugiu da Filadélfia para Califórnia em 1962. Como uma cristã devota, ansiava por se apaixonar, constituir família e viver uma “vida de Doris Day” com o homem para o qual ela se guardava. Mas as esperanças de Lee receberam um revés brutal quando um colega de trabalho, agindo com malícia premeditada, maquinou uma situação na qual ele pode submetê-la fisicamente. O vil ataque deixou a adolescente ferida, confusa e grávida. Ajuntou-se a esses problemas o fato de que sua mãe alcoólatra, a qual também tinha ido para a Califórnia, reagiu à notícia de Lee expulsando-a de casa, dizendo-lhe para “dar um jeito nisso” e “voltar quando tiver terminado”. Sem residência, sem emprego, com apenas alguns dólares, Lee foi “uma criança indesejada grávida de uma criança indesejada”, relembra em seu livro The Missing Piece. Embora a decisão do caso Roe v. Wade [1] estivesse anos à frente, alguns amigos estavam cientes de mulheres que tinham resolvido seus “problemas” por meio de aborto ilegal. Isso foi provavelmente o que sua mãe tinha aludido quando lhe disse para “dar um jeito nisso”. Um de seus amigos sugeriu que ela fosse a um abortista no México para “dar um fim nessa coisa que eu não merecia”. Mas Lee sabia que isso seria um erro. “O aborto parecia uma solução permanente a um problema temporário”, escreveu Lee. “Eu tinha conhecimento o bastante para saber que um dos Mandamentos de Deus era ‘Não Matarás’.” “Se eu estava realmente decidida em deixar Deus guiar minha vida, então essa não seria uma opção”. Pela intervenção de sua irmã mais velha, Lee foi capaz de arrumar novo abrigo com um parente. Imergindo em preces e em estudo da Bíblia, ela foi capaz de receber a força e consolo necessários para enfrentar o que parecia uma mudança insuperável em sua vida. Com ajuda de Deus, Lee foi capaz de perdoar aqueles que a ofenderam, incluindo seus pais e seu estuprador. Com o auxílio de uma congregação de apoio em Los Angeles, ela adentrou mais profundamente na comunidade cristã. “Dada minha falta de maturidade espiritual, eu não sei qual escolha eu teria feito se o acesso ao aborto fosse tão fácil como é hoje”, reflete Lee. “Sim, teria sido um ato ilegítimo e ilegal. Mas a vida dentro de mim estava agora nas mãos de Deus, e não existe nascimento ilegítimo quando Deus cria uma vida”. Embora homens possam cometer estupro e outros crimes hediondos, Lee observa, “é Deus quem decide quando gerar a vida”. Lee descobriu depois, que Ethel Waters, uma cantora negra de gospel que participava da cruzada de Billy Graham onde Lee prometeu sua vida a Cristo, “foi o resultado de um estupro sofrido por sua mãe de doze anos de idade, na ponta de uma faca, em um terreno de estacionamento... Sua mãe não se ofereceu para ajudar, assim como eu não me ofereci no caso de Julie. Ambas Ethel e Julie foram idéias de Deus e Ele é o Único que nos dá valor”.
Novos começos Lee foi anestesiada quando deu a luz à Julie, e nunca pode segurar ou mesmo ver sua filha. “Após o nascimento, eu assinei os papéis e me disseram somente ‘você teve uma garota saudável’”, relembra. “Eu nunca pude vê-la... Eu sabia que os registros de adoção eram selados, e eu nunca soube se a agência de adoção designou-a a um casal cristão, como eu havia requisitado”. Com a ajuda de seu grupo de Cristãs Solteiras, Lee graduou-se na escola bíblica. Ela se tornou ativa na organização de conferências sobre a Bíblia e começou a escrever e dar palestras sobre mudanças relativas a mulheres cristãs. Em 1973, Lee encontrou Harold Ezell, cuja vida também tinha sido tocada pela tragédia: sua primeira esposa morrera de câncer, e a segunda de uma rara doença do sangue. Lee e Harold se casaram seis meses depois. Embora eles não tivessem tido filhos juntos, Lee desenvolveu uma relação de amor com as filhas de Harold, Pam e Sandi, e foi abençoada com um exemplo do que ela chama “Ironia de Deus”: “Eu sentei na mesma sala de adoção onde os pais de Julie a tinham adotado e adotei as filhas de Harold, Pam e Sandi, como minhas próprias filhas! Eu tinha dado uma preciosa criança para adoção e Deus deu-me duas crianças. Eu sabia que se Deus pode fazer isso por mim, certamente ele poderia fazê-lo para a criança que eu tinha abandonado”. Julie tinha encontrado seu caminho no lar de um apaixonado casal cristão, Harold e Eileen Anderson, e soube aos sete anos que ela fora adotada. Embora a notícia a tenha perturbado, sua mãe adotiva explicou que “foi por amor que minha mãe de nascimento tinha me possibilitado ter um lar e pais, algo de que ela não poderia me prover”. “Eu freqüentemente me perguntava quem seria minha mãe e se eu me pareceria com ela”, Julie conta. “E eu nunca perdi a esperança de que ela também fosse cristã”. Em 1984, como uma nova mãe, Julie contatou o Adoptees’ Liberty Movement Association (ALMA), uma organização voluntária que auxilia as crianças adotadas a encontrarem suas mães de nascimento. A ALMA pôs Julie em contato com a família cristã que tinha provido um lar para sua mãe enquanto grávida. Em 2 de dezembro daquele ano, Lee chamou Julie, a criança que ela tinha abandonado duas décadas antes. “Como eu pensei que essa seria nossa única conversa, fui cuidadosa em não perguntar muito ou fazê-la desconfortável”, relata Julie. “Eu disse-lhe que tinha duas motivações em tentar encontrá-la: fazê-la saber que ela era avó e dizê-la o que Cristo fizera em minha vida”. Nesta época, Lee tinha se tornado uma autora cristã de sucesso, apresentadora de rádio, e palestrante motivacional altamente requisitada, e seu marido, Harold era Comissário Ocidental do Serviço de Imigração e Naturalização. Quando Julie e sua família foram para Washington, D.C. para encontrar sua mãe de nascimento, seu marido Bob disse a Lee em particular, “Gostaria de agradecê-la por não ter abortado a Julie. Esta teria sido a coisa mais conveniente a ser feita. Eu não poderia imaginar viver minha vida sem ela ou sem minha filha...”. Lee escreve: “Eu fui muito agraciada por não existir clínica de aborto gratuita disponível para me tentar naqueles anos muito atrás”.
Derrotando a cultura da morte Todo dia das mães, Julie observa, ela agradece “ambas minhas mães, uma que me deu a dádiva sem preço da vida, e a outra que me deu o insubstituível presente de anos de amor e educação”. Pela Fortress International, ela aprendeu que “aqueles que abandonaram uma criança para adoção dizem que a despeito da dor emocional, sabem que estão dando à criança a melhor esperança de uma boa vida. Mas aqueles que abortam crianças hoje suplicam às mulheres grávidas que não acreditem nas mentiras de que o ‘feto realmente não é uma criança, ou que o aborto e seus efeitos colaterais são indolores’”. A cultura abortista “é inteiramente construída sobre mentiras e engodos”, Julie enfatiza à The New American. “Essas mentiras destruíram aproximadamente 40 milhões de crianças nascituras e têm desfigurado as vidas de outras dezenas de milhões. Aproximadamente três décadas após o caso Roe v. Wade, temos de confrontar o fato de que o aborto afetou as vidas de quase todos nós. É muito raro encontrar uma família americana que não sentiu o impacto do aborto de algum modo. Existe um desafio confrontando aqueles de nós que buscam restabelecer o respeito à vida. Temos de estar prontos, primeiramente, para estender o braço com amor incondicional às mulheres que estão considerando o aborto ou que cometeram o erro de permitir que seu filho fosse morto por um abortista. Para derrotar a cultura da morte, devemos confrontá-la com o amor de Deus”. “Devemos também recuperar o governo constitucional”, continua Julie. “Muitos ativistas pró-vida bem intencionados falham neste ponto. Muito freqüentemente somos convidados a agir como se a Constituição não existisse, e adotar uma abordagem política baseada em compromisso e gradualismo, em vez de princípio. O abortismo é enraizado em uma visão do ser humano e do governo que nega nossos direitos dados por Deus e exalta o poder de um Estado sem Deus; nega o império da lei substituindo-o pelos caprichos da elite política. A decisão Roe v. Wade não foi somente uma tragédia para os não nascidos, mas foi um ataque contra o governo constitucional, e os ativistas pró-vida precisam entender que a defesa do direito à vida requer a restauração do império da lei sob a Constituição”. Julie trabalha como Life Issues Advocate para o Family Research Council. Como membros da John Birch Society, ela e seu marido, Bob, trabalham para restaurar o governo constitucional e para desenredar a América da ONU. De acordo com Julie, “não podemos derrotar a cultura da morte se nossa nação continuar emaranhada na ONU. Por décadas os americanos viram seus impostos direcionados a grupos pró-aborto e eugenistas que espalham a cultura da morte por meio da ONU. A América já foi vista pelas pessoas do mundo inteiro como uma bênção; hoje milhões de famílias na África, Ásia e América Latina vêm maldizer nossa nação por financiar e promover a agenda antifamília da ONU”. “Alguns ativistas pró-vida e pró-familia clamam que podemos promover nossos valores trabalhando em conjunto com a ONU, mas isso simplesmente não é possível”, insiste Julie. “Não podemos vencer se aceitarmos jogar com regras definidas pelos inimigos de tudo o que defendemos. Eu não quero ir à casa do demônio e jogar pelas suas regras; Eu quero acabar com o jogo completamente. Este é o porquê de os americanos que apóiam o direito à vida não somente precisarem ajudar-nos a restaurar a Constituição, mas também acabar com a subserviência da nossa nação a uma cultura de morte, retirando nossa nação da ONU”. [1] Roe v. Wade é uma das mais famosas decisões da Suprema Corte dos Estados Unidos, que deu origem ao serviço de aborto sob demanda, isto é, bastando apenas que a gestante assim o queira, por quaisquer motivos alegados. O caso foi motivado por Norma McCorvey (“Jane Roe”) no Texas em 1970 que, sob direção do lobby abortista, reclamou o direito a aborto por ter sido estuprada por uma gangue, uma fraude inventada e depois desmascarada trinta anos após. Mesmo assim, a lei pró-aborto permanece vigente. |
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* Artigo originalmente publicado no jornal The New American em 17 de Janeiro de 2000.
Fonte: Tradução e notas de Gerson Faria, publicada no site MÍDIA SEM MÁSCARA - www.midiasemmascara.org
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