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O tráfico e a falta que a família faz

Eduardo Gama

No dia 1º de março (2006), o Fantástico apresentou o documentário Falcão – Meninos do tráfico. Embora tenha causado muita comoção, um fato parece ter ficado em segundo plano nas reportagens subseqüentes: todos os garotos traficantes tinham problemas familiares.

O grande ausente foi a figura do pai. Muitos revelaram terem se revoltado com o abandono paterno. Um garoto dizia que, aos dezessete anos, nunca tivera uma festa de aniversário. Outro, nem sabia quem era o pai. Um terceiro o conhecia, mas somente porque apanhava dele.

Os comentários feitos por personalidades e especialistas foram praticamente inócuos: mudança de políticas públicas, reflexão sobre o tema – de um modo genérico – ou simples lamentos. Contudo, em nenhum momento falou-se: “É preciso revalorizar a família”.

Para que não pareça um artigo de alguém que nunca viu essa realidade, permita-me o leitor contar uma experiência. Certa vez participei de uma atividade social com amigos em uma favela na Vila Santa Catarina, em São Paulo. Vimos os traficantes, a sujeira, o descaso público e tudo que qualquer um sabe. Porém, o que me chamou a atenção foi que, por um problema na nossa organização, uma mãe proibiu o filho de continuar a fazer parte das atividades. Fomos à casa da senhora.

Chegando lá, vimos um barraco precário. Quando entramos, tivemos uma grande surpresa. Por dentro, o barraco era simples, mas muito bem arrumado, com tapete, móveis antigos, porém conservados, e tudo muito limpo. Chocados, conversamos com a mãe do garoto. Soubemos que o pai arruinou e abandonou a família, esposa e cinco filhos por problemas com o álcool. Porém, tendo valores, a mãe tomou conta da família com mão de ferro. Cuidava atentamente de todos os filhos. Os mais velhos trabalhavam e o mais novo estudava. Às seis horas da tarde o menino de treze anos tinha de estar em casa, pois era a hora em que a favela se transformava.

Há pessoas que dizem que pobre não pode ter muito filho. Mas a experiência me mostrou o contrário. Pela coragem da mãe, os filhos mais velhos cuidavam dela e do mais novo, tanto financeiramente quanto, no caso do menino, tentando suprir a falta do pai.

Não há dúvidas que o problema do tráfico já existe e é preciso fazer algo pelos jovens que não têm família, incentivando o esporte e práticas profissionais. Porém, é urgente estimular os valores familiares, como a fidelidade no casamento, a educação dos filhos e outros tantos assuntos típicos de uma família que nem sequer passam pela agenda das instituições que procuram fazer algo para resolver a situação. Mesmo sem o pai, a mãe do rapaz soube cuidar com amor da sua família, sem permitir que os filhos sofressem pelas faltas do marido e não quis ter uma nova união. Quis ser a base daquela família.

O documentário Falcão – Meninos do tráfico teve o grande mérito de não esconder essa realidade. É preciso não escondê-la, sob pena de vermos a vida de muitos jovens sem qualquer rumo, esperando a morte em uma rua escura de favela.



 


 
Eduardo Gama, redator do Portal da Família e editor do informativo Em Foco (emfoconoticias.blogspot.com), é jornalista, publicitário e mestrando em Letras pela USP.  

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