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Coluna "Sala de Concerto"
A Lágrima de Mozart
Wellen de Barros

Uma súplica da fragilidade humana no mistério divino é o tema central no Réquiem de Mozart, jovem adulto agonizante entre ficção e realidade.

Seu questionamento sobre a meta certeira de toda a humanidade é quase um pedido de auto-misericórdia.

A voz na música de Mozart, especialmente nesse sacrifício de descanso ( Missa de Réquiem) , deve possuir características de leveza e agilidade, pois no geral, na obra de Mozart, subliminarmente encontramos uma crítica sarcástica aos valores e costumes de sua época, o que exige do intérprete um colorido vocal peculiar.

Seria a morte o fim de tudo? Essa é a pergunta que Mozart se faz ao compor o Réquiem, um pedido de perdão e ao mesmo tempo a tentativa de um diálogo entre Pai e filho. Um ajuste de contas?

O Kyrie, a prece de perdão, tem início com o timbre mais grave e, em seguida, percorre por todo coral como um cânone persuasivo de uma melodia suave, mas penetrante, em seguida; um Dies Irae dramático, onde o Dia da Ira está por vir de forma impiedosa e dilacerante; um Turba mirum, onde os solistas dialogam de modo estático, quase patético, expiação - para ressurgir, é preciso purificar até o ultimo instante, e assim merecer o doce refrigério no Criador; um Confutatis, sombrio com teor pessimista, mas ainda resta uma tentativa - suplicar acolhida entre os eleitos.

Mozart consegue vislumbrar dentro de seu delírio agonizante como seria sua vida definitiva. É como se ouvisse um coro de anjos à sua volta para o receber; então Lacrimosa surge como um último apelo de salvação eterna. Sua música é melancólica, é a lágrima que Mozart tem para oferecer como forma de arrependimento: perdoai–me, Deus meu piedoso Senhor Jesus, dai-me o descanso eterno. Amém.

Mozart morre antes de completar Lacrimosa, e ainda faltando completar os últimos números.

Ele, que pouco antes era capaz de compor uma ópera em quinze dias, a morte o encontra com a partitura incompleta. O pânico diante da própria morte talvez seja a melhor justificativa para o bloqueio que o impediu de concluí-la. Seu discípulo Franz Süssmayr, encarregou-se de terminar a obra do mestre.

 

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Wellen Barros - Primeiro Soprano integrante dos corpos artísticos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Coro). Preparadora artística de bailarinos premiados nos principais festivais de dança. Pesquisadora sobre música, dança, teatro e suas interpelações. Participante do grupo de estudo sobre o Dramaturgo William Shakespeare, sob orientação da maior especialista brasileira no assunto - Bárbara Heliodora. Administra o BLOG da primeira bailarina do Theatro Municipal - Cecília Kerche (Kercheballet - http://kercheballet.blogspot.com) e o BLOG Sala de Concerto (http://salaconcerto.blogspot.com).

E-mail: wellenmbarros@gmail.com

 

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