Portal da Família
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Voto de confiança |
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Sueli Caramello Uliano |
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Votar é antes de tudo depositar a nossa confiança em alguém. Com nossos parcos critérios, escolhemos e elevamos, à categoria de autoridade, um dos nossos iguais. O eleito torna-se um ser diferenciado, mas não por outro motivo que não seja servir antes e mais do que todos. Ser vereador, deputado, prefeito, governador ou presidente é ser basicamente um servidor público. É à causa, ou à coisa, pública que o eleito serve e não aos seus interesses. Serve ao povo e deve, num supremo esforço de disponibilidade, gastar-se pelo seu bem. Naturalmente, pode haver muitos caminhos nobres para a solução de problemas por vezes complexos. Caberá aí a discussão honesta, sincera, desinteressada, levada por uma única paixão: a de encontrar o caminho mais eficiente e optar pela conduta mais eficaz. Descartam-se, então, as opções equivocadas, as que ferem a ética e, conseqüentemente, a justiça. Quando se fere a ética? Fere-se a ética quando não se procura o bem, incondicionalmente. Portanto, fere-se a ética quando se favorecem grupos, quando se discriminam as pessoas por idade, raça, cor, religião, padrão econômico, opção política, quando,enfim, não se considera o bem que cada ser humano é, em si mesmo, desde a fase embrionária até a senil, tendo em conta as possíveis deficiências em relação a um padrão tido como normal. Vivemos hoje uma crise de confiabilidade. A nação sente-se traída. Num país com milhões de miseráveis famintos, ver circularem bilhões desonestamente é um soco no estômago. Daí a indigestão convulsiva toda vez que algum leve cheiro de pizza perpassava a Câmara. E agora, no horário de propaganda política, as interpretações que visam a culpar... as estruturas! Acreditem: a minha intenção não era falar de política, mas ao pensar em confiança, desandei para a confiança nas instituições. No fundo, vivemos na política a mesma crise de confiabilidade que permeia a sociedade como um todo. Vivemos no reinado da mentira, senão das meias verdades, o que dá na mesma. O fato é que desde cedo, desde a mais tenra infância, percebemos a nossa engenhosa capacidade de enganar a poucos e mesmo a muitos; reconhecemos a humana, e ao mesmo tempo desumanizante, possibilidade de mascarar-se, ter mesmo várias caras, levar uma vida dúbia, falsa, incoerente (ou várias vidas dúbias, falsas, incoerentes). Podemos ser de um jeito e aparentar ser de outro jeito. E percebemos que podemos justamente enganar aqueles que mais depositam em nós a sua confiança. Percebemos que podemos, mas percebemos também que não devemos. Há algo no fundo do homem que clama pela verdade, e de modo tão eloqüente que se poderia dizer que quanto mais afastado da verdade, menos o homem se reconhece homem. Poderá assumir imagens, constituir-se em invólucro, em vários invólucros, para múltiplas interpretações, uma caixinha vendável, reciclável até, cujo conteúdo varia conforme as conveniências. Sem identidade. Sem autenticidade. A saúde moral de uma pessoa não é mais que o esforço por ser coerente, por ser veraz, por ser sincero. Faz que nos perguntemos se dissemos o que devíamos ter dito, se agimos como devíamos ter agido, se enganamos um amigo, alguém que tenha depositado em nós a sua confiança, se atraiçoamos uma instituição, um povo, se mascaramos, se disfarçamos, enfim, se mentimos. Pode não ser fácil encarar-se com as próprias fraquezas. Mas fraqueza é compreensível. Vileza, não. E entre as duas, medeia a sinceridade. Ser sincero é ser “sem cera”, autêntico. A sinceridade faz o fraco forte. A mentira, o disfarce, o mascaramento fazem da fraqueza corrupção. E corrupção, já o nome o diz, corrói a vida moral, desagrega, destrói. Da família particular até a nação, que é a grande família, o Brasil vive momentos difíceis. Mentir tornou-se um hábito tão corrente que as pessoas parece não fazerem caso disso, ou pouco se importam de serem pegas mentindo. Já não coram! E, como é próprio da mentira, ela puxa outra mentira para sustentar a anterior, de modo que se cria uma verdadeira rede de falsidades que vai varrendo a esperança dos que percebem essas mazelas. Dizer a verdade já passou a ser perigoso, arriscado (já há quem tenha, em nossos dias, perdido o emprego, por falar o que pensa!). Porque dizer a verdade merece castigo, merece que o culpado por fazê-lo seja destituído de poder fazê-lo. Quando grassa a mentira, não nos enganemos, a verdade é perseguida, é depreciada, é combatida como um perigo crescente, por mecanismos cada vez mais violentos, que visam a preservar o poder da mentira, ou mesmo, a mentira no poder. E vai para o buraco o princípio elementar da garantia das liberdades individuais, que passa a ser ameaça... a quem? A quem mente para manter a mentira no poder. A população brasileira tem uma única saída, um único critério seguro para escolher candidato e para escolher os seus amigos íntimos: banir os mentirosos, sejam velhos, sejam novatos. Porque quem mente a enredará, cada vez mais, mentindo sempre e irreparavelmente, sufocando, inclusive, a possibilidade de que se diga a verdade. Não devemos, no entanto, perder a esperança, mesmo quando a confusão já começa a ser tão séria. Porque, se é verdade que a mentira enreda, não é mentira que a verdade sempre liberta.
Sueli Caramello Uliano - 18/08/2006 |
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Sueli Caramello Uliano , mãe de familia, pedagoga, Mestra em Letras pela Universidade de São Paulo, Presidente do Conselho da ONG Família Viva, Colunista do Portal da Família e consultora para assuntos de adolescência e educação. É autora do livro Por um Novo Feminismo pela QUADRANTE, Sociedade de Publicações Culturais. e-mail: scaramellu@terra.com.br |
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