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Coluna "Sala de Concerto"
Onegin
Wellen de Barros

Momento de Reflexão:

A principal Companhia de Ballet do Brasil, a do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, encerrou a temporada do ano de 2003 contemplando seu maior patrimônio cultural: seus integrantes.

Foi uma grande e merecida homenagem às duas divas internacionais do ballet no Brasil - ANABOTAFOGO e CECÍLIA KERCHE – viver a personagem Tatiana.

Duas personalidades distintas, viveram o drama de um dos mais respeitados escritores russos do séc.XIX, Alexander Pushkin.

“Eugene Onegin” propõe à humanidade uma reflexão sobre sentimento e ressentimento, egoísmo e generosidade, destino e fatalidade.

A temática deste drama está na impossibilidade de escapar a um destino adverso; na dificuldade em atingir a felicidade e numa ambigüidade das relações sentimentais entre pessoas predestinadas ao sofrimento.

A tragédia de Tatiana assemelha-se ao destino cruel e fatal de Tchaikovsky, ambos marcados pela vida nostálgica de uma “impossível felicidade”. Tatiana é o espelho no qual Tchaikovsky se reconhece.

Ana Botafogo, uma referência no mundo da dança, e Cecília Kerche, um perfil de bailarina russa, considerada por Natalia Makarova como melhor a Odette–Odile do mundo, são as duas divas que justificam a tradição do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Nessa temporada de Onegin tivemos emocionantes atuações, não só referentes à personagem principal, mas também à de Olga, interpretada por Roberta Marquez que ficará na história desse Theatro. Sua jovialidade não velou a maturidade artística de uma primeira bailarina, com uma atuação impecável do início ao fim de uma artista consciente da sua missão.

André Valadão, com sua luminosidade artística, dignifica seu personagem, o que o torna uma presença sempre marcante. Vítor Luiz personifica o poeta Lensky com sua docilidade e desempenho esmerados.

Francisco Timbó, vivendo Onegin, é só dedicação e entrega ao viver um grande personagem.

Marcelo Misailidis, também no papel de Onegin, é um intérprete por excelência que ajuda a escrever a história deste Theatro. Outra atuação jovem é a de Bruno Rocha como Lensky, assim como a de Cristiane Quintan, no papel de Olga.

Um momento feliz e de grande emoção nesse ballet é a atuação de Carlos Cabral, no papel do Príncipe Gremin, um verdadeiro nobre protegendo uma diva, no Pas-de-Deux do terceiro ato - uma cena linda!

Joseny Coutinho demonstra sua empatia com a serenidade de seu personagem através de um belo desempenho.

E o corpo de baile, com diagonais perfeitas, enobreceu o espetáculo com uma atuação impecável.

Ana Botafogo e o drama de Tatiana

Ana Botafogo vivenciou o romance de Pushkin, trouxe ao público uma Rússia de temperamento passional, porém tudo vivido com a experiência de uma grande intérprete, que captou a verdade de sua personagem.

Sua Tatiana manteve o vigor de um temperamento enérgico sob vestes européias, servindo-se da maturidade de uma diva, que direcionou sua personagem com delicadeza e inteligência. Sua emoção, mais burilada no terceiro ato, premiou o expectador com o desfecho da renúncia desesperada à suposta felicidade de um grande amor.

Cecília Kerche : Uma brasileira de coração eslavo.

Cecília Kerche emprestou sua elegância clássica para viver a personagem mais amada por Tchaikovsky.

Seu percurso em Tatiana é comovente, tamanha a afinidade de ambas. Sua aparição logo no primeiro ato nos conduziu à atmosfera do temperamento russo de sua personagem.

No monólogo da carta, momento alto deste ballet, essa brasileira de coração eslavo, através do sonho de sua personagem, transmite o que Rudolf von Laban chama de: movimento–pensamento–sentimento.

A expectativa de Tatiana em relação ao amor de Onegin, a exaltação e a melancolia foram vividos, não apenas no desejo de sua personagem, mas no que se passa interiromente na alma de Tchaikovsky.

Cecília Kerche foi naturalmente fiel à concepção de John Cranko sobre o drama de Pushkin, sem perder o romantismo envolvente da música de Tchaikovsky.

No terceiro ato, a sensatez de Tatiana, revivendo o passado e renunciando ao futuro, é o ápice da maturidade da intérprete que atualiza uma fatalidade.

Profundamente comprometida com sua arte, Cecília usufruiu de uma sensibilidade estética que norteou sua performance.

Solidão sublimada na vida real, amor eterno na ficção - este é o destino de Tatiana.

 

 

foto ballet onegin

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Wellen Barros - Primeiro Soprano integrante dos corpos artísticos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Coro). Preparadora artística de bailarinos premiados nos principais festivais de dança. Pesquisadora sobre música, dança, teatro e suas interpelações. Participante do grupo de estudo sobre o Dramaturgo William Shakespeare, sob orientação da maior especialista brasileira no assunto - Bárbara Heliodora. Administra o BLOG da primeira bailarina do Theatro Municipal - Cecília Kerche (Kercheballet - http://kercheballet.blogspot.com) e o BLOG Sala de Concerto (http://salaconcerto.blogspot.com).

E-mail: wellenmbarros@gmail.com

Publicado no Portal da Família em 28/09/2006

 

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