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CONFORMISMO E MATURIDADE MORAL  | 
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Teresa Maduro Gonçalves  | 
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O conformismo é uma característica marcante de todos nós que vivemos em grupo e que tendemos a comportarmo-nos e a pensar de acordo com as tendências dominantes do grupo em que nos integramos. A pressão do grupo é fortíssima e  praticamente irresistível. O mesmo acontece com os líderes naturais ou  fabricados, que detêm influência e poder, sejam eles artistas, filósofos,  políticos ou santos, os quais conformam as tendências dominantes dos grupos.  Algumas vezes, trata-se de uma pressão que conduz a um comportamento  equilibrado, sociável e, até, humanitário. Um exemplo desta pressão resultou na  mobilização massiva do povo português em favor da causa de Timor. Outras vezes,  é uma pressão que conduz 
  a erros terríveis que marcam a história: foi o que  aconteceu com a terrível regressão humanitária, quando quase meia nação  colaborou, de forma organizada, no holocausto nazi.  A  plenitude do desenvolvimento humano tem de superar as normas e o poder do grupo  e de alguns líderes, configurando-se como uma capacidade de pensar e julgar de  forma profética e dissidente, sempre que tal seja necessário ao progresso mais  dignificante da Humanidade.  O  conformismo tem sido comprovado através de algumas investigações. Uma  experiência famosa, de Stanley Milgram, mostra, de forma assustadora, o poder  do conformismo aliado à falta de maturidade moral. Nesta experiência, as  pessoas investigadas foram instruídas no sentido de «seguirem exactamente as  ordens» dadas por um investigador científico. Foi-lhes dito que iriam dar uma  série de choques eléctricos fortes a uma «vítima» inocente que se encontrava  numa sala ao lado da sua. As pessoas investigadas podiam ouvir a «vítima»  gritar assustada cada vez que premiam o botão com a designação de «alta  voltagem». (Claro que, na realidade, a suposta vítima fazia parte da  experiência e não estava, efectivamente, 
ligada à corrente eléctrica. Mas isso,  os sujeitos investigados não sabiam.) Apesar dos gritos de angústia e dos  pedidos da «vítima», o cientista insistia para que a pessoa investigada  continuasse a aumentar a voltagem até atingir 450 volts. O painel de comando  mostrava 30 níveis de voltagem, de 15 a 450 volts, e tinha inscritos avisos  como «Perigo» ou «Choque violento». Os sujeitos investigados tinham observado a  «vítima» a ser amarrada à cadeira eléctrica e podiam ouvir claramente os seus  gritos. No entanto, investigados um a um, um total de 65% dos sujeitos estavam  dispostos a administrar o máximo de 450 volts. Ou seja, quase dois terços dos  sujeitos estavam dispostos a correr o risco de causar a morte de outra pessoa,  sob a autoridade do cientista. E  quem eram os sujeitos desta experiência? Seriam agentes do nazismo treinados  nalgum laboratório sádico? Nada disso. Na realidade eram apenas cidadãos  americanos normais, de todas as origens sociais, com idades entre os 20 e os 50  anos. Esta experiência demonstrou que a maioria das pessoas não chega a atingir  um estádio superior de desenvolvimento moral.  Lawrence  Kohlberg identificou seis estádios de desenvolvimento moral que caminham de um  nível máximo de egocentrismo e conformismo, até um elevado grau de altruísmo e  autonomia. No primeiro estádio domina a preocupação consigo mesmo e a  obediência ao poder dominante. No segundo estádio, o outro interessa de forma  instrumental, na medida em que pode beneficiar o sujeito. Predomina uma  orientação materialista e hedonista. No terceiro estádio começa a haver  preocupação com o grupo de pertença e predomina o conformismo às normas do  grupo. No quarto estádio, há preocupação com a ordem da sociedade e a honra e o  dever resultam da manutenção da ordem da sociedade. O quinto estádio prolonga o  
estádio anterior e reforça o poder social; os valores são decididos pela  sociedade e apenas a sociedade pode alterar as normas, através do consenso de  todos. Aqui o que domina é uma orientação legalista, convencional e de contrato  social. No sexto estádio, princípios éticos universais, de justiça, respeito  pela vida e igual dignidade de todos os seres humanos, estão acima de qualquer  lei. As pessoas que atingem este grau de maturidade são capazes de afrontar as  próprias leis, a mentalidade dominante, e assumir até o sofrimento de uma  dissidência profética e quase solitária. É o caso de um Ghandi, um Martin  Luther King, um Abraham Lincoln, uma Madre Teresa de Calcutá, um Francisco de  Assis, para citar apenas alguns exemplos de, felizmente, uma 
multidão de outros  que a Humanidade fez germinar ao longo de séculos de História.  Interessa-nos  muito o que diz cada uma destas vozes relativamente ao seu tempo e ao nosso  tempo. Ouvir estas vozes ilumina-nos agora e sempre, pois eram e são vozes  autónomas e insubmissas relativamente às vicissitudes e convenções do seu  tempo, independentes da aprovação ou dos aplausos, guiadas por princípios  éticos universais e intemporais.  Abraham Lincoln nos seus célebres debates com um dos mais poderosos senadores da altura, Stephen Douglas dizia: «Eis o  verdadeiro centro do problema. O problema que irá continuar mesmo quando eu e o  Juiz Douglas já não pudermos falar. Trata-se do eterno conflito entre o bem e o  mal. Estes são os dois princípios que se enfrentam desde o princípio dos  tempos. E continuarão em luta. O primeiro é o direito comum da humanidade e o  outro é o direito dos poderosos e dos reis. É o mesmo princípio, qualquer que  seja a forma em que se manifeste – quer venha de um rei que quer dominar o  povo, quer venha de uma raça de homens que quer escravizar outra raça, é sempre  o mesmo princípio tirânico. (…) A escravatura, eu sei que ela existe e 
  existirá  por muito tempo. Mas digo que fortalecê-la na lei, alargá-la e perpetuá-la é um  erro. Temos de resistir-lhe por todas as formas, temos de resistir-lhe como a  um mal, com a ideia firme de que a escravatura tem de ter e terá um fim. (…)  Aqueles que negam a liberdade a outros não a merecem para si próprios e,  perante um Deus justo não a conservarão por muito tempo.» Podemos  aplicar estas afirmações de Lincoln a qualquer situação em que se ignora ou se  quer obscurecer os direitos dos mais frágeis com múltiplos argumentos para  conferir legitimidade ao que não pode tê-la. Cada vida humana é sempre uma  surpresa, uma maravilha única e irrepetível de valor extremo. Nenhum povo é  beneficiado, nenhuma mulher é ajudada ou dignificada, através do sacrifício de  vidas humanas nascentes.  O que pensa Madre Teresa de Calcutá, relativamente ao problema que está na ordem do dia neste momento? Dela transcrevemos, um excerto do seu discurso proferido nas Nações Unidas, por ocasião da “Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento”: «Cada um de nós está aqui hoje porque fomos amados por Deus que nos criou e pelos nossos pais que nos aceitaram e gostaram suficientemente de nós para nos darem a vida. A vida é o maior dom de Deus, que criou um mundo suficientemente grande para todas as vidas que ele deseja que nasçam. Só os nossos corações é que não são suficientemente grandes para as desejar e aceitar. Como seria bonito se todo o dinheiro utilizado para encontrar formas de matar pessoas fosse utilizado, em vez disso, para as alimentar, acolher e educar. Temos demasiadas vezes receio dos sacrifícios que devemos fazer. Mas onde há amor, há sempre sacrifício e quando amamos até nos fazer doer, há sempre alegria e paz. Se admitirmos que uma mãe possa até matar o seu próprio filho, como é que nós temos autoridade para dizer aos outros que não se matem mutuamente? Com o aborto, está a dizer-se ao pai que ele não precisa de assumir qualquer responsabilidade pelo filho que trouxe ao mundo. E é muito provável que esse mesmo pai possa colocar outras mulheres perante a mesma situação difícil. Assim, o aborto conduz a mais abortos. Qualquer país  que aceite o aborto não está a ensinar o seu povo a amar, mas ensina-o sim a  recorrer a qualquer tipo de violência para alcançar o que pretende. É por isto  que o maior destruidor do amor e da paz é o aborto. Estamos a combater o aborto  pela adoção – cuidando da mãe e adotando a criança. Salvamos milhares de  vidas. Por favor, não matem o bebê. Dêem-me esse bebê. Estou disposta a receber  qualquer bebé que pretendam fazer abortar e a entregá-lo a um casal que o amará  e será amado por ele. Só na nossa casa de Calcutá salvámos mais de 3000  crianças de abortos. Estas crianças trouxeram muito amor e alegria aos seus  pais adotivos e, por sua vez, cresceram no meio de amor e 
alegria. Para mim,  as nações que legalizaram o aborto são as nações mais pobres.» O  nosso Primeiro Ministro tem surgido como interveniente ativo na campanha do  Referendo (* N.E. * Referendo de 11 de Fevereiro de 2007 votado em Portugal sobre o aborto até a décima semana de gravidez). Ele certamente não desconhece o poder que tem a voz de um líder  sobre a conformação do pensamento de um povo. Na verdade, para uma boa parte  dos portugueses, aqueles que detêm o poder, seja este poder político,  científico ou cultural, detêm também uma voz influente, para o bem e para o mal  pois, como demonstra a experiência descrita no início deste artigo, só uma  pequena percentagem de pessoas alcançou maturidade e autonomia moral que as  preserva das influências sociais mais poderosas.  Há  respostas bem melhores ao problema do aborto clandestino, do que garanti-lo  como se fora um direito, no nosso quadro legal. Não vamos consagrar na lei como  direitos os atropelos que continuam a ser perpetuados na clandestinidade, como  a poluição dos rios e dos mares, o desrespeito pelas espécies em vias de  extinção ou o tráfico de estupefacientes. Tentamos combater estes males de  múltiplas formas, mas não os legitimamos. É sempre melhor prevenir, optar por  respostas que acarinham a vida e a promovem de múltiplas formas: o cuidado com  as nossas maternidades, a prevenção das doenças e dos males sociais, a  protecção no emprego às mães, as licenças de maternidade e paternidade que  permitam um melhor acompanhamento da criança, 
o incremento dos subsídios de  natalidade, os cuidados médicos pré-natais e pediátricos, a educação das mães e  pais e dos futuros pais e mães, a estimulação educativa na primeira infância,  uma educação de qualidade… Todas estas e outras medidas podem prevenir muitas  chagas sociais e evitar muitos gastos futuros em situações de difícil remédio.  O  melhor serviço que se pode oferecer a um povo é ajudá-lo a pensar e a intervir de  forma autónoma; a melhor educação é a que leva a atingir a plena maturidade  moral, aquela maturidade que não está nas ondas, nas modas, nas maiorias ou,  até, no receio de alguns epítetos, tais como “fundamentalista”,  “obscurantista”, “retrógrado”, “medieval” ou “radical”, “moderno”,  “progressista”…   A maturidade moral de um povo, o seu pioneirismo civilizacional revela-se no respeito profundo por valores éticos universais e intemporais como a justiça, a equidade, a liberdade e a vida, em qualquer fase do seu desenvolvimento. A modernidade de um Estado pode ser bem demonstrada pela sua capacidade de defender os mais fracos e indefesos de qualquer ameaça que comprometa o seu futuro, de garantir direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e de acolher e promover a vida como tarefa prioritária e primordial.  | 
    
         
 
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Teresa Maduro Gonçalves, de Portugal Publicado no Portal da Família em 24/02/2007  | 
    
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