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Marcelo Guterman

Coluna "Finanças em Família"

Seu casamento é café com leite ou água com óleo?

Marcelo Guterman

Uma das muitas decisões que os casais devem tomar quando decidem se casar é o modo como administrarão sua vida financeira em comum. Esta decisão passa, necessariamente, pela forma com que tratarão suas contas bancárias: conta conjunta ou separada?

A tendência atual, principalmente quando ambos os cônjuges têm seus empregos, é a de manter as contas correntes separadas. Cada um acostumou-se a ganhar seu próprio dinheiro, e é difícil agora misturar as coisas. As contas separadas permitem que cada um mantenha sua própria independência em relação ao cônjuge. Em alguns casamentos, um sequer toma conhecimento de quanto o outro recebe por mês. Isto não significa que não possa haver projetos em comum. A compra de um imóvel, ou de um eletrodoméstico, pode ser dividido entre os cônjuges, cada um contribuindo com a sua parte. Neste tipo de planejamento financeiro, geralmente as despesas em comum (luz, aluguel, etc) são atribuídas a um dos cônjuges (isto eu pago, aquilo você paga).

Este é um fenômeno relativamente recente, e coincide com a intensificação da participação da mulher no mercado de trabalho. Recebendo seu próprio salário, a mulher faz questão de manter sua independência com relação ao marido quando se trata de dinheiro. Mesmo porque, a perspectiva do divórcio é naturalmente aceita desde o momento do “sim” diante do altar, e uma conta conjunta é sempre um empecilho extra para o caso do “amor acabar”. É o chamado casamento “água com óleo”. Os dois estão juntos, mas não se misturam. Cada um continua na sua, vivendo como quando eram solteiros, mas sob o mesmo teto.

Minha hipótese é a seguinte: há mais chances de um casamento “conta separada” terminar do que um casamento “conta conjunta”. Não porque a conta separada leve necessariamente à separação. Mas simplesmente porque a mentalidade por trás da conta separada carrega em si o germe da separação. Ao dar valor excessivo à própria independência, os cônjuges provavelmente estarão menos predispostos a suportar o que é próprio do casamento: abrir mão de seus pontos de vista, buscar o bem do outro e não o próprio, anular-se. Ao não querer abrir mão da independência financeira, os cônjuges podem estar a demonstrar que não estão dispostos a abrir mão de coisas ainda mais importantes do que o dinheiro para que um casamento seja duradouro.

Um casamento sadio é como “café com leite”. O café e o leite misturam-se definitivamente, e não há como separá-los. A conta conjunta é a tradução financeira de um casamento que começa com o pé direito. O cônjuge mais organizado toma conta da conta, mas isto não significa que deva ser o único a ter acesso aos números. As decisões de gastos devem ser tomadas em conjunto, sempre. E o cônjuge que não controla a conta deve ser informado sobre a situação financeira da casa.

Uma conta conjunta não é garantia de harmonia no lar. Aliás, pelo contrário, pode ser fonte de graves desentendimentos, se os cônjuges insistirem em manter suas respectivas independências. Neste caso, a conta separada evitaria estes desentendimentos, pelo menos na esfera financeira. Desentendimentos de outras naturezas, porém, não são assim tão fáceis de serem resolvidos, a não ser pela separação em outros âmbitos além do financeiro. E aí, de separação em separação, o casamento acaba... em separação!

Por isso, se a conta conjunta não é garantia de harmonia, é pelo menos um bom sinal de que os esposos estão verdadeiramente dispostos a compartilhar uma vida a dois.



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Marcelo Guterman é CFA (Chartered Financial Analyst),  Engenheiro, Executivo do mercado financeiro, Professor do MBA de Finanças do IBMEC e pai de 7 filhos. É criador do Blog do Dr. Money, onde passa conceitos e dicas sobre Finanças Pessoais de maneira leve e divertida (www.drmoney.com.br).

e-mail: marcelo.guterman@uol.com.br

Publicado no Portal da Família em 24/02/2007

 

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