Portal da Família
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Bom humor em família |
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Ricardo Regidor |
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Há um ditado que afirma: “os filhos são a alegria do lar”. Contudo, os que têm filhos pequenos – e nem tão pequenos – experimentam a tensão contínua que supõe o esforço por educar bem os filhos. Pode ser que estejamos tão focados em ajudá-los a portar-se corretamente, a adquirir bons hábitos que nos esqueçamos ser também necessário brincar e rir... De fato, nossos filhos precisam de autoridade e disciplina, mas a infância também precisa de tempo para rir. Quase é possível dizer que é a época do sorriso: fácil, espontâneo, contínuo, por bobagens... feliz. Encontram-se na fase sensitiva para fazer do bom humor uma forma de ser, uma postura perante a vida. Fomentá-lo os ajudaria a contar com recursos para superar problemas e desgostos. Nossos filhos serão capazes de enfrentar as dificuldades da vida, mas também serão capazes de recordar a infância como uma época feliz, como anos de sorrisos contínuos (ao lado da nossa exigência, que é igualmente necessária). Para que isso ocorra, é preciso aprender a rir em família. Lares com poucos sorrisos Os filhos precisam de um ambiente no qual, habitualmente, está presente o bom humor. Quando isso não acontece, o lar mergulha pouco a pouco em um torpor parecido à tristeza, que nunca é produtiva nem diminui em nada os problemas. Provavelmente, já não há mais famílias severas como as que figuram nas novelas de Charles Dickens, na qual as risadas estavam proibidas e consideradas quase como algo desonesto. Entretanto, podemos nos identificar mais com aqueles pais que chegam cansados do trabalho e que só tem vontade de ver televisão, ler jornal ou limpar o cachimbo. Ou com aqueles pais, talvez já com mais de quarenta, que pensam não ser mais da sua idade brincar e rir com os filhos. Ou com aqueles pais, bons, tranqüilos, nada agressivos... mas habitualmente sérios que nem sabem sorrir. Divertir-se Para ganhar o afeto dos filhos é necessário que nós deixemos os problemas de lado. Assim como nos propomos a beijar a esposa ao chegarmos, também nos decidimos a sorrir. Estar de bom humor não custa tanto e, além disso, é muito mais gratificante. É preciso se esforçar por sorrir, ainda que por vezes seja difícil. Desta forma, se enraizará no caráter um sólido sentido do bom humor. Os filhos amam os que têm tempo não só para ensiná-los, mas para se divertir com eles. Para isso, podemos procurar as mil e uma ocasiões da vida cotidiana para transformá-las em risadas, ou seja, para rirmos com nossos filhos. Como rir Quando nossos filhos eram menores, inclusive bebês, nós os ensinamos a rir fazendo carinhos, cócegas, massagens, etc. Pois nós somos os mesmos e eles também e, talvez agora, com oito ou dez anos, continue sendo engraçado um gracejo característico (cada um tem o seu). É o momento para continuar a rir em família, com mais freqüência e com as mais simples “bobagens”: ante as perguntas impertinentes ou ingênuas das crianças, ante o resultado desastroso de uma torta preparada por eles... Observar os pais rindo habitualmente – e sérios e preocupados quando for o caso, ainda que sem perder a serenidade – irá ajudá-los a adquirir as bases de uma personalidade segura. Humoristas profissionais Os filhos são excelentes humoristas e têm sempre muita vontade de rir. Podemos nos aproveitar desta característica com freqüência. Uma situação tensa pode ser solucionada com um gesto do pai simulando a atitude impetuosa do filho ou com uma frase espirituosa da mãe. Muitas vezes, um pouco de humor será útil para salvaguardar o tesouro da autoridade ao não ter de exercê-la. O humor serve para relaxar um ambiente tenso e lubrifica as engrenagens da autoridade. Não pensemos que devamos ser muito criativos ou que passemos o dia todo contando piadas. Mas sim procurar, de vez em quando, frases amáveis e divertidas, comparações precisas e oportunas e até mesmo imitar as atitudes deles pode servir para que verifiquem a desfaçatez e mesmo o ridículo de muitos de seus comportamentos. O que não podemos é ter complexo ante a realidade da nossa carência de dotes interpretativos e perspicácia mental para contar piadas ou fazer gestos e dizer frases. Atuamos frente a um público já predisposto a nosso favor. Confiança O ambiente alegre é propício à confiança e à confidência. Talvez desta forma possamos entrar em detalhes que, de outra forma, nos seriam inacessíveis. Além disso, o humor permite sempre uma saída elegante em nossas repreensões e castigos: o humor é um sinal visível de carinho, que se traduz no desejo de fazer chegar suavemente uma mensagem. A alegria e o otimismo do nosso lar devem estar centrados no amor. Resumindo... Sempre há “momentos tolos” ao longo do dia (viagens, fila no supermercado) nos quais é possível aproveitá-los para fazer rir aos filhos, recordando alguma história divertida, contando alguma piada, dizendo alguma frase espirituosa... É possível surpreender os filhos com “loucuras”: atuar como Romeu e Julieta com a esposa ou marido, imitar com a voz certos personagens, ou aprontar alguma durante o jantar. Não é preciso dinheiro para se divertir: pode-se pedir emprestada uma barraca ou ir acampar em algum lugar; ou brincar com bexigas d’água no verão. O humor e o otimismo são fatores muito importantes para avivar a inteligência. É bom propor aos filhos que eles organizem uma saída familiar ou uma tarde especial... mas é bom estar disposto a agüentar tudo com sorrisos e bom humor. Pode acontecer que as piadas contadas pelas crianças não tenham graça. Ao menos, é possível tentar escutá-los e rir para que pouco a pouco vão aprendendo a se soltar. É um bom modo para que se acostumem a falar em público. É preciso ensinar os filhos a desfrutar de coisas simples e cotidianas da vida. Fazer de um passeio dominical uma aventura, aproveitar a conversa ou um jantar... Também é preciso deixar claro que a vida não é somente rir a toda hora; há situações (visitas, momentos de descanso) nas quais é preciso saber se comportar, o mesmo em conversas sérias, como, por exemplo, sobre os estudos. Fazer, de vez em quando, uma “super noite familiar”: juntar todos na sala de estar e contar histórias, piadas, comendo pipoca... É muito divertido. Os mais destemidos podem, inclusive, acabar dormindo ali, em colchões ou sacos de dormir. |
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RICARDO REGIDOR é licenciado em Ciências da Informação e redator chefe da revista educativa especializada Fazer Família. Em suas páginas publicou numerosos artigos sobre educação e o mundo infantil. Dirige uma coleção de literatura infantil, publicou um livro de contos para crianças e é monitor de tempo livre, como voluntário, em uma organização para os menores. Pensa que os pais hão de voltar a tomar consciência de que a educação de seus filhos é coisa deles, e que há que realizar um esforço maior por fortalecer a família e os laços afetivos que se criam nela. Publicado no Portal da Família em 25/04/2007 |
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